Tenho consumido alguns poucos minutos diários com a leitura de "Os Homens que não Amavam as Mulheres", best-seller de Stieg Larsson muito comentado nos últimos tempos. É a primeira parte de uma trilogia chamada "Millennium". E a primeira vez que pego um livro da moda desde "O Código Da Vinci". Bem escrito, bem sacado e grudento, parece um mix de Agatha Christie, Dan Brown e William Gibson (de "Reconhecimento de Padrões"). Da primeira o "whodonit"; de Dan o passeio descrito com certa minúcia; e de Gibson a antena e a personagem Lisbeth Salander (mal identificada na nossa mídia como uma 'hacker'. Simplista, pra variar).
Bom entretenimento. Mas existem dois outros fatores que merecem destaque. Aliás, que merecem ser tratados aqui no Graffiti.
O primeiro é a excelente tradução de Paulo Neves - que não partiu do original sueco e sim de uma versão francesa do romance. Seu cuidado, particularmente com os termos técnicos, deveria ser observado por aqueles que traduzem livros de negócios e informática aqui em Pindorama. Paulo Neves soube distinguir termos que mereciam tradução daqueles que deveriam ser mantidos em sua forma original. Critério simples: qual forma está no nosso dia-a-dia? Sem inventar roda, deu um show de tradução.
Destaco este ponto porque estou com o saco cheio de ver "business process" virar "processo comercial", "commodity" virar "mercadoria", XP virar "Programação eXtrema", "cloud computing" virar "computação nas nuvens" ou "de nuvens" e outras cagadas de igual calibre. É impressionante o relaxo de gente de nome como Editora Campus, Bookman, Abril e outras. Se não conseguem encontrar bons tradutores, que publiquem então as versões originais. Atenção: um bom tradutor de livro técnico deve ter formação técnica e viver no meio. Não basta saber inglês, ok?
Segundo ponto. Saca só um trechinho:
Se um repórter, no Parlamento, realizasse sua tarefa do mesmo modo, sustentando sem a menor crítica cada moção proposta, ainda que totalmente insensata, ou se um jornalista político carecesse de uma forma semelhante de julgamento, esse jornalista seria despedido ou pelo menos transferido a um serviço no qual ele ou ela não pudesse causar prejuízos. No jornalismo econômico, porém, não é a missão jornalística natural que prevalece, ou seja, oferecer aos leitores análises críticas e um relato objetivo dos resultados. Não, aqui se celebra o vigarista mais bem-sucedido. E é assim que o futuro da Suécia está sendo moldado, minando-se a última confiança ainda depositada nos jornalistas como categoria profissional.O texto acima é de um livro que o protagonista de "Os Homens...", Mikael Blomkvist, publicou. Mikael, vale citar, é o alter-ego de Stieg, que também foi um ativista político e jornalista econômico. Por que o trecho merece destaque?
Oras, troque "jornalismo econômico" pela prensa que cobre nosso mercado (TI). Troque Suécia por Brasil. Está ali uma visão bem clara de nossa prensa que se diz especializada. Duvida?
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