Sobre

Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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Revendo 2008 / Prevendo 2009

23 dezembro 2008

Não sei porque insisto em publicar minhas "previsões" todo final de ano. Previsões com aspas porque a grande maioria é mais uma lista de desejos do que qualquer outra coisa. Cansei de "prever" a queda do Ballmer e a aquisição da Adobe pela Apple. Cansei de pedir um movimento de consolidação das distros Linux. Cansei de imaginar a aquisição do Yahoo pela MS. Ou seja, cansei de dar varada n'água. Se acertei um chute no final de 2007 foi apenas a crise financeira. Meio acerto, porque achava que só o hemisfério norte sofreria com a recessão nos EUA. A crise é bem maior do que eu esperava. E ela muda muita coisa.

Analistas estão falando que TI, apesar de tudo, crescerá no mundo todo. Algo em torno do dobro do PIB de cada nação. Não sei se são irônicos ou bobinhos: quanto é o dobro de zero? Porque zero será o crescimento médio do primeiro mundo, EUA e UE.

O PIB de Pindorama, apesar do Meirelles, deve ficar mesmo entre 3% e 4%. Então nossa turma de TI pode trabalhar com números entre 6% e 8% de crescimento. Pode? Não acredito.

O perfil da maioria de nossas médias e grandes empresas, quando o assunto é TI, é muito conservador. Em tempos de crise então, espere racionamento até no "feijão com arroz". Esqueça upgrades e projetos big bang. 90% do orçamento de TI irá exclusivamente para manutenção. E os 10% restantes formarão uma "poupancinha"... grana que só será gasta lá no final de 2009, se tudo estiver "sob controle".

Pouquíssimos fornecedores têm chance de ganhar alguma coisa neste tipo de cenário. Só 5 letrinhas pintaram na memória: IBM e HP, necessariamente nesta ordem. MS, Dell, Lenovo, Sun e afins são aquelas que mais perdem. Sem upgrades a vista (sem trocadilhos), é de se esperar quedas em receitas de até 50%. Tô brincando não.

Tanto que até me animei a um novo chute do tipo "quem come quem": a Cisco, para quem a crise parece ser só marolinha, pode se reposicionar. Parece besteira, mas quem tem US$ 26bi em caixa pode pensar em uma bela aquisição. De uma Sun, por exemplo. Monopólio cansa, e a Cisco deve estar louquinha por oxigênio e dólares novos. E a Sun tá uma pechincha. Acho que tem tudo a ver. Aliás, Apple e Adobe também tem tudo a ver e não dá em nada... Então, deixa pra lá.

Por falar em Apple: 2009 deve ser um ano difícil para a empresa de Cupertino. Não só nas vendas que devem cair, mas parece inevitável que a Apple comece a tratar do problema chamado "Jobs". A Apple precisa provar que a sua criatividade não se limita ao departamento de design.

Encerro a parte internacional com a maior barbada de 2009: a Google seguirá sendo a Google. Com as sementes (Docs e Android, principalmente) devidamente plantadas, chega a hora da colheita. Momento melhor impossível. Se em Redmond, nem uma caixa inteira de Lexotan me daria 15 minutos de sono...

.:.

E o mercadinho de Pindorama, como ficará em 2009? Monótono, como sempre. Se dependermos só dos malvados chatos de plantão para dar uma bela mexida, seguiremos como nerds em raves - uns postes.

Ok, preciso mirar melhor meu azedume: na redação do parágrafo acima pensei exclusivamente nas nossas "grandes" empresas de TI, ok? Depois de tanto tempo descendo a lenha nelas, deveria gastar meu tempo com um único veredicto: deviam baixar as portas, vender suas carteiras de clientes para papões de fora e jogar sua carteirinha de produtos em algum aterro sanitário. Geração perdida é isso aí!

Ar novo tá no interior. Está também em pequenas e médias empresas que bravamente sobrevivem. E heroicamente resistem ao canto de sereias malvadas. Mas elas não ganham um mísero espaço em nossa prensa especializada. Não merecem sacos de bondades dos governos de plantão. Mas não é hora de bancar as "coitadinhas".

É hora de um pouco mais de ousadia. É hora de parar de olhar para nossas grandes empresas de TI como se elas servissem de modelo. Não servem. Esqueçam PMI, CMMI, MPS.br e besteiras afins. É fácil: basta lembrar que Google, Apple e outras do mesmo naipe não dão a mínima para essas coisinhas.

É hora de criar um mercado totalmente novo. Temos uma nuvem tupiniquim totalmente virgem por aí. Não sei se repararam, mas a "nuvem" muda tudo. E quem tá correndo atrás? Nossas "grandonas" mal conseguiram portar seus produtinhos para um ambiente SaaS. Produto fraco e antigo seguirá fraco e antigo, mesmo com uma roupinha nova.

Resumindo: há um imenso oceano azul de oportunidades aí fora. Não vê quem não quer. Não aproveita quem tá esperando bóias sinalizadoras e coletes salva-vidas.

Laércio, O Sanguinário

22 dezembro 2008

Volta e meia a EXAME gosta de falar do cara que não gosta de falar, Laércio Cosentino, o poderoso chefão da Totvs. A última edição traz uma matéria de 3 páginas - uma só com uma baita foto do Laércio, o Belicoso. "Ele é Duro na Queda", diz o título. Queda? Apesar da perda de 37% do valor na Bovespa, a matéria não trata de caídas. Não do Laércio, o Implacável. Mas dá destaque para o destino dos caras que foram papados por ele nos últimos anos.

Álvaro Junckes, da Logocenter, Rodrigo e Henrique Mascarenhas, da RM e Jorge Steffens da Datasul - todos pularam da barcaça Totvs. Todos saíram brigados, brigando com Laércio, o Fenômeno. Todos insatisfeitos com os ventos pós-fusão. Bem feito! Não foi por falta de aviso.

Laércio, o Incomensurável, desde que era apenas um micro-empresário e escritor já desfraldava sua filosofia de vida. Em um livrinho de dBase II ele fez questão de citar Mário Palmério:

Costumo dizer que você mede o prestígio de um homem pelos inimigos que ele tem. Os bonzinhos em geral não fizeram nada. Aliás, se verificar que tenho mais inimigos que amigos vou ficar muito satisfeito.


Laércio, o Mau, deve viver satisfeitíssimo. Apesar da frágil estratégia monotemática e monótona que guia suas ações. O que parece importar para Laércio, o Sanguinário, é a lista de notórios inimigos.

Modelos & Modelos

15 dezembro 2008

Rapidinha, direto de Floripa (é raro eu postar de longe).

A Veja da semana tem uma matéria especial sobre a Google. Extensa, mas sem nada de novo. Ontem, durante o vôo pra cá, folheei desconfiado a última edição da Fast Company. Não comprava essa revista desde o estouro da bolha, lá no início da década. Faz tanto tempo que nem lembro mais porque a risquei da minha lista de leituras mais ou menos frequentes. Me chamou a atenção a chamada no topo da capa, um projeto do ator Edward Norton (Clube da Luta).

Antes de chegar lá tropecei na matéria da capa, sobre John Chambers e o modelo de gestão que adotou na Cisco. A desconfiança aumentou, quando li que Chambers pode tornar Jack Welch obsoleto. Não que eu seja fã do estilo Welch, mas é claro que soou exagerado. Exagero que me prendeu na matéria. Web 2.0, blogs, wikis e intranets com a cara e o jeitão de redes sociais públicas. "Você não precisará nunca mais do CEO!". E, em outro momento, Chambers dizendo: "há pouco tempo eu tinha uns 2 ou 3 candidatos ao meu posto. Hoje eu tenho uns 500!". O Radical do título, definitivamente, não é um exagero.

Colaboração e Inovação, prova a matéria, são rotina na Cisco. Uma empresa que recebe a atual crise como uma "marolinha". US$ 26 bi em caixa é um dos fatores que geram tranquilidade. Mas é o portfólio de produtos e serviços que dá certeza de... estabilidade! Ok, hesitei na última palavra. É paradoxal. Mas é isso mesmo: a Cisco entende que "mudança corporativa é um pleonasmo que virou oxímoro" (brincadeirinha minha com uma frase-provocação de Michael Hammer).

A arquitetura de negócios da Cisco merece mais e melhores estudos. Enquanto o modelo da Google virou "carne de vaca". Tá em tudo quanto é lugar.

Nossa capacidade para detonar boas idéias parece realmente inesgotável. A penúltima incomensurável detonação aconteceu com CRM (Gerenciamento do Relacionamento com Clientes), lá no início do século. Aquela boa sugestão de estratégia, que não serve para qualquer empresa, se transformou em dispendiosas caixinhas e balelas nocivas como nossos serviços de telemarketing. Ainda restam sobreviventes. Existem teimosos porque a proposta CRM é realmente inevitável. Principalmente para empresas cuja estratégia se baseia em soluções completas ou aprisionamento - ou seja, para empresas que realmente dependem de um excelente gerenciamento da relação com seus clientes para realizar sua missão. O papo é meio 'heavy' mesmo, com alguns termos 'especialistas'. Mas, para bons entendedores, meus pingos devem ser suficientes.

Falemos, então, sobre nossa mais recente tentativa de assassinato: BPM, de Business Process Management ou Gerenciamento de Processos de Negócio. A proposta gira por aí de uns 5 anos para cá. Agora parece estar morro acima, com maior interesse e mais gente falando em sua adoção. Na penúltima EXAME (Edição 932, 3/dez) por exemplo, há um pequeno quadro comentando uma pesquisa realizada com 98 empresas tupiniquins como Pão de Açúcar, Claro e Siemens. 71% das empresas estão falando que investirão mais em BPM no ano que vem. 27% torrarão a mesma grana gasta em 2008. E apenas 2% falam em redução do orçamento. O artigo não menciona se a pesquisa aconteceu antes ou depois de nosso mais recente "crash", mas isso não importa. O que importa é que muita grana dos orçamentos de TI fluirá para iniciativas BPM. Isso é bom?

Seria, se não estivéssemos fazendo tudo errado de novo. Seria, se a gente não estivesse mais uma vez colocando a carroça na frente dos touros - começando pela aquisição de caras caixinhas. Seria se a gente não se esquecesse que o "B" de BPM significa Business: É o negócio, beócio!

Como o ônus da prova é de quem acusa, relaciono abaixo uma breve lista de BPM (Bullshitagens por Minuto) que tenho visto, ouvido e lido por aí:

  • A gente ainda não sabe direito o que é um Processo de Negócio. Sim, vendemos e compramos caixinhas de Sistemas para o Gerenciamento de Processos de Negócio (BPMS), mas simplesmente não sabemos direito o que é um processo. Keith Swenson da Fujitsu, por exemplo, não é um novato na área. Mas em um artigo ele afirma que "processo de negócio é uma coisa que a empresa quer ver realizada". Há tempos não via definição tão bisonha. E perigosa, afinal vem de gente que tá vendendo caixinhas BPMS.
  • Mas o maior perigo do artigo não está neste detalhe (fundamental, mas um detalhe).
    Está em sua apresentação do que seria um "puro" sistema BPM: "o usuário desenha um diagrama e o executa". Sem necessidade de desenvolvedores, analistas e empecilhos afins! Claro que muita gente adora esse papo. Mas isso aí é pura propaganda enganosa! Keith faz uma infeliz comparação de BPMS com planilhas eletrônicas. Ignora a complexidade que representa a grande maioria dos processos de negócio (mesmo em pequenas empresas). Ignora as terríveis amarrações ponto-a-ponto que fizemos entre sistemas e processos. Não estou sozinho nesta avaliação, ok?
  • Voltando ao Brasil, percebemos graves evidências deste crime em fase de execução. Em um grupo de discussão um dia pintou uma thread mais ou menos assim: "olha, fomos alocados em um projeto BPM. Estamos com um probleminha: por onde começamos?". Piora: "o que devemos estudar?"
  • Tem CIO e gerente de informática que ainda compra por comprar. Compra porque seu vizinho comprou. Compra porque a Info "Bullshitagem" Corporate falou que tem um monte de gente comprando. BPM entrou nessa ciranda mortal - no genocídio de boas idéias. O cara não tem uma única pessoa em sua equipe que saiba diferenciar um processo primário de um processo de apoio. Mas já tem na prateleira uma brilhante (e cara) caixinha BPMS.
  • Quando confrontado com o despreparo de sua equipe, o "gênio" aparece com duas alternativas: terceiriza tudo ou então manda alguns subordinados para um cursinho de BPMN. Cadê o negócio, beócio?
  • Toda e qualquer iniciativa de TI deveria mostrar claramente qual benefício de negócio é esperado. Ou qual risco será combatido. Isso é rastreabilidade de verdade: "tá vendo esse centavo aqui? Ele gerou aqueles 2 reais ali". Ou "ele economizou aqueles 2 reais ali.".
    É simples. A gente é que complica.
  • Por exemplo: em outra thread do mesmo grupo que, diga-se de passagem é excelente (Yahoo: BPM-Forum), debatemos sobre a necessidade ou não de modelos "as is" - modelos que reflitam a situação atual de determinado processo de negócio. Caramba: como seria possível redesenhar uma coisa que não se conhece? BPM virou arte abstrata?
  • Fica nítido, inclusive no artigo que originou a thread, o quão longe do "B" estão as iniciativas BPM. A motivação para o redesenho deveria ser a primeira pergunta. Entenda: a implantação de um BPMS é um redesenho. Estamos "embarcando" novo software em determinado(s) processo(s) de negócio. Por quê? Qual é a nossa motivação? O que o negócio espera ganhar com isso? Aliás, o negócio sabe o que estamos aprontando com seus processos?
  • Me assusta também uma certa imaturidade e a grande indefinição que existe em torno de um dos pilares dos BPMS, o padrão BPMN (Business Process Modeling Notation). Ao ser incorporado ao portfólio do OMG (Object Management Group) criou-se a expectativa de que o padrão ganhasse o estofo que garante a robustez de outro conhecido padrão do grupo, a UML. Acontece que IBM, SAP e Oracle, por razões não totalmente confessáveis, não querem que BPMN seja um padrão de facto como é a UML. Portabilidade, consequência natural da adoção incondicional de padrões, nunca interessou a quem baseia seu negócio no aprisionamento de fregueses.
  • Finalmente, uma constatação que muito me entristece. Nos últimos tempos tive a chance de conhecer algumas iniciativas BPM. Sabe o que vi? Workflow de um micro-processo para reembolso de despesas; outro para a programação de férias; outro (robusto!) para o encaminhamento de solicitações para a área de TI...
    Coisas que eu já via, cerca de 10 anos atrás, implementadas com o Lotus Notes. Pior: já teve gente que me disse que com o Notes era mais fácil e mais barato!!! Ok, BPMS garante (ou promete) um pouco mais de portabilidade, característica inexistente no Notes. Mas será que a automação de processinhos-besta é tudo o que podemos fazer com as caras caixinhas BPMS?
Estou declarando a morte do BPM? Longe disso. A exemplo do que ocorre atualmente com CRM e outras boas idéias, BPM sobreviverá. Talvez mude de nome, levando consigo os BP*. Mas seus conceitos e propostas são sérios e necessários.

Aos juízes que avaliaram minhas evidências e têm um certo poder de decisão sobre o seu orçamento de TI tenho algumas sugestões:
  1. Esqueça as caixinhas, pagas ou não. Sua empresa só vai precisar delas depois que criar uma cultura de processos. E isso não acontece da noite para o dia. Gostas de checklists a la Abril? Então toma:
    a. Sua empresa sabe dizer quais são os seus processos primários? Sabe listar quais deles são chave para a estratégia corrente?
    b. Sua empresa já adota o ABC (Activity-Based Costing) ou algo parecido que mostre claramente a performance e saúde de seus processos?
    c. Sua empresa já disparou um programa de arquitetura corporativa, preferencialmente SOA (Service-Oriented Architecture), pré-requisito para que aquele sonho do Keith ilustrado no primeiro bullet lá em cima não seja tão mentiroso?
  2. Se você não respondeu SIM, SIM e SIM para as três questões acima, esqueça BPM por enquanto. Não é para ti.
  3. Você respondeu SIM, SIM e SIM, mas se vê envolvido só com processinhos-besta? Assim BPM vai parecer muito caro para o seu pessoal de negócio. Que tal buscar um processo primário e provar para você e para a patota que paga a dolorosa que BPM pode ser sim um diferencial para a sua empresa?
  4. E confie desconfiando de todas propostas comensais que normalmente surgem em torno de uma MODA maior: tem nêmora por aí que acaba se provando mais perigosa e cara que o próprio tubarão. Não vou generalizar, mas mineiramente desconfiarei de todo "escritório de processos", "fábrica de processos" e afin$.

graffiare #466

10 dezembro 2008

The internet isn't full, but we are.

- Seth Godin, aqui.

É o Negócio, Beócio!

03 dezembro 2008

Frase-projétil muito útil em debates com pessoas que iniciam projetos com ferros, caixinhas e código.

"É o Negócio, Beócio!"
também é o codinome de meu livro, que finalmente tem uma data de lançamento: 25 de março de 2009.

Mais detalhes? Só no finito.

Educando Call Centers

02 dezembro 2008

Tem uma patota que pouco antes da atual crise vivia gritando aos quatro ventos: "que o mercado se regule - xô governo! Xô burocratas!!" Viúvas de FFHH e do con(tra)senso de washington, devem estar mais perdidas que sãopaulino no último domingo. Mas não falarei da banca. O título sugere que eu fale só sobre os famigerados "call centers". Aqui sim está o absurdo da regulamentação.

O governo teve que criar um código de "ética e etiqueta" para um ramo que deveria ser um "Serviço de Atendimento ao Consumidor". Não é o cúmulo?

Cúmulo é que, por mais que a mídia comente as novas regras, ela ignora o fato (escrachado) de que empresas e operadores de telemarketing recebem comissão por "retenção". Que toda a sacanagem de longas esperas, ligações que se perdem ou passam d'um ouvido para outro têm uma origem bem clara: $$$. Quanto mais clientes "retidos", maior a bonificação da empresa "de call center" (sic).

O novo código de ética e etiqueta força a revisão dos acordos por níveis de serviços vigentes. A regulamentação simplesmente ataca o core business de muitas empresas. Tinha gente que usava o indicador "retenção" como diferencial! hehe... É claro que muitas empresas vão demorar muito para se adaptar. É claro que a bagunça e a pilha de reclamações no PROCON só farão aumentar. E é claro que corremos o risco de ver outra lei, como tantas outras deste país jurídico, não "pegar"...

O buraco tá mais embaixo e já foi tropeçado várias vezes aqui no Graffiti:

Empresa que presa de verdade seu freguês não terceiriza processos de gestão de relacionamentos com clientes.

Mas estamos em Pindorama. E exatamente neste momento tramita no congresso um projeto de lei que permitirá que as empresas terceirizem também suas atividades fim (ou processos primários ou core business, como queiram). Desculpa: "modernizar nossa legislação trabalhista". Consequência? Mais e mais clientes mal atendidos, mais processos de negócios "f***dos", menos regulação... Constatação: definitivamente, a gente não aprende.

Hehe.. o número mágico já tinha pintado por aqui. Numa época (6/nov) em que as ações da Yahoo ainda valiam US$14. Agora bateram em US$ 9. O Ballmer é mesmo um sortudo... Um idiota sortudo: chegou a oferecer uns US$ 33 por ação.

Mas os US$ 20bi, reportados pelo IDGNow (depois do Times), são meio mentirosos. Não se trata de uma operação de compra. E muito menos significariam 20 bilhões de doletas no caixa da Yahoo. Trata-se d'um tipo de transação que no popular chamamos de "arrendamento". Na linha comédia romântica que adotei aqui para tratar do tema, podemos chamar de contrato temporário de trabalho (e exploração)... A Yahoo virou amante com prazo de validade (10 anos)!

A proposta faz sentido por três fatores:

  • A MS precisa d'um belo empurrão em seus negócios online, particularmente em buscas;
  • A MS precisa d'uma bela fonte de receitas alternativas, já que seu horizonte para 2009 tá pra lá de turvo;
  • A Yahoo virou uma pechincha e anda topando qualquer negócio.
O problema é que, nessa altura do campeonato, a amarração MS+Yahoo corre o risco de não fazer diferença nenhuma. Em outras palavras: não fará nem cócegas na Google.

... em festa do queijo e da cerveja.

O tema, sério e rico que é, merecia um artigo melhor elaborado. Mas não tenho mais tempo nem paciência pra seguir represando impressões que me incomodam há tempos. Fatos soltos e não ordenados:

  • Depois de um tempão construindo a marca "Globo.com", aquela empresa simplesmente resolveu migrar boa parte de seu conteúdo para algo insípido e pouco explicativo chamado "G1". Não desorientou apenas os "favoritos", mas principalmente anunciantes e público, que não mereceram uma mínima explicação plausível;
  • Aliás, a surra que a Globo toma da Internet é caso que ocuparia um livro inteiro. Há 10 anos, quando o Galvão Bueno disparava uma "enquete" via web no meio de suas transmissões, tinha que pedir desculpas poucos minutos depois: "Caiu... tá fora do ar. Vocês sabem, internet é assim mesmo...". É? Demoraram 10 anos para ter coragem de colocar enquetes ao vivo de novo;
  • Na Folha do último domingo o excelente ombudsman, Carlos Eduardo Lins da Silva, tratou em seu tema principal a surra que aquele periódico toma da Internet. Tratou, citando ex-assinantes, do imenso desconforto que é ler a Folha na web. E teve que se contentar com a promessa de um projeto "para implantar uma versão com reprodução fiel das páginas do jornal, que seja prática, de fácil navegação e principalmente leve, ou seja, que possa ser consultada a partir de qualquer navegador ou tipo e velocidade de conexão". Só isso tudo! Quem pediu "reprodução fiel das páginas do jornal"? Farão promoção conjunta de monitores de 32 polegadas?!? Outra coisinha: UOL e leve parecem ser termos mutuamente excludentes.
  • Com frequência um tanto irritante apresentadores e comentaristas da ESPN Brasil falam sobre como sua interação com os "fãs de esporte" melhorou depois que adotaram blogs em detrimento dos emails. Blogs estão aí já tem uma década! Mas eles podem sim se achar inovadores, afinal sua maior concorrente, a SporTV (Globo!), ainda está na era dos emails.
  • Aliás, o máximo de interatividade que a Globo conseguiu foi o engraçado quadro "Bola Cheia / Bola Murcha". Em um universo de milhões de celulares e câmeras disponíveis por aí, até agora a Globo só conseguiu um brinquedinho perdido no meio do Fantástico. Mas pode dizer sim, que está na frente de suas concorrentes (abertas e fechadas).
  • A Band, por exemplo, só consegue pensar em mensagens SMS (devidamente comissionadas pelas telcos). É fato que não há ninguém lá dentro pensando nos telespectadores.
  • E minha amada Editora Abril, que viu a venda de algumas de suas vacas leiteiras despencar mais de 60%, segue impassível, conservadora como ela só. Um dia cada publicação tinha sua unidade web. Depois juntaram tudo. Redesenhos e redesenhos que não significaram nada, nadica de nada para seus assinantes e leitores. Dizem ter blogs, mas moderam e censuram comentários. Dizem-se inovadores, promovem eventos para discutir a Web, mas não sabem como proteger as peladonas da Playboy da pirataria. Aliás, acreditam que as protegem ao publicar as fotos digitais apenas quando a edição impressa completa 30 dias nas bancas. Maravilhoso, não? Deve ser caso único no mundo, em que os átomos chegam 30 dias antes dos bits. Protegem algo? Claro que não. Apenas tratam mal seus clientes, só isso.
Eu poderia seguir listando absurdos dos nossos grandes grupos de mídia. Quero crer que os exemplos acima sustentam meu chute: há um universo imenso de oportunidades aí fora. Mesmo considerando que a Google abocanhará boa parte dele, ainda sobrará muita coisa. Tô falando só de Brasil. E tô falando que os nossos grandes grupos de mídia, pelo toque da carruagem, não terão a menor condição de aproveitar a chance.

Net, Oi e Telefonica estão, neste exato momento, olhando para a mesma imensa janela. Não possuem histórico que me faça cravar fichas nelas. Mas, cá entre nós, é bem melhor do que ficar esperando por criativade de empresas como Globo, Abril, SBT, Band, UOL, Folha...

Muricy Ramalho

11 novembro 2008

Quase não tenho tempo mas preciso dizer: Muricy, técnico do São Paulo, acabou de dar uma breve entrevista ao vivo no programa da bela Renata Fan (Band). Acho que ele nunca vai virar palestrante ou autor de livros sobre vitórias e liderança. Mas, sinceramente, parece ser o cara daquele universo (esportes) mais gabaritado para tal. Exemplos:

  • Humildade: sabe que só mantém o cargo com vitórias - currículo não vale (quase) nada. E se cobra diariamente: "preciso vencer."
  • Humildade 2: fugiu da comparação com Luxemburgo: "ele tem a vida dele, eu a minha. Não penso nos títulos dele: preciso vencer."
  • Seriedade: "se eu ficar vaidoso a coisa aqui vira uma festa. Aqui não tem lugar pra isso. Aqui é lugar para trabalhar."
  • Honestidade: "a melhor coisa que eu faço é dormir bem toda noite."
  • Sinceridade: "o melhor elenco do futebol brasileiro hoje é do Inter. É o time que soube investir melhor."
  • Sinceridade 2: "eu sou chato mesmo, não sou muito agradável."
Venha ou não o tri (tomara que não!), o fato é que o Muricy não é competente só na base das "hard skills" (técnica, tática, estratégia) não. É um manager completo e, vale dizer, bastante moderno.

Hábitos de Pessoas Eficazes

07 novembro 2008

O best-seller de Stephen Covey, "Os 7 Hábitos das Pessoas Muito Eficazes", tem me assombrado nos últimos dias. Um colega o elogiou em um blog. Desastrado, fui lá e coloquei um comentário 'azedo' sobre o título. Meu colega apagou meu comentário!?! hehe...

Desde então, penso sobre o ocorrido. Penso sobre o livro que folheei - não ultrapassando o 1º hábito - há uns 11 anos. Sou um cético que adora detonar livros que recebem o famigerado rótulo de "auto-ajuda". Sinto um aperto no coração toda vez que vejo o entrelaçamento entre 'auto-ajuda', 'esoterismo' e 'administração'. Neste balaio entram Covey, Tom Peters e aquele que talvez seja o mais perigoso de todos, Deepak Chopra. Mas é preciso muito cuidado para não ser enganado pelos rótulos. Por exemplo: na lista dos livros mais vendidos da Veja desta semana, o primeiro colocado da seção "Auto-Ajuda e Esoterismo" é "A Arte da Guerra", de Sun Tzu. Seguido por "O Segredo"...

Há 10 anos a Editora Campus publicou um 'guia' que ajuda muito a separar "escolas". O livro se chama "Os Bruxos da Administração" (do original "The Witch Doctors") e foi escrito por dois membros da equipe de editores da The Economist, John Micklethwait e Adrian Wooldridge. Saca só seu subtítulo: "Como Entender a Babel dos Gurus Empresariais". É fantástico! A Campus deveria editá-lo novamente. Ele nunca foi tão necessário.

E ajuda a entender porque Stephen Covey ficou milionário com "Os 7 Hábitos...". Saca só:

Para homens e mulheres movidos a ansiedade, os livros de administração oferecem uma rara fonte de segurança. Os beneficiários mais óbvios são os pensadores que se concentram no indivíduo, e não na organização: daí o charme da psicoterapia new-age de Stephen Covey.
Depois, num capítulo intitulado "Na Contramão do Bom Senso", a dupla caçadora de bruxos resume suas impressões sobre o trabalho de Covey:

As seis primeiras palavras de "Os 7 Hábitos..." são: 'Aos meus colegas, no poder e a caminho dele'. O pior ainda está por vir. O primeiro dos sete hábitos de Covey é 'seja proativo'; o sexto é 'estabeleça sinergias'. (Em uma conversa com Covey, 'sinergia' disputa com 'mudança de paradigma' o lugar de expressão favorita.)

Esse é um território perturbador. Como respeitar um indivíduo que reconta a fábula de Esopo sobre a gansa que põe um ovo de ouro como 'o equilíbrio produção / capacidade de produção'? Pode-se realmente levar a sério um indivíduo que alega, com toda seriedade, ter identificado 'o sistema de valor universal de toda a humanidade'?
Bom, como os próprios autores reconhecem, Covey foi competente na administração de seu próprio negócio. Começou com 2 funcionários. Dez anos depois, tinha mais de 700 e faturava mais de US$ 100 milhões. Levou suas 'preces' até para as equipes de Bill Clinton e Tony Blair. Vivemos realmente num mundo de 'ansiosos'.

.:.

Só pra variar, este post tomou um rumo diferente depois que comecei a escrevê-lo. Queria mesmo falar sobre hábitos de pessoas eficazes. Dois hábitos que, tenho observado, andam raros. Hábitos que fazem toda a diferença nos dias de hoje, ainda mais em tempos bicudos. Talvez sejam tão óbvios como os 7 (8!) do Covey, mas prometo despi-los de qualquer toque 'psicoterápico new-age motivacional banban'. Vamos lá:
  1. Ler! Muita gente, mas muita gente mesmo, não tem o hábito de ler. Como é possível que um trabalhador do conhecimento sobreviva sem o hábito de ler?
    Não falo de ler bullshitagens em blogs bobinhos como este; nem artigos na Internet e zilhões de mensagens de email, por favor! Tô falando de leitura de verdade: ler livros, revistas especializadas (e não superficiais), jornais...
    Por mais 'verba' que tenha para gastar com treinamentos e afins, você não pode abrir mão do aprendizado via leitura. Ninguém pode!

  2. Colaborar e Participar! Muita gente adora escrever hieroglifos pós-modernos em orkuts e afins - aquela linguagem criptografada que também infesta IM's (MSN e afins). Mas pouquíssima gente participa em fóruns e grupos de discussão. Preferem ler, observar. Mas raramente participam. O que explica tal timidez?
    Desconfio que muitos se censuram porque têm medo de escrever errado. E uma coisa caracteriza todo mundo que escreve mal: lê pouco!
    (Por favor, eu sei que escrevo mal pracas! Sou viciado em vírgulas desnecessárias; cometo vários erros de concordância e tals. Leio pouco também. Bem menos do que gostaria. Mas me esforço).

Em tempos de consumidores-produtores (prosumers), os dois hábitos acima são fundamentais. Trabalhador do conhecimento que os ignora é trabalhador de segunda categoria. Em tempos bicudos, são os primeiros que dançam.

Talvez não, mas é tão idiota quanto. Saca só algumas de suas declarações em um evento na Austrália (falando sobre a Google e seu Android):

Eles podem contratar gente boa, podem contratar um monte de gente, blah dee blah dee blah, mas vocês sabem que eles entraram nesse negócio (mobile), de certa forma, um pouco tarde.

Eu realmente não entendo a estratégia deles. Talvez alguém entenda. Se eu for para minha reunião com acionistas ou analistas e falar, hey, acabamos de lançar um novo produto que não fala como vai gerar grana!

Yeah. Cheer for me. Não tenho certeza se meus investidores receberiam isso muito bem. Mas é isso que a Google está falando aos seus investidores sobre o Android.

A Google não está no topo da lista de nossos concorrentes no mercado mobile. Podem estar algum dia. Mas hoje...


Hoje o Ballmer é um cara muito século XX. Muito anos 90. Por isso ele não entende aquela empresa que parece fazer um monte de coisa de graça, mas apresenta margens de lucro bem mais significativas... O Ballmer é como o Eremildo: Um idiota.

Créditos:
  • Eremildo, o idiota, é um simpático personagem do Elio Gaspari;
  • Ballmer, o idiota milionário, é um personagem remix com os melhores momentos de Adam Smith, Taylor, Ford, Gates, Tom Peters, Steve Covey, Dvorak (que votou McCain), Godoy (o juiz), Leão (fruta), Leão (goleiro), Bornhausen (sumido) e Pedro de Lara. Por isso é tão difícil entender o cara que não entende nada...

Como apostar num relacionamento duradouro quando uma das partes é infiel e instável como um PMDB? Em 15/jun eu já mostrava minha desconfiança com a 'ficada' da Google com a MarYahoo. Pois bem, a Google anunciou que não quer mais saber de nada. Nem 'ficadinhas' (que envolviam 'apenas' (!) a parte de publicidade da Yahoo). Ninfomaníaca e desesperada como ela só, MarYahoo agora diz que "a melhor coisa para a Microsoft fazer é comprar a Yahoo". Haha! MarYahoo! devia me contratar como consultor: estou falando isso desde dezembro! (Aliás, já falava antes. Mas em minhas previsões cravei como certa a fusão).

Acontece que MarYahoo! tá ficando desvalorizada (e mal falada). Ballmer manterá a proposta de US$31/ação só se for mais porra-lôca do que todo mundo imagina. Na época da proposta original cada ação da Yahoo valia cerca de US$ 27. Hoje não passa dos US$14. Na época eu falava: US$ 40 bi é pouco. O pessoal da Yahoo também achou. E o que o Ballmer acaba de anunciar que fará com os US$ 40 bi? Comprará ações da própria MS! Em um programa de recompra que visa proteger o valor das ações. E agora Ballmer?

Topará casório com uma dama tão infiel? Dada a crise devidamente instalada, talvez uns US$ 20 bi sejam suficientes. Yang e Icahn chorarão os US$ 20 bi perdidos... Ballmer vai dizer que economizou US$ 20 bi, que é um gênio do mundo dos negócios (um Tom Peters com menos florais e mais cafeína)...

Agora falando sério: O negócio deve sair porque MS e Yahoo estão no mato sem o simpático cachorrinho. Ballmer sabe que aquele papo do Ozzie (Azure, clouds e afins), se vingar (haha!), é no longo prazo. Ballmer sabe que Page e Brin não vão ficar esperando... Ballmer sabe d'um monte de coisas. Só não sabe pq não pulou fora do barquinho em momento mais adequado.

[Atualização - 07/nov]: Ballmer mandou avisar que não liga mais para as juras de amor da MarYahoo! Mas não descarta sexo casual (parceria em buscas?!?). Mary, Mary... terás um futuro de Excite, AltaVista e afins?

A Vida Começa aos 40?

29 outubro 2008

Se sim, então devemos esperar belas novas no dia 29 de outubro de 2009. Nossa querida, indispensável, ubíqua, instável, temida e mal entendida Internet estará completando seu 40º aniversário.

Sim, hoje é aniversário da Internet. Não vi velinhas, mas não posso deixar de registrar. Da mesma forma que o fiz tempos atrás. Mostrando sua certidão de nascimento (o primeiro log)...



... e o primeiro retrato:

Diz aí, não era uma gracinha?

Hoje, balzaquiana, segue bonitona. E indispensável, ubíqua, instável... promissora. Ninguém mais saberá viver sem ti, adorável coroa!

Tenho consumido alguns poucos minutos diários com a leitura de "Os Homens que não Amavam as Mulheres", best-seller de Stieg Larsson muito comentado nos últimos tempos. É a primeira parte de uma trilogia chamada "Millennium". E a primeira vez que pego um livro da moda desde "O Código Da Vinci". Bem escrito, bem sacado e grudento, parece um mix de Agatha Christie, Dan Brown e William Gibson (de "Reconhecimento de Padrões"). Da primeira o "whodonit"; de Dan o passeio descrito com certa minúcia; e de Gibson a antena e a personagem Lisbeth Salander (mal identificada na nossa mídia como uma 'hacker'. Simplista, pra variar).

Bom entretenimento. Mas existem dois outros fatores que merecem destaque. Aliás, que merecem ser tratados aqui no Graffiti.

O primeiro é a excelente tradução de Paulo Neves - que não partiu do original sueco e sim de uma versão francesa do romance. Seu cuidado, particularmente com os termos técnicos, deveria ser observado por aqueles que traduzem livros de negócios e informática aqui em Pindorama. Paulo Neves soube distinguir termos que mereciam tradução daqueles que deveriam ser mantidos em sua forma original. Critério simples: qual forma está no nosso dia-a-dia? Sem inventar roda, deu um show de tradução.

Destaco este ponto porque estou com o saco cheio de ver "business process" virar "processo comercial", "commodity" virar "mercadoria", XP virar "Programação eXtrema", "cloud computing" virar "computação nas nuvens" ou "de nuvens" e outras cagadas de igual calibre. É impressionante o relaxo de gente de nome como Editora Campus, Bookman, Abril e outras. Se não conseguem encontrar bons tradutores, que publiquem então as versões originais. Atenção: um bom tradutor de livro técnico deve ter formação técnica e viver no meio. Não basta saber inglês, ok?

Segundo ponto. Saca só um trechinho:

Se um repórter, no Parlamento, realizasse sua tarefa do mesmo modo, sustentando sem a menor crítica cada moção proposta, ainda que totalmente insensata, ou se um jornalista político carecesse de uma forma semelhante de julgamento, esse jornalista seria despedido ou pelo menos transferido a um serviço no qual ele ou ela não pudesse causar prejuízos. No jornalismo econômico, porém, não é a missão jornalística natural que prevalece, ou seja, oferecer aos leitores análises críticas e um relato objetivo dos resultados. Não, aqui se celebra o vigarista mais bem-sucedido. E é assim que o futuro da Suécia está sendo moldado, minando-se a última confiança ainda depositada nos jornalistas como categoria profissional.
O texto acima é de um livro que o protagonista de "Os Homens...", Mikael Blomkvist, publicou. Mikael, vale citar, é o alter-ego de Stieg, que também foi um ativista político e jornalista econômico. Por que o trecho merece destaque?

Oras, troque "jornalismo econômico" pela prensa que cobre nosso mercado (TI). Troque Suécia por Brasil. Está ali uma visão bem clara de nossa prensa que se diz especializada. Duvida?

graffiare #465 - Tudo Azul?

28 outubro 2008

Many developers who attended the October 27 unveiling of Azure at the Microsoft Professional Developers Conference in Los Angeles are still trying to get their heads around what Azure is and how it will work.

Mary 'Jo Jo Gunne' Foley na ZDNet.


Só pra variar, parece que a MS (Mon Amour!) deu um show de desinformação no PDC de ontem. Requentando idéias e um slide que, salvo engano, já rola por aí tem uns 3 ou 4 anos:


Tá certo, ficou menos poluído. Mas a confusão é a mesma. Tanto que o Ballmer pode tentar utilizar a mesma explicação de 2004:

It's about connecting people to people, people to information, businesses to businesses, businesses to information, and so on.

Caramba, o defeito da bússula da MS é tão medonho que até em campanhas publicitárias (caso Seinfeld) eles andam barbeirando feio. E olha que era só pra vender PC (e Vista). Imagina agora, que devem explicar algo tão complexo como a "computação na nuvem"...

Começaram bem: e um gênio marketeiro achou que "Azure" (Azul) tinha tudo a ver. Hehe... tem sim. No mundo MS não há nuvem nenhuma!! É o céu do Brigadeiro Ballmer...

Só quando outra categoria passa a usar e se lambuzar com um termo só seu é que a gente entende o tanto que irrita uma língua própria e fajuta, né? Variações de "alavancar" estão por todo lado desde que o Muro-do-Bushinho caiu - desde que a crise financeira mundial explodiu. Alavancar? Alavancagem?!? Bom, ainda bem que o Aurélio é antenado:

Alavancagem sf. 1. Ato ou efeito de alavancar. 2. Econ. Proporção de recursos de terceiros na estrutura de capital de uma empresa.
Ah bom: significa que nosso caixa é formado por grana que não é só nossa, grana que de uma forma ou d'outra é emprestada. Ah... Agora fica mais fácil entender os dizeres d'uma economista muito bonitinha que apareceu num programa de TV ontem. Com sua língua própria ela explicou que médias e pequenas empresas do ramo de serviços passarão por maiores dificuldades nos próximos meses. Razão? São muito "alavancadas"! E seriam muito "alavancadas" porque lidam com um custo fixo muito alto. No popular: custo fixo = mão-de-obra. Ah...

Mas qual a origem das dificuldades? Os bancos estão segurando as alavancas... se borrando de medo de emprestar grana e ficar com o papagaio na mão... Ah... Os mesmos bancos que acabaram de divulgar lucros recordes? Sim! Ah...

E qual a solução da economista bonitinha? Que o governo estique os prazos para recolhimento de impostos; que o governo reduza impostos; que o governo...

A gente até se esquece que quando falam em GRANA DO GOVERNO estão falando em GRANA NOSSA, né? Então os bancos podem seguir sua política, comprando TÍTULOS DO GOVERNO ao invés de IRRIGAR o mercado? E nós pagamos duas vezes por isso?!? Que mundo maluco...

.:.

Mas eu abri este post com outras intenções. Pequenas e médias empresas de serviços. Hmm... pega em cheio nosso mercadinho de TI, não? Pega sim, um considerável universo de empresas Alavancadas & Ferradas. Empresas que nos últimos tempos iniciaram um belo processo de auto-limpeza: começaram a registrar funcionários, eliminando PJ's e afins... Essa gente, covardemente alavancada, é que começará a sofrer com a queda do muro-do-bushinho...

Break! Não tô aqui, em tom apocalíptico, negando o que escrevi na última sexta-feira. Mantenho o otimismo que, eu disse lá, não é babão/bobão. Isso não significa que devemos ignorar a tal "Economia Real" (como se qq outra não fosse uma imensa bullshitagem-sacanagem). O problema é sério.

E pega em cheio algumas de nossas últimas ondas: fábricas de software e serviços de telemarketing. Empresas "alavancadas" por natureza. Não ligo se elas se forem. Melhor dizendo: torço para que modelos de negócio mais criativos e modernos sejam desenhados com suas cinzas.

O problema é que várias empresas que não têm nada a ver com isso devem sofrer também. Com serenidade, não há melhor momento para rever modelos e planos. Com serenidade e otimismo. Um bom começo é a busca de alavancas alternativas. Um bom papo com o gerente do banco, cortando aqueles produtos-gracinha que pareciam ter sentido mas que custam grana. Sejamos criativos. O Criativo cria a si mesmo. O Criativo usa alavancas criativas. Não muletas!

Parece que foi ontem. Mas foi em 2/dez do ano passado. Ontem foi outro dia.. O Dia da Ressaca do Ano! Ressaca justa: o Timão encerrou suas férias da primeira divisão. O Coringão voltou!

Não era surpresa pra ninguém. Mas o que explica aquela festa toda, toda aquela comoção no sábado? O que explica aqueles generosos minutos no JN, Esporte Espetacular, Fantástico et cetera? O que explica a paixão d'um Louco?

Foto surrupiada de Daniel Kfouri.

Nada. Ninguém explica. Se você é Louco, sente. Se não, fica aí com cara de bobo... e, quem sabe, uma pontinha de inveja. Só o Timão é uma torcida que tem um time. Isso faz uma diferença danada. Uma diferença que apareceu nos 32 jogos do time na segundona.

Como pedi no terrível 2 de dezembro de 2007, tive minh'alma Louca lavada com Q'Boa. O time, os 39 caras que passaram por lá, mais a mão firme do Mano, souberam nos respeitar. Foram dignos e respeitaram também os outros 21 adversários. Mal informados falarão que foi fácil. Foi não. Uma ponta de amargura existiu em cada jogo. Amargura, Angústia, Ansiedade... quem disse que isso é fácil? Foi fácil não.

E é por isso que, apesar de inexplicável, é compreensível o que aconteceu no último sábado. Uma nação com trinta e tantos milhões de habitantes estava desabafando 10 meses e alguns dias de amargura, angústia e ansiedade...

[Lá pelas tantas, 21hs, depois de rodar por 3 lugares, depois de litros de cerveja, sem achar meu lugar e a correta expressão do que eu sentia, reclamei com meu irmão: "Ainda não me deixaram chorar..."]

Agora, devidamente vestido com as roupas e as armas de Jorge, ouso repetir o que pedi naquele fatídico 2/dez: em 2010, no ano do centenário, queremos Libertadores e o Mundial. Pois é: somos um bando de loucos! E como é gostosa essa loucura...

Réquiem dos Pequenos

24 outubro 2008

O título aí é de um somzão dos Paralamas (Severino, 1994). A música me vem sempre que vejo alguém se "apequenar", amedrontar... acovardar:

te falta o gesto largo, a ébria poesia
TE SOBRA A PEQUENEZA, AS PEQUENAS CERTEZAS
como agenor dizia


Seth Godin falou sobre a mesma coisa no último domingo, comentando efeitos colaterais da crise financeira. A EXAME da quinzena apresenta o tema na capa: "Para Onde Ir Agora?". Traz uma pequena pesquisa com 268 empresas tupiniquins, de diversos portes. Eu já disse por aqui: crises assim são boas para que a gente saiba distinguir empresas-joio de empresas-trigo. Parece que temos uns 60% de empresas-joio por aqui...

60% daquelas que responderam que "o cenário de negócios para o próximo ano piorou". Tipo de profecia que força sua realização - questão de estado de espírito. Afinal, se ninguém sabe dizer o que está acontecendo ou o que vai acontecer, como o cenário de negócios pode ter piorado? Detalhe: apenas 2% (5.36 empresas que participaram da pesquisa) disseram que o cenário melhorou. Como fiquei louco para saber quais são elas. Quero comprar delas! Quero fazer negócios com esses 2% de empresas-trigo!!

Porque é esse o estado de espírito necessário em tempos de crise. Crise, lá na China, é Wei-Ji. "Problema + Oportunidade". Ok, todo mundo sabe disso. Mas de que adianta saber se não pensa assim? Só 2% de nossas empresas estão vendo as imensas oportunidades que a grave crise nos apresenta.

Já estou planejando 2009... e já "carquei" ali as mesmas metas que havia colocado para este ano: dobrar tudo! Dobrar o número de eventos, o faturamento, os serviços de consultoria e a audiência do finito. Metas humildes são bobagens! E em julho deste ano eu já havia dobrado toda a audiência que tive em 2007. Não.. hehe.. o faturamento não acompanhou a curva. Mas já fechei a "quota" de 2008. Atenção: não se trata de otimismo "babão / bobão". É tudo uma questão de estado de espírito. Sou um burro que só se move se a cenourinha na minha frente for grande e suculenta.

Mas tem gente que prefere sentar e chorar... 60% de "Hardy Har Har" lamentando: "Ó Céus, ô dia... justo agora que a gente tinha tudo pra crescer... justo agora que comprei aquele carrão de 100k em 100k prestações... justo agora..."

Mais Paralamas:

A VIDA NÃO TE INTOXICA ENQUANTO CONTAS TROCADOS
não vês o anzol e a linha da vida que passa ao teu lado
TE FALTA SUBIR AO MAIS ALTO, TE FALTA DESCER AO MAIS BAIXO
te sobra a maldita prudência, alegrias compradas a prazo

Touch the Android to Begin

17 outubro 2008



Folheando a generosa galeria de imagens do T-Mobile G1 me perguntei: será que alguém ainda duvida do estrago que a Google fará no mercado de dispositivos móveis?

O Lula falou, o Lula avisou que a tsunami econômica por aqui seria só uma 'marolinha'. Não será. Não sou pessimista, mas a gente sabe que Pindorama não é essa Fortaleza toda.

Por enquanto, marolinha mesmo só na Google. Aliás, como eu já havia chutado por aqui em 21/dez/07:

As ações da Google não devem se sustentar no padrão atual, mas a queda não deve ser muito significativa. Na verdade vai ter gente vendendo ações de outras companhias para colocar a grana em terreno fértil. E, há 10 anos, terreno fértil é a Google.


Anunciando lucros de 26% e com ações abaixo dos US$ 400? Aposto que ainda hoje a Google ficará mais cara. Mas, de qq forma, a previsão acima estava certa também!

Ontem (16/out/08) a Reuters publicou o seguinte:

But investors said Google appeared to be alone in its ability to weather the economic storm.

Crises assim, que secam grana, servem para a criação de uma nítida fronteira entre empresas-joio e empresas-trigo. Em TI, estamos vendo, a crise separa empresas do século passado daquelas que se desenham para um novo tempo.

Consequências naquele museu de grandes novidades de Redmond:

Ballmer fala e fala e fala. Num momento em que tudo o que se espera é ação. E silêncio.

Management is telling people what to do, which is a vital part of any industrial economy. Leadership is figuring out what ought to be done then getting people to do it, which is very different. It is a vital part of any successful post-industrial economy, too, but most managers don’t know that.

Robert X. Cringely (em "Leadership: Post-industrial management requires a different skill set")


Embora Max Weber esteja morto há quase noventa anos, controle, precisão, estabilidade, disciplina e confiabilidade - as características que ele exortava em seu hino à burocracia - continuam sendo as virtudes canônicas da gestão moderna. Embora talvez deploremos a "burocracia", ela ainda constitui o princípio organizador de praticamente todas as empresas dos setores público e privado do mundo, inclusive a sua. E embora gestores progressistas possam trabalhar com afinco para atenuar seus efeitos imbecilizantes, há poucos que conseguem imaginar uma alternativa completa para ela.

Então aqui estamos: ainda aperfeiçoando os quebra-cabeças ao estilo de Taylor, e trabalhando em organizações ao estilo de Weber. Para ser justo, muitos dos novos desafios de gestão do século XXI foram reconhecidos nas salas do Conselho de Administração e dos executivos e, de vez em quando, vemos uma tentativa realmente séria de inovação gerencial. No entanto, nosso progresso até agora tem sido limitado por nosso paradigma de gestão baseado na burocracia e centrado na eficiência. A maioria de nós continua pensando como cães.

- Gary Hamel (no livro "O Futuro da Administração" (Campus, 2008)).


O texto do Hamel é de 2007. Ou seja, saiu antes da crise que nos assola. Mas é pesadíssimo, como meu negrito mostra. Já Roberto X, em todas as últimas colunas, está influenciadíssimo pelo momento. Chegou a sugerir um plano Cringely: proibir a fabricação de lâmpadas incandescentes. Parece coisa de doido mas tem uma lógica fenomenal. E não custaria US$ 700 bi. Mas eu fugi do núcleo do graffiare...

Iludidos pelas maravilhas tecnológicas e pela louca dinâmica dos tempos modernos, não percebemos que algo ainda mais importante está acontecendo. "Verdades" e fundamentos centenários estão sendo cada vez mais questionados. Por gente de todos os cantos. De Masi, Hamel, Cringely, Seth Godin, o Universo do Software Livre e o Manifesto Ágil. A mensagem é espalhada em escala astronômica e nos mais diversos formatos e vocabulários. Hamel fala com CEO's e gente do alto escalão de empresas. Cringely grita com CIO's e conversa com geeks. Godin fala com marketeiros e afins. De Masi com sociólogos, psicólogos e loucos. O Manifesto Ágil com outros tipos de loucos. Mas o núcleo da mensagem é o mesmo. E é legal, promissor. Outro atestado de que vivemos numa época muito jóia. (E louca e perigosa. Mas, acima de tudo, jóia).

Nossa área é única no mau uso de boas idéias. CRM, SOA e BPM estão aí para mostrar que não minto (sozinho). O que dizer então quando adotamos péssimas idéias? A mais daninha-danosa delas atende pelo nada singelo pseudônimo de "Fábrica de Software".

A infelicidade já começa no nome: "Fábrica"? Um termo centenário, nos remete ao início da famigerada era industrial [1]. "De Software"?? A 'alma' das empresas (e de várias outras coisas, do refrigerador ao carro) do século XXI. Os dois termos são incompatíveis. Distantes no tempo, representam dois mundos muito diferentes. Quem teve a infeliz idéia de juntá-los?

Não importa. O que importa aqui é o tamanho do estrago que a triste idéia está causando. Nos últimos anos tive a chance de conhecer vários exemplos. Desde pequenas 'fábricas' no interior até mastodontes transnacionais em algumas capitais. Independente do porte ou localidade, quase todas compartilham duas coisinhas:

  • Clientes insatisfeitos; e
  • Processos quebrados.
Qual a razão da insatisfação dos clientes? Oras, a péssima qualidade dos serviços prestados pelas fábricas. E por que então os clientes não buscam outras alternativas? Alguns buscam... outras fábricas. E descobrem que o problema é generalizado. Que, no popular, estão 'num mato sem cachorro'. Em alguns casos ficam aprisionados na fábrica "menos pior". E sabe por que ela é menos pior? Porque contratou ex-funcionários de seus clientes, gente que manja um pouco daquele negócio e seus 'sistemas legados'.

O cliente merece o inferno que vive. Afinal, terceirizou a criação e manutenção de um de seus principais ativos - o Software. Ele não percebe que aquele tanto de código que ele 'embarca' em seus processos de negócio é puro conhecimento. É conhecimento destilado, fino, sensível e abrangente. É conhecimento sobre suas estratégias, regras e recursos. Enfim, este cliente não entendeu ainda que Software é um Ativo. Um ativo que deveria merecer, no mínimo, o mesmo tratamento dispensado aos ativos tangíveis (seus caminhões, servidores, grampeadores...). Pensando bem: tire o "no mínimo". Melhor, tire a comparação com ativos tangíveis. Software é um ativo que deveria ser tratado como a grana que o negócio guarda em caixa (1 e 2) e nas contas bancárias.

Obs.: Não estou dizendo que toda terceirização é ruim, pelamordedeus! Mas é preciso saber O que Não Terceirizar [2].

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E por que o processo das fábricas é quebrado? Oras, dá pra confiar no processo d'uma empresa que nem soube definir sua razão social? De uma empresa que achou chique entrar na moda das "fábricas"? Colocando d'outra maneira: é possível que exista uma Fábrica de Software?

Ficando no básico: fábricas, em seu conceito original, reutilizam peças e componentes. Está aqui um dos elementos fundamentais de uma fábrica. Nossas fábricas reutilizam alguma coisa? Oras... nem o CMMI nível 5 sabe o que é reuso! Mas o buraco é mais embaixo. Bem pra baixo...

As fábricas pressupõem a desumanização de um típico trabalhador do conhecimento. Traduzindo: esperam que os programadores não pensem, ou pensem o mínimo. Algumas, no íntimo, torcem para que chegue logo o dia em que os macaquinhos gerarão código em troca de bananas. Seriam mais úteis para seus clientes e para a sociedade se investissem grana na automação das partes repetitivas do trampo do desenvolvimento de software. Se pesquisassem e gerassem excelentes frameworks e geradores de código. Mas a maioria preferer pagar '3 mínimos' para um moleque de 18 anos realizar 3 CRUD's [3] por dia...

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As fábricas de software têm um irmão: os serviços de telemarketing. O supra-sumo da idiotice de um século que insiste em não acabar [1]. Com eles as empresas terceirizam alguns de seus processos primários mais vitais: o relacionamento com clientes. E terceirizam boa parte de seu cérebro para as fábricas. Talvez percebam o tamanho da imbecilidade no dia em que restar apenas o departamento financeiro... Será? Sei não...

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Notas:
  1. Leia qualquer livro do Domenico De Masi para entender pq a era industrial é famigerada (e pq o século XX demora pra acabar). Pode ser qualquer um mesmo... é que ele é meio repetitivo...
  2. Nome de um pequeno artigo publicado em "E-Business e Tecnologia", uma coletânea da HSM Management publicada em 2001 pela PubliFolha.
  3. CRUD (Create, Retrieve, Update, Delete), termo que utilizamos para identificar aquelas telinhas para manutenção em tabelas.

And I feel fine! [1]

Para um comunista-não-praticante [2] é um momento único: saboroso e trágico, hilário e dramático. Momento que, creio eu, nenhum escritor de ficção imaginou. Não por falta de aviso. Lá em 2002 Mr Buffet já avisava: "Dizem que a crise será rasteira e passageira; eu digo que será longa e profunda". Agora as duas faces da mesma moeda, bArack e McPain, brigam pela 'amizade' de Mr Buffet. Pretendem que ele tenha uma resposta, como indicaram no último debate. Demonizam o deus anterior, que cuidava do Fed, e tentam eleger um novo salvador. Enquanto isso, em Wall Street, vale o "salve-se quem puder".

E o Estado é chamado para salvar bancos. Na surdina, num beco qualquer do 1º mundo, alguém trata de queimar todas as cartilhas publicadas pelo FMI nos últimos 30 anos... Eu disse, o momento é saboroso. E nosso governo, em total sintonia com as grandes nações, rabisca um PROER 2.0: nossos bancos também merecem salvação!

E o mundo derrete; trilhões de dólares evaporam... e a culpa é daqueles irresponsáveis que compraram uma casinha? O mundo vai acabar por causa d'umas hipotecas mal contratadas?? O momento é realmente hilário.

Mas não deixa de ser trágico. Todos seremos afetados, d'uma maneira ou d'outra. Menos que os brothers do andar de cima (espero), mas seremos. Prudência e muita calma neste momento é tudo o que interessa.

A bonança tá logo ali no horizonte (2009? 2010?). E uma certeza a gente já pode ter: teremos um mundo melhor depois dessa zona toda. Apesar das moedas e suas faces. Apesar dos bancos. Apesar da incurável ganância do homo-obesus... Amanhã vai ser outro dia [3].

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  1. Título de uma música do R.E.M.
  2. Ser comuna ("de esquerda" é um termo melhor, apesar de muitos atestarem seu óbito) no 3º mundo é usar crachá de bitolado. É sério, tenho vergonha daqueles que deveriam representar tal visão. Viram a última eleição? Os candidatos "extremos" dão aula, não falam de planos pras cidades. São mais chatos que picolé de chuchu. E pensar que a mesma "asa" conta com Niemeyer, Chico Buarque, L.F. Veríssimo...
  3. E por falar em Chico.

Michael Hammer

01 outubro 2008

Abril de 94. Só sei a data porque na época tinha a mania de anotar na primeira página dos livros a data de aquisição E leitura [1]. Já ia para o meu 8º ano de carreira e o 1º na Coopersum - Cooperativa Regional do Sul de Minas. Sua matriz ficava em Elói Mendes, a popular "Mutuca", distante 15km de Varginha e com cerca de 18 mil habitantes. Pela primeira vez eu tinha necessidade de entender melhor um negócio. Até então, desenvolvendo sistemas que cuidavam exclusivamente de processos de apoio [2], os negócios pareciam todos iguais. Agora não: era uma Cooperativa de leite, um "trem" complexo que além do leite (comprado e vendido), envolvia também um supermercado, duas lojas de produtos agroveterinários, um posto de combustível e outras coisinhas. Milhares de itens em estoque. Um produto principal que se perdia em um dia. E uma clientela principal bastante particular: todos eram donos do negócio também - os cooperados. O que eu sabia sobre sistemas não bastava.

Para complicar, e para quem não se lembra ou viveu, é a época da implantação do Real. As mudanças eram drásticas não só nos sistemas e processos. Nossa cultura de "inflação" (e correção monetária e índices para tudo) ainda era vivíssima. Meus conhecimentos sobre sistemas, definitivamente, não bastavam.

Também não era era de Internet. Aproveitei um passeio por Varginha para uma visitinha na então única livraria da cidade, a Livraria do Estudante. Como hoje, as seções de TI e Negócios ficam na mesma prateleira. Ignorei os dBase, Basic, Wordstar, Unix e afins. Pela primeira vez eu queria um título que me ensinasse *negócio*. Minha visita deve ter durado uns 90 minutos (minha média até hoje em livrarias). Folheei algumas dezenas certo de que levaria o primeiro livro que peguei: "Reengenharia: Revolucionando a Empresa", de Michael Hammer e James Champy (Editora Campus, 1994). (Coloquei o link, mas a livraria tá informando que o título está esgotado).

Estranha opção já que, considerando alguns de meus critérios da época, o livro representava o oposto: breve (180 páginas); pouco visual (só 2 diagramas!); e muito atual (ou seja, carecia do 'estofo' que só o tempo dá). Por outro lado o livro parecia muito objetivo, prático mesmo. A linguagem não me assustou, pelo contrário. Não havia ali um mísero termo técnico estranho ou que não fosse bem explicado (para um leigo). Então eu comecei a aprender sobre negócios no eXtremo. Saca só o sub-título: "Revolucionando a Empresa!". O apelo definitivo, que me fez desconsiderar alguns títulos de Peter Drucker, foi escrito pelo mesmo no topo da capa: "A reengenharia é o novo e precisa ser realizada". Corrigindo: apelo definitivo mesmo estava no rodapé da capa: "Esqueça o que você sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo está errado!". Wow!!! Pra que então eu compraria um livro 'antigo' ou 'errado', certo?

Hoje, 14 anos depois, "Reengenharia" (o livro) aparece em vários pontos do meu trabalho para Formação de Analistas de Negócios: nos conceitos de processos de negócios, no diagnóstico das doenças que acometem processos etc. Como John Sculley previu na contra-capa, ele virou sim uma "bússola e mapa-múndi empresarial do século XXI". Mas nem sempre foi assim.

O termo *reengenharia* foi eleito o bode expiatório de um monte de cagadas realizadas por grandes empresas na época. O confundiram com 'confusores' como downsizing, rightsizing e outras propostas que não ditavam nada que não fosse o corte sumário e imediato de mão-de-obra. Reengenharia virou palavrão, bafo de alho ... moda tão efêmera quanto a lambada.

Os autores, principalmente Hammer, ficaram marcados. Boa parte de seus trabalhos seguintes pareciam tentar corrigir ou justificar suas propostas. Mesmo aqueles que 'esticaram' o tema não receberam uma migalha da atenção que recebeu a obra-prima. Pra ter uma idéia: meu livro, adquirido pouco após o lançamento, já era a 12ª edição!

Só fiquei sabendo na semana passada que no último 3/set Michael Hammer se foi, com 60 anos. Se foi sem o devido reconhecimento de sua obra. Se foi sem saber que um projeto na pequena Mutuca só deu certo porque seu livro me fez *ver* um negócio. Me fez entender que um negócio não é representado pelo seu organograma, mas pelo Mapa de Processos - sua parte dinâmica, viva.

Finalmente, para entender porque seu trabalho continua tão atual, basta dizer que apenas um ERP tupiniquim sabe "fazer" ABC (Custeio Baseado em Atividades) - o resto se limita à secular contabilidade "por centros de custo". Basta dizer que uns 80% de nossos negócios ainda não entendeu que já entramos na era da concorrência baseada em processos. E que nem metade dos que entenderam conseguiram de fato implantar uma visão de processos. Compartilho a certeza do Hammer: cedo ou tarde o farão, por bem ou por mal.


Notas:

  1. Atualmente não consigo mais manter o 'E'. Entre a aquisição e a leitura, meses se vão. E não sei se estou comprando mais do que consigo ler ou lendo menos (ou mais devagar). Pena.

  2. Processos de apoio (ou secundários) são todos aqueles que uma empresa paga para não ter - justamente porque não faz grana com eles. Por isso são os primeiros a ser terceirizados. Em todo o meu início de carreira, eram o único alvo dos sistemas de informação: Contabilidade, Folha de Pagamento, Contas a Receber e Pagar etc. A turma de hoje é feliz e não sabe quanto, informatizando processos primários (70%) e de gestão (20%). Obs: os percentuais são só chutes deste que aqui pixa.

Saca só:

You will see a move towards cloud computing and software coming from the web, where there will only be the service cost, rather than paying an IT team. There will also be more interest in adopting open-source software.


São palavras de Carla Rapoport, "managing editor for technology with analysts the Economist Intelligence Unit", que surrupiei daqui.

Parece coisa de Tita, ex-dublê-de-técnico do vasquinho, que resolveu colocar Edmundo em campo só depois que a vaca-vascaína tinha ido para o brejo (ontem, contra o Palmeiras). Então SaaS (Software as a Service, ou computação na nuvem - para usar a nova moda) e software livre só fazem sentido quando o orçamento encolhe?

CIO que apelar para tais alternativas agora deveria ser mandado embora por justa causa. Afinal, estará reconhecendo que durante anos jogou dinheiro no ralo - pagando licenças e infra que, no final das contas, não configuravam as melhores alternativas (para o negócio).

Ah TI, tu seria outra se a percepção de crise fosse constante.
Ou se não fosse tão lotada de gente que só pega no tranco!

É com grande tristeza que vemos que os palpiteiros estão quebrando.

Presidente Lula


Lula foi polido. Na mesma declaração, falando sobre a quebradeira que ocorre no lado de cima do Equador, ele lembrou que quem está quebrando são os mesmos bancos e instituições que viviam falando "põe dinheiro lá, tira dali, não confia naquele país bananeiro acolá". O mundo gira como uma roleta de cassino. Jogadores-especuladores não ganham sempre. Pelo contrário, a lógica diz que na maior parte do tempo o jogador perde. Como macro-economia parece não ter lógica, teve gente ganhando (muito) por (muito) tempo. Basta! Mas vamos ao que interessa por aqui.

Em 21/dez do ano passado eu já falava da crise estadunidense. E antecipava duas conclusões: ela é péssima para a MS (particularmente para o Vista) e pouco impactante para a Google. Relatórios do próximo quarter comprovarão se eu estava certo.

Obs: Relendo meus chutes, particularmente para o mercado global, fiquei chocado. Até agora, só um erro gritante: O Ballmer não cai nem com reza brava... azar da MS.

Ah, o palpiteiro aqui ainda não quebrou... hehe



Ao comentar o lançamento do Google Chrome cometi o velho engano das metáforas misteriosas: jogo, tabuleiro, regras?!? Pra que tanto enigma, não é mesmo?

"Organizar todas as informações do mundo" é a missão da Google. O "todas", que um dia imaginamos que seriam apenas (!) aquelas disponíveis nos zilhões de web sites, ficou maior de uns tempos pra cá. Agora engloba também nossos vídeos, textos, planilhas eletrônicas, fotos, amigos, colaboradores, espirros & puns... Uma baita nuvem. E, de repente, "organizar as informações" deixou de ser suficiente. Ou, colocando de outra forma, a organização não faz sentido se não facilito o acesso a elas. Entra o Chrome. O browser que terá uma íntima relação com todos os serviços da Google - coisa que ela não conseguiria com nenhum outro.

Serei meio redundante, mas preciso reproduzir as palavras de Jason Perlow (ZDNet):
Instead of taking Internet standards and making their own proprietary extensions to try to control a platform, Google is going to do with Chrome what Microsoft is doing with .NET and Silverlight — create a web-based application deployment platform that is fully optimized for use with Google’s online services, such as their core search engine, their Google Office suite, GMail, Google Maps, Google Base, and Google Everything Else. In effect, Chrome will become the new computing platform to compete with Windows, the Mac and even iPhone. So in essence, they are “Extending” their own online platform to a browser platform which they can have full control over and optimize for use with their own online properties — such as with the built-in Gears functionality. The ultimate expression of eating your own dog food.
Não fui o único a apontar que o Chrome não mira apenas a MS. Acerta a Apple também. Aliás, acerta todo mundo. E deve ter um efeito colateral indesejado (por este que vos escreve e, talvez, pela própria Google): ele roubará share do Firefox. É inevitável. Quem usa o Firefox já experimentou outros browsers. E vai experimentar o Chrome. Aqueles que usam e abusam dos outros serviços Google não sentirão saudades de ninguém. E ficarão com o Chrome. Em definitivo! Chute meu: O Chrome terá, no mínimo, 10% de share em menos de 6 meses!
Hmm... chutei baixo. Mas considerei que o Firefox tem só (!) 20%.. e a versão 3 é animal.

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Comentei ontem a reescrita da VM Javascript. Alguns comparativos já foram publicados:


Só uma construção do zero permite tamanho ganho de performance. E velocidade é uma característica da Google desde seus dias de bebê. Me lembro bem da cara de espanto de alguns colegas da B&F, em 98, quando lhes mostrei o mecanismo de buscas Google. A diferença de performance, comparando com Yahoo, Altavista e Exciter, devia ser a mesma que o gráfico acima ilustra (entre Chrome e IE7). E, lembrem-se: trata-se de uma versão beta!

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Ok, foi um post "entusiasmado". Começando pelo título. É claro que a Google não é a nuvem. Mas que deseja sê-la, disso não tenho dúvidas. Conseguirá? Só o tempo dirá... O fato é que a Google é a única empresa que demonstra entender bem seu tempo e seu horizonte.

ps: Surrupiar Gilliard é imperdoável!

Sorte que o mecanismo de buscas aqui do Graffiti funciona direitinho. Tá lá em 25 de janeiro de 2005 um dos meus primeiros posts sobre o aguardado (?) browser da Google. Agora, 44 meses depois, não se trata mais de boato. Rolou até história em quadrinhos para justificar a empreitada. Mas duas questões permanecem sem respostas: i) Faz sentido (o lançamento de um novo browser)?; e ii) Se sim, porque a Google demorou tanto?

A Google, nesse meio tempo, virou uma das principais 'distribuidoras' e patrocinadoras do Firefox. Em troca do favorecimento de seu mecanismo de buscas naquele paginador web, a empresa de Brin & Page colocou uma bela grana na Mozilla, organização que o desenvolve. O contrato entre elas só caduca em 2011. Desde o início da parceria a participação do Firefox praticamente dobrou, batendo em 20% de market share. É um crescimento expressivo. Mas, ao que parece, não o bastante para a turma da Google.

Browser é plataforma. Até o Bill Gates percebeu isso, em 2006. Para o modelo de negócios da Google, é a única plataforma (cliente) que interessa. Claro, desde que ele rode em micros (com qualquer sistema operacional), celulares, TV's, carros e secadores de cabelos. Sua independência de plataforma deve ser real - sem gambiarras. Por isso uma característica do Chrome chama tanto a atenção: a Google reescreveu (do zero) a VM Javascript. A Google joga praticamente todas as fichas em aplicações que rodem exclusivamente no browser. Porisso uma VM performática (e estável) é fator crítico de sucesso.

Mas a questão é: faz sentido que ela tenha um browser? A Mozilla não lhe entregaria tudo que ela precisa? O "Não" para a segunda questão justifica o "Sim" da primeira. Apesar do Firefox 3 ser um belo produto, ele está longe de atender todos os requisitos da Google.

O que nos leva para a segunda pergunta lá do 1º parágrafo: por que demorou tanto? Como meu primeiro link lá em cima mostra, em 2005 a Google já contratava especialistas em browsers. Eles não demoraram 44 meses para desenvolver um, né? Acreditando que não, só posso chutar que a demora ocorreu por um excesso de confiança na parceira Mozilla. Esgotada a paciência, agora a Google tem em mãos todas as peças básicas (incluindo o Android).

O desespero que bate em outras praças (de Redmond e Cupertino), quando não motivado pela falta das peças, é fruto do total desconhecimento sobre a localização do tabuleiro, as regras do jogo... enfim, qual é o nome do jogo?

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Atualização (03/set): Scott Berkun, que trabalhou no IE entre as versões 1 e 5 e há tempos é um fiel usuário do Firefox, já fez uma breve avaliação do Chrome. Resumo: destacou algumas bobeirinhas mas, no geral, gostou do que viu. O Chrome é leve e apresenta algumas inovações interessantes.

Como o beta só foi liberado para Windows, fico devendo meus pitacos.

Desde o último dia 21 este artigo da ZDNet tá aqui no meu 'Read it Later'*. Título "contumbante", como diria o sumido corinthiano Sérrrrgio: 5 Assuntos 'top' que sua Equipe de TI precisa tratar mas tem medo de te contar. O artigo é curto e direto. E, claro, não gerou o 'bafafá' que deveria. É o tipo de coisa que ninguém quer ver ou debater. Se tem uma coisa que funciona bem em todos os departamentos de TI é seu tapete: escalável, sempre disponível e 100% garantido contra invasões. E dá-lhe "issues" varridas para baixo dele! As 5 listadas pelo Jeremy Chone são as seguintes:

  1. Não há história no código
  2. Não sabemos exatamente quantas aplicações nós temos ou como elas trabalham em conjunto
  3. Estamos ativamente procurando novos 'desafios' (ou empregos)
  4. Você não consegue mostrar o ROI
  5. Você precisa compartilhar sua visão
Lista eclética, não?

História no código! Ele quer dizer que não há documentação. Em 22 anos de carreira, nunca vi uma empresa com seus sistemas documentados. Quando alguma documentação existe, está pra lá de defasada. É uma questão tão cabeluda que merecerá melhor trato em outra oportunidade. No finito, porque é lá que corto cabelos.

O segundo ponto é, em certa medida, consequência do primeiro. Questão que só será resolvida quando as empresas entenderem que um Ativo de Software é um Ativo como qualquer outro. Suas cadeirinhas de R$ 50 merecem uma "plaquetinha de patrimônio", por exemplo. Ativos de software, que representam só o CONHECIMENTO da empresa, nunca mereceram o mesmo tratamento. Atenção: não estou falando de gerenciamento de licenças, ok? Dá um tempo!

Estranhei o terceiro item. Pensava que esse turn-over dinâmico-insano era uma peculiaridade tupiniquim. Ok, o Jeremy fala que lá na América do Bush (countdown: 3 meses) a taxa é de 22%. E acha ruim!?! Por aqui, onde não há medições formais, chuto que beiramos os 50%. Por baixo! Em algumas casas vendedoras de corpos (legais), a taxa ultrapassa os 70%. Problema delas e de seus clientes, certo? Ah, você é cliente ou vendedor de corpos (legais)? Hmm... Para onde irão as taxas agora que o mercado está superaquecido, hem?

Neste ponto o Jeremy destaca outra questão importante: as novas gerações não gostam de tecnologias 'jurássicas'. E a 1ª geração (de verdade) está em vias de se aposentar... Bom, isso deve preocupar menos por aqui. Afinal, temos Universidade "top de linha" que ainda ensina COBOL.

As questões 4 e 5, imho, estão supervalorizadas na lista. ROI é matemática. Ah... e a compreensão do valor que será gerado (ou custo que será economizado) pelo negócio. Acho que aqui é mais uma questão de entender o negócio do que de fazer conta. E esse papo de "compartilhar visão" é paroletion. TI precisa entender o negócio que a banca. Sem isso, não há "visão" que se sustente.

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* O "Read it Later" é a melhor extensão do Firefox dos últimos tempos. Não gaste mais seu "Favoritos" com coisas temporárias. Como ninguém pensou nisso antes?

Urtigão ou neo-neo-ludita... qualquer coisa do tipo. Não conheces o Urtigão, meu caro? Na América do Bush ele é conhecido como Hard Haid Moe. Um tipinho ultra-reacionário que detesta tudo que esteja fora de sua rocinha. Lembra também o Unabomber, mas é mais simpático e menos belicoso. Pois é, ultimamente não sei se temo ou desejo me transformar num tipinho assim, que aqui nas Minas sem-pré-sal a gente chama de "bicho do mato".

A motivação pr'aquele desabafo de ontem não tem nada a ver com o resultado final. Ia lamentar meu último upgrade. Mas aí desatei a falar das teles e reparei que meu(s) problema(s) é(são) pititico(s). Mas vale(m) um chororô. Saca só:

A Motorola me obriga a utilizar o Windows Media! Sim, se eu quiser transferir algum sonzinho para meu celularzinho, só com o Windows Media Player 11. Na caixa esse 'detalhe' não aparece como pré-requisito - parece ser só uma 'feature'. Mas não: é pré-req!?!

Meu heróico modelo anterior, um V300, relacionava-se bem com o Kubuntu. Existe aqui um tal Moto4Lin que me permite fazer tudo com o aparelhinho. Confiei nesta informação (não formalizada por ninguém em lugar nenhum) na hora que optei por um novo Motorola. Nokia já estava fora da lista porque ela não esconde que usa e abusa de 'features' DRM. A Nokia é mais honesta que a Motorola.

Ok, esqueça o meu caso (break: temo que o Graffiti acabe se tornando um Procon-Apócrifo! haha).
Pense só na lógica!

A Motorola usa e abusa do Linux em seus aparelhinhos. Faz boa grana com eles. E um relativo bom serviço. Então o que explica o aprisionamento ao Windows Media? Eles pensaram nos clientes? Claro que não. Pensaram apenas em não desagradar os papas da grande mídia. E trancaram seus aparelhinhos no único media player que não desagrada estúdios e gravadoras: aquela coisinha da MS que perde feio para Amarok, WinAmp, iTunes, MonkeyqqCoisa e um monte de etc.

Só fiz o upgrade porque meu V300, em mais de 3 anos, deu o que tinha que dar. Mas ele me permitia o gerenciamento de contatos no micro. Transferência de fotos, personalização de toques etc etc. Com o upgrade eu andei pra trás... Aliás, como várias coisas no mundo TIC... Andamos pra trás! Porisso é que ando com uma vontade danada de virar um Urtigão. Criador de galinhas e plantador de ervas (medicinais).