Sobre

Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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Prevendo 2008

21 dezembro 2007

Mais do mesmo? Pois é, pela primeira vez (!) em muito tempo, estou um pouco pessimista. O hemisfério norte vai sofrer um bocado com a crise da economia estadunidense. Bush (finalmente!) será substituído. E é muito provável que ele ouça de um candidato democrata o mesmo que seu pai ouviu do Clinton: "É a economia, estúpido!". Agora é tarde. E os impactos de uma recessão batem quase que de imediato no mercado de TI (somos eternos supérfluos, apesar de tudo). Empresas com o caixa abarrotado sentirão menos. Google, Oracle e Apple passam bem pela fase ruim. O mesmo eu não digo de MS, Sun, AT&T, Yahoo e outras menos relevantes.

A notícia de uma possível recessão é particularmente péssima para a MS. A turma do "upgrade retardado" falava que aguardava os primeiros service packs do Vista e do Office. Agora vão falar que estão sem grana; que o XP e o Office 2003 "dão para o gasto". Como a MS é péssima de estratégia, deixou vazar que deve rolar um novo Office entre 2008 e 2009. Ou seja, acaba de dar outra justificativa para que o upgrade seja novamente adiado. Resumindo: sigo apostando que o Ballmer não passa desse ano fiscal (que se encerra em junho). Outra aposta requentada: a última reestruturação do Yahoo também falhará. Será a gota d'água, e finalmente veremos a fusão MS+Yahoo.

Situação oposta é da Google. 2008 é o ano da consolidação do Android - de sua estratégia para dispositivos móveis. Ao contrário das outras plataformas, ele é gratuito. Quer melhor justificativa para sua adoção? Ainda mais em tempos de crise?

As ações da Google não devem se sustentar no padrão atual, mas a queda não deve ser muito significativa. Na verdade, se continuar atraente, vai ter gente vendendo ações de outras companhias para colocar a grana em terreno fértil. E, há 10 anos, terreno fértil é a Google.

E a Apple. O iPhone 3G deve sair até o início do 2º semestre. Versões econômicas do brinquedinho devem estar no forno. Acho fácil supor que a Apple venda o dobro de iPhones do que vendeu em 2007, no mínimo. E deve ser mais agressiva na abertura de outros mercados. Inclusive Brasil? Não sei. Mas na Europa é batata. Mesmo que parte do modelo (exclusividade de operadora) seja alterado. Jobs não é burro.

Não tem muito tempo, falei de um dos melhores "campeonatos" do biênio 2007/2008. Estava falando da guerra envolvendo Java, Ajax, Flash e Silverlight (da MS, pra quem não sabe). A Apple corre do Flash como o demo foge da cruz. Mas desconfio que uma aproximação (ou fusão) com a Adobe esteja anotada num cantinho da agenda do Jobs. Motivo? A Google entrou pesado na seara, jogando com Ajax, Java e Linux. Outro motivo: se ela demorar, Bill Gates abocanha a Adobe. O Silverlight perdeu o jogo antes de entrar em campo. Outra varada n'água de Redmond. Sun e IBM desistiram dessa briga há 2 anos. E eu aposto que a Adobe não passa mais um ano como empresa independente. Apesar da crise. Ou exatamente por causa dela.

Na primeira vez que usei minha bola de cristal líquido eu previ uma consolidação no mercado de ferramentas de BI. Errei por um ano. E alguns nomes: BO foi para a SAP; Hyperion para a Oracle. Mas errei por pouco. E o movimento de consolidação seguirá. Agora é a vez de Microstrategy, Cognos e outras de menor porte.

[Atualização: O Garrido me informou via comentário que estou meio atrasado - a Cognos já é da IBM.]

Em 2008 a Oracle seguirá aumentando seu "desfocado" portfólio. A Bea não aguentará a pressão. Mas será justamente a falta de foco da Oracle que deixará a SAP tranquila.

Por fim (falando do estrangeiro), o mundo Linux. É mais "lista de desejos" do que previsão. Já reclamei ontem: uma redução no número de distribuições pode acelerar o processo de evolução do Linux. Está faltando um pouquinho de ousadia, de inovação. Não só no produto, mas também nas suas relações com o mercado. Dell, Lenovo, Acer e outras estão começando a gostar de brincar com o Linux em suas máquinas. Em 2008 veremos outros fabricantes entrando na ciranda. Talvez elas acelerem o processo de consolidação. Mas não bastará.

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Para começar a falar em Pindorama, colo nas pegadas do Philip "Shoes" Calçado: talentos migrarão de grandes empresas (padocas) para pequenas e médias (boutiques). Trocarão "comando & controle" por "colaboração & criatividade". Aqui retorno para meu otimismo (de novo, é mais torcida do que previsão): "boutiques" vão pipocar nos próximos 2 anos. Apesar dos sérios pesares, começaremos a questionar de forma muito contundente nossa velha tradição "feijão com arroz". E o caminho é uma avenida repleta de boutiques. Mais 3 ou 4 sucessos como o do Boo-Box trarão a (pouca) grana necessária. Se aqueles "empreendedores" que só sabem falar sobre "empreendorismo" e não fazem nada sairem da frente, será melhor ainda.

Por outro lado, deve haver algum movimento de consolidação de "padocas". Trata-se de um modelo que depende de muita escala, muitos clientes. Como freguês que fala inglês anda difícil, a saída (imaginada por eles) é aumentar a carteira de fregueses tupiniquins. E eles sabem que o atalho é a aquisição de carteiras, não a conquista real. Um atalho que vem antes, a abertura de capital (que gera a grana necessária para bancar aquisições), será tomado. Por poucos. Exigências da CVM espantam muitas "padocas".

Milhões de novos micros foram vendidos em 2007. Trata-se de um mercado imenso. Que seguirá crescendo! É difícil supor que o modelo das "escolinhas de informática" e empresas de assistência técnica não vá sofrer um grande impacto. Não é só uma questão de número de estabelecimentos. Estou falando do modelo mesmo. Suporte remoto? Cursos a distância? Personal-trainers? Babás de micros? Sei lá, existem várias oportunidades.

Como é imensa a oportunidade para sistemas livres e gratuitos. Equação simples: com a grana curta, aumenta a opressão, o combate aos piratas. Num mercado em que a renda ainda é muito curta, faz muito sentido a adoção de soluções que não custam nada. Falta uma rede de suporte e treinamento. Os primeiros ganharão muito. Em 2008? Tomara que sim.

Por fim, o mais importante: Educação. Precisamos rever currículos. Precisamos redistribuir responsabilidades entre os cursos técnicos e os universitários. Precisamos também levar a informática para todos os outros, principalmente dos níveis fundamental e secundário. Levar informática não é instalar ou doar micrinhos. É levar conhecimento.

Que a turma que em 2007 gastou tempo e espaço com "Cansei", "Xô CPMF" e afins, em 2008 compre outra briga: "Educação acima de tudo!".

Revendo 2007

20 dezembro 2007

Há uma semana planejo este post. Ia se chamar "2007 bytes", e travei numa brincadeirinha boba: escrever um post com 2007 caracteres. Desisti. Agora meu temor é outro: que o resumo leve a crer que 2007 foi um ano "pequeno". Não foi. Mas foi um tanto estranho. E com mais decepções do que a média dos últimos 3 anos.

Uma decepção que não é minha mas é de muita gente atende pelo nome "Vista". Antes de experimentar o "(good) look and (bad) feel" do novo sistema operacional da MS eu já antecipava a decepção: seria o último de uma linhagem de SO's que não faz mais sentido. Gordo, lento, burocrático. Estranho é que o ano também não foi bom para a Apple. Seu "Leopardo", além do atraso microsoftiano, também apresenta vários problemas microsoftianos. Conseqüência do crescimento, falta de foco ou outra coisa? Sabe-se lá.

O fato é que o Linux nunca fez tanto sentido. Mais no confronto com o Windows do que com o MacOS. Mas, como sempre, o universo Linux tropeça. Não houve uma esperada consolidação de distros. Desperdiça-se muito esforço e tempo. O Ubuntu, com empurrões cada vez mais entusiasmados da Dell, consolida-se como a distribuição ideal para desktops e leigos. Mas ele também foi uma decepção.

Explico: meu desktop é Gutsy (7.10), a última versão. É Kubuntu. A evolução na performance e algumas coisinhas como conectividade e compatibilidade melhoraram bastante. Mas, se comparado com a versão do ano anterior (6.10), a evolução não é tão grande. Não há nada de realmente novo. Para piorar: meu note se recusou a rodar Gutsy. Problemas com a conexão wireless, Compiz e outros me fizeram voltar para o 7.04. Aproveitei o retorno e resolvi experimentar o Ubuntu. Tá uma maravilha, com cubos e altíssima performance numa máquina que tem só 512mb de RAM. Mas, voltando ao ponto: a consolidação de distribuições (umas 3 principais seria o número ideal) daria outro ritmo para o desenvolvimento do Linux. Minha lista? Ubuntu (desktop), Red Hat (servidor) e Mandriva (ambos). O resto não faria falta (né Novell?).

Outra grande decepção é o XO, o laptop que custaria US$100 da OLPC (One Laptop per Child). Não o produto, mas sua aceitação. Ontem rolou um leilão do governo federal e a Positivo largou na frente: com uma derivação do Classmate (Intel) que deve custar a bagatela de R$950. O orçamento para a aquisição de 150k maquininhas é a metade disso... Tem coisa muito errada no processo. Quem paga? A criançada e Pindorama.

Aliás, Pindorama é mesmo um caso sério. Nunca se vendeu tanto micro e notebook abaixo da linha do Equador. Movimento tão grandioso deveria gerar milhares de negócios periféricos. Escolas, oficinas e micro-empresas dos mais diversos tipos. Alguém viu? E o que esse povo todo está fazendo com tanto poder computacional? Orkutando e fofocando?

Sobre o movimento, outro causo que só pode acontecer em terras tupiniquins: Um grande varejista fugia do tal e-commerce como o demo corre da cruz. Aí, depois de vender toneladas de micros, reparou que podia estar transferindo clientes para sua concorrência mais antenada. Agora corre contra o tempo para ter uma "lojinha virtual". Sorte daquela turma de TI (ralando em época de festas) que o grande varejista pode mudar de mãos em breve. Deve ir para alguém que sabe e gosta de vender pela web.

Por falar em turma de TI ralando em tempo de festas... tem gente adorando o fim da CPMF. Equipes inteiras dedicadas a mudar em 15 dias aqueles belos e mastodônticos sistemas bancários. Run, Forrest, run! Faltam 10 dias e 10 horas... hehe.

Breve listinha com outras decepções:

  • Second Life: fez que veio, não veio e acabou fondo;
  • TV Digital: prova de que esse papo de "corta escopo e mantém o prazo" é um perigo. Pô, cadê 80% do escopo original?
  • Cisco / Mude: pô, cadê 80% do imposto original?
Pindorama encerra mais um ano insistindo numa estratégia "feijão com arroz" quando o assunto é exportação de produtos e serviços de TI. Representada por aquelas empresas que chamei de "Padocas de Periferia". O déficit na balança comercial passa de US$ 1 bi. Com a receita comprando licenças de MS Office (!) e outras bobeiras, até o final do governo Lula estaremos enviando toneladas de soja e óleo e batatas para pagar caixinhas impagáveis. É o fim?

Talvez não. No post sobre "2008" eu volto ao tema. Mas o fato é que a gente, num esquema bem Martinho ("devagar, devagarinho"), tá aprendendo a criar boutiques. O Boo-box é um belo exemplo. A Castle Stronghold também. O P3D apareceu até na última Exame. Temos boas idéias. Grana boa também. Falta o último empurrão. Aposto nele começando em 2008.

Se inspirando nos melhores exemplos de 2007:

A Google segue seu ritmo. Ações a US$670 (3.4 salários mínimos tupiquins). Fidelidade ao seu "business": propaganda. E passos certeiros: Vídeo, celular... Onde a Google vai parar? Existe alguém para parar a Google? A questão mais importante (para nós tupiniquins) deveria ser outra: o que podemos aprender com o maior fenônemo do século?

Do outro melhor exemplo (inspirador) de 2007 vou colocar só um ícone (a IMAGEM DO ANO):

A Sobrevivência das Padocas

13 dezembro 2007

Necessário desvio da série "A Boutique e a Padoca". No mesmo dia em que publiquei a 2ª parte, aconteceu um encontro de alguns colegas do grupo UML-BR. Foi em Sampa, não pude participar. Mas os educados colegas publicaram uma listinha de conclusões. Uma delas bateu com o tema aqui: "Fábricas (de software) estão com os dias contados". Gelei. Não é o que estou propondo - padocas sempre terão sua utilidade. Mas, relendo as duas partes da série, percebi que tal conclusão seria possível.

Por isso este
post é devido. Esta série quer mostrar o quão diferentes são as Boutiques e as Padocas. Mas, de forma alguma tem a intenção de jogar uma pá de cal no modelo das podocas. Prefiro sugerir revisões e retoques.


Padoca não é Fábrica de Verdade

Adotamos o (infeliz) nome. Implementamos a triste e centenária idéia da "produção em série" baseada em muitas mãos (de baixo custo). E ignoramos a única característica daquela idéia que faria o termo "fábrica" fazer um pouco de sentido: o reuso sistemático. Fábricas de verdade reutilizam 80% de seus componentes, mesmo em produtos "novos". Nossas fábricas de software, em sua grande maioria, não reutilizam nada.

É um tema que mereceu uma série (inacabada) no finito. Resumo: reuso é um velho tabu em nossa área. Uma inequívoca prova de nossa infantilidade. Uma confirmação, como diz Paul Strassmann, do tanto de esforço e inteligência que desperdiçamos. Strassmann, no longínquo 1997, já sugeria [1]:
  • Adotem ferramentas que forcem a construção de software a partir de um repositório de peças padrão reutilizáveis;
  • Façam da acumulação e preservação dos ativos de software um de seus principais objetivos;
  • Ofereçam incentivos para que o staff de sistemas inclua a acumulação de ativos de software como um de seus objetivos-chave; e
  • Aumentem a longevidade dos ativos de informação ao invés de aceitar a suposição de que eles não valerão nada após o breakeven. (Nota: ao contrário do hardware, que se deprecia rapidamente, ativos de software aumentam de valor com o uso e com o tempo).
Todo leigo cai de costas: "quer dizer então que as fábricas de software tratam mal e não administram ativos de software?" Triste constatação. Sim, é verdade. Também causa espanto o fato do CMMI ignorar a questão por completo. Sim, mesmo uma empresa "nível 5" não aprende nada sobre reusabilidade com o CMMI.

Mas, esqueçamos por um momento as questões técnicas e os "certificados". Só a questão econômica já deveria justificar uma busca obsessiva pelo reuso de ativos de software. Brincando de matemática (conta de padoca, ok?): uma fábrica que conseguisse executar um projeto reutilizando peças para cobrir, digamos, 30% do escopo, teria plenas condições de brigar contra indianos e chineses. Vendendo mais barato! Ah, mas eles não custam US$ 1/hora? Balela. O valor médio cobrado por lá é de US$ 15/hora. Na China é US$ 20! A Irlanda, outro grande fornecedor de serviços de TI, cobra US$32/hora em média [2]. Ou seja, nosso preço (mesmo com o mal compreendido / mal explicado"custo Brasil"), não está longe da média mundial. A questão é outra: não vale a pena brigar por preço. Não no modelo atual (baseado em mão de obra barata). A briga deveria ser mais inteligente. Criativa.

Há uma explicação para o descaso com o reuso: seu custo. O reuso sistemático requer um caro investimento. Não tanto em ferramentas (hoje em dia elas são grátis e abertas), mas em processo e educação. Nossa miopia, que Goldratt chama de mirar exclusivamente "o mundo dos custos" [3], nos impede de dar a devida atenção para o retorno do reuso: ganho de produtividade de 58% em 4 anos! Redução de custos de até 79% (em 6 anos) [4]!! Nossa miopia é sintoma d'outro mal: o imediatismo. Quem pensa em 6 ou 4 anos? Taí o "x" da questão.

De qualquer maneira, a implantação do reuso sistemático daria outra cara para nossas padocas. Um sinal de maturidade que está muito além daquela medida pelo CMMI (que também é o padrão das padocas indianas).


Padoca não tem Identidade

Vimos algumas tentativas de criar uma identidade para o "software tupiniquim". Para nos diferenciar. Surgiram coisas como "nearshore" e outras que não merecem espaço e tempo. Deveríamos só ter copiado nossos exportadores de café. Um "selo" e uma entidade independente certificadora. Uma entidade totalmente independente do governo, por favor!

Imagine uma "fábrica de testes" que certificaria todo software exportado pelo Brasil. É isso. Só isso? Não é "só" e leva tempo. Mas, entendendo que o reuso por si só cria uma diferença notável em todas as nossas propostas, é questão de tempo para que o selo "software tupiniquim" seja tão ou mais relevante que um "selo" CMMI. Considerando que desperdiçamos os últimos 10 anos com n varadas n'água, o que são 4 anos de amadurecimento real?


Padoca Vende Tudo para Todos

Não raro, numa padoca de periferia (de facto), vemos até sabonetes e detergentes. Céus! Padocas especializadas ganham mais com seu produto principal - que é especial. Um produto que não cabe no bolso de todo mundo. Ou não cai no gosto de todo mundo. Um portfólio de produtos e / ou serviços muito aberto sempre gerará desconfianças. É simplesmente impossível ser bom em tudo.

A opção pela verticalização de ofertas reforça e é reforçada pela implantação do reuso sistemático. Se a fábrica só atende seguradoras, por exemplo, a possibilidade de reutilizar ativos sobe de 30% (ativos horizontais, genéricos, de infra) para mais de 60% (ativos que representam aspectos do negócio, especialistas). O enjoativo termo "foco" é mal utilizado em 90% das vezes.


Uma Padoca nunca tem Culpa

A culpa é sempre dos outros. Do cliente, da vigilância sanitária, do gerente (que, claro, é sumariamente demitido) etc etc. Mas, a pior das desculpas surge quando se pergunta porque a balança comercial do setor é deficitária em mais de US$ 1 bilhão por ano desde 1999. Saca só as conclusões deste estudo. Segundo ele, "os entraves para o crescimento do setor são":
  • Tributação;
  • Desinteresse em promover programas nacionais;
  • Inexistência de instituições que viabilizem, em larga escala, o desenvolvimento de software no mercado brasileiro; e
  • Dificuldade de financiamento para o setor.
    Obs.: neste último ponto, o artigo destaca que a dificuldade é acentuada "pela inexistência de patrimônio que sirva de garantia aos agentes financeiros. O fator se agrava com a rápida depreciação dos ativos na área, devido ao contínuo avanço tecnológico."
    Num país que tem crédito até para quem tem o nome no SPC e no SERASA, êita desculpinha difícil de engolir.

Reparem bem. Toda a culpa parece ser do governo. É a mesma história desde que os militares inventaram a reserva de mercado. As padocas nunca assumem responsabilidade nenhuma! Se as padocas insistirem nesse papo, faz sentido a (desiludida) conclusão do Meira [5]:

talvez devamos mesmo nos render à "vocação natural" do brasil, de ser o celeiro do planeta, e deixar este negócio de software para povos mais educados. e capazes. e mais conscientes.
Eu sou teimoso. E um otimista incurável. Ainda acho que é muito fácil "zerar", no mínimo, o saldo da balança comercial. Claro, não basta aumentar as exportações. Passou da hora de parar de mandar grana pra fora para bancar editores de textos e planilhas eletrônicas, né? Mas esse é outro papo.

O fato é que uma combinação inteligente de fábricas, boutiques e oficinas pode dar outro destino para nosso mercado de TI. Opa, eu disse oficinas?


Oficinas

Tive contato com centenas de pequenas e médias empresas (PME's) de software nos últimos anos. É relativamente comum ouvir a seguinte questão: "vale a pena investir em CMMI?". A impressão que dá é que o único modelo que as PME's conhecem é o modelo das "grandonas". Como falta um bocadinho de criatividade, não são poucos os que apelam para a simples cópia. Um cópia que faz tanto sentido quanto a rede de supermercados Maiolini, daqui de Varginha, imitar a rede francesa Carrefour. Não dá, né?

Há um espaço imenso para oficinas. Maior que aquele disponível para boutiques. Como é uma aposta de menor risco, talvez fosse o caminho natural para 80% de nossas PME's de TI. Não estou "chovendo no molhado". Eu sei que a maior parte delas já atua assim, como uma oficina. Mas sua relação com as fábricas é distante e informal. Por exemplo, só em torno da Microsiga existem dezenas de pequenas 'oficinas'. Na maior parte formada por ex-funcionários, eles oferecem serviços de instalação, customização e manutenção do ERP fornecido por aquela empresa. Hoje são tratados como concorrentes. Todos ganhariam mais se a relação, inevitável, fosse formalizada e aproximada. Para cada oficina formal da MS, existem 50 informais. Os exemplos são vários.


Combinação Inteligente

Num dos vários artigos "oficiais" que li sobre estratégia e inovação, vi que aquilo que chamo de "combinação inteligente" tem um nome pomposo: "Adensamento do Tecido Produtivo". Um conjunto isolado de fábricas, por mais "nível 5" que estampe em seus prospectos, não faz muita diferença no mercado externo (e menos ainda no interno). Um conjunto isolado de boutiques, por mais "jeitinho brasileiro" que exale, não faria muita diferença no mercado externo. Oficinas não existem sozinhas.

Há tempos esperamos que governo, Softex ou um santo de plantão faça a necessária amarração. Sorte que estamos todos sentados. Porque podemos esperar mais 100 anos que nada acontecerá. Se a gente não quiser seguir o caminho sugerido pelo Meira, tá na hora de se mexer. Primeiro passo: fazer os primeiros laços, de baixo para cima. Fábricas estreitando seu relacionamento com oficinas. Fábricas utilizando produtos das boutiques. Fábricas incentivando e lançando boutiques. Boutiques gerando serviços para fábricas através de seus produtos.


Ok. Soou simplista demais. Mas acho que é por aí. No próximo episódio falarei especificamente sobre os produtos e serviços das boutiques. Inté.


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Notas:
  1. "The Squandred Computer" - Paul Strassmann, The Information Economics Press (1997). Texto obrigatório para empresas e governos. Tem 10 anos? Segue obrigatório: somos lentos demais.
  2. Números extraídos da revista Wired de fevereiro de 2004. Uma das capas de revistas mais belas e criativas de todos os tempos. Clique para ver uma versão ampliada.
  3. "A Meta" - Eliyahu Goldratt, Nobel (2002).
  4. "Rapid Development" - Steve McConnell, Microsoft Press (1996).
  5. Coincidência? Meira foi coordenador da maior pesquisa já realizada no hemisfério sul sobre Reuso de Ativos de Software. Conheça o RiSe. Baixe o CRUISE. Reuse!

Eu não sabia, mas a dupla "Arquiteto e Engenheiro" está junta até na festa. Na última terça, dia 11/dez, foi o Dia do Arquiteto e também o Dia do Engenheiro. Não creio que seja coincidência, mas também não corri atrás para descobrir. Não importa. Coincidência é que depois de amanhã (sab, 15/dez), um dos maiores arquitetos do mundo esteja celebrando 100 anos de idade. E eis que todo mundo abre generosos espaços para contar um pouquinho da vida e da obra de Oscar Niemeyer.

O caderno "Mais", da Folha do último domingo, trouxe curiosas leituras das "revoluções" de Niemeyer. Prós e contras!? Como toda unaminidade é beócia, adorei saber que existem "contras". Rica também está uma série de reportagens especiais do Jornal da Globo [1]. O capítulo de ontem foi especialmente chamativo: Engenheiros passavam noites em claro, atrás de soluções para os "problemas" criados por Niemeyer. A palavra "problema" com certeza não apareceu. Mas foi assim que li: o Arquiteto é um "criador de problemas".


Foto de Cristiane Souza (CC - Flickr).


E o que esse papo tem a ver com o Graffiti? Tudo. Não é de hoje que brigo muito para que TI "copie" mais outras áreas de conhecimento. Que aprenda com outras áreas. Há tempos, independente do trabalho, insisto (particularmente lá no finito) que tiremos das costas dos coordenadores de projetos uma parte do peso que eles carregam. Considerando sua formação básica, formalizada pelo PMBoK, sugiro que a disciplina "Gerenciamento do Escopo" vá para outra pessoa: para um Arquiteto.

Não estou sendo nada original não. Lá no distante 1975, Fred Brooks já dizia [2]:

Pensadores são raros. Executores são raros. Pensadores-executores são raríssimos.


Já defendia a tese quando conheci a proposta Scrum, um processo para gerenciamento de projetos. Tem algo muito parecido ali. Há um Product Owner - dono do produto, um Arquiteto (na minha leitura), e um ScrumMaster - o gerente do projeto. O primeiro é o pensador. O segundo, o executor. Jeff Sutherland, um dos "inventores" do Scrum, tem uma didática analogia: como numa equipe de Rally, o primeiro é o "Navegador" e o ScrumMaster é o "Piloto".

A mesma lógica ganha implementações diferentes, provocativas e promissoras. Não me lembro onde vi, mas a Promon tem desafiado alguns dogmas com coragem. Seus departamentos agora têm dois responsáveis. Um cuida do dia-a-dia, enquanto o outro "pensa a longo prazo". Sei, é um tanto diferente do que foi proposto no parágrafo anterior. Mas também serve para ilustrar a "tese".

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Comecei a entender a validade dessa "lógica" antes de conhecer qualquer teoria. Foi na prática, na necessidade, lá no início da década. Trabalhando na linha de frente, quase sempre eu levava para a empresa o problema já acompanhado de uma "idéia de solução". Um mix de requisitos do freguês com idéias que eu não conseguia segurar. Foi doloroso o aprendizado. Eu "carregava" demais em minhas próprias idéias. Aprendi que é um método muito eficaz de diferenciação. Mas, na dose errada, cria problemas. Corrigindo: cria mais problemas do que deveria. Porque, como eu disse lá no início, o arquiteto é (ou deveria ser) um "criador de problemas".

Depois, em outras funções, pude aprofundar um pouco mais as minhas experiências. Repito em minhas palestras e oficinas uma estranha dica: "Tenha um Arquiteto pessimista e um Engenheiro otimista". Combinação fantástica [3].

O Arquiteto pessimista é mais pé no chão. Domina bem a tecnologia em questão e compartilha com o freguês as suas "dores". Mas não viaja. É pragmático e ágil no desenho das soluções possíveis. Quando avaliando todas as possibilidades, em conjunto com a equipe, sempre fala "não" antes do "sim". Aqueles "nãos" que eram pura teimosia costumam morrer em 24 horas. E se converter em criativos e valiosos "sims". Repare: o desenho da solução acontece em grupo. O arquiteto guia o processo. E seu voto é mais valioso que os demais. A razão é simples: ele, por princípio, é o único com a visão do todo.

O Engenheiro otimista não é menos pé no chão que o arquiteto. A diferença fundamental é que ele não é tão negativo. Por natureza, ele não coloca barreiras. Entende que sua principal função é exatamente o oposto disso: eliminar barreiras. Ele trabalha com o time e para o time. Ou seja, é muito distante daquela figura clássica de "gerente". A hierarquia é mero detalhe. Sua liderança brota da experiência e do relacionamento que mantém com todos os envolvidos. Um otimista costuma se relacionar melhor. E suas "brigas" são sempre mais sutis, elegantes. Afinal, todos entendem e compartilham os mesmos objetivos. O engenheiro nunca esquece seus objetivos.

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Como nos ensina Domenico de Masi [4], "criatividade é a síntese de fantasia e concretude". Ou seja, não basta gerar brilhantes idéias. É preciso ter a capacidade de realizá-las. Um grande mito [5] que assombra inovação e criatividade é aquele do gênio, do inventor solitário. Brasília não existiria se não fossem os esforçados engenheiros que conseguiram transformar as fantasias de Niemeyer em concretude - em realidade.

Equipes de projetos são obrigatoriamente equipes criativas. Por definição elas estão criando. Quando compostas por pensadores e executores que se complementam, suas chances de sucesso aumentam bastante.

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Notas:
  1. Já reparam que todo conteúdo de melhor qualidade a Globo esconde nas madrugadas? Pq cargas d'água a série não entrou no Jornal Nacional? Seria demais para os Hommers, Mr Bonner? Santa Infelicidade.
  2. "The Mythical Man-Month". Outro conteúdo dos bons que fica "escondido" da gente. Clássico com quase 33 anos de idade, nunca mereceu uma edição em PT-BR. Pode?
  3. Nelson Ponce e Luis Felipe Braga foram as cobaias mais frequentes dessa experiência. Trocando chapéus, conhecimentos e algumas palavras de baixo calão - entre eles ou comigo no meio. Não importa. Como eu disse, foi uma combinação fantástica.
  4. "Criatividade e Grupos Criativos". Publicado originalmente pela Sextante com quase 800 páginas. Depois, tentando popularizar o título, a editora dividiu-o em duas partes. Para Hommers, Beócios ou preguiçosos?
  5. "Os Mitos da Inovação", de Scott Berkun, está saindo em PT-BR?!? Por isso não pára de chover. Mas seu primeiro título (que está mudando de título?!?), ainda é inédito por aqui. Chamava-se "The Art of Project Management". Não importa. Leia o novo e pegue um tira-gosto do antigo aqui.

Continuação de "A Boutique e a Padoca", pequena série que discute a diferença entre 'boutiques de tecnologia' e as 'padocas de periferia' - o hiato entre um modelo proposto (baseado em inovação e produtos de alto valor agregado) e o modelo atual adotado por várias empresas tupiniquins para a exportação de produtos e serviços de TI.



Peopleware

O fato de a Colaboração (de cérebros que não 'pertencem' à empresa) ser um dos 4 pilares da nova forma de se posicionar no mercado não isenta as organizações da obrigação de montar grandes times. Como vimos no artigo anterior, a colaboração só tem início a partir de uma idéia ou produto ou serviço - devidamente abertos. Uma idéia ou produto ou serviço atraentes só podem ser concebidos e iniciados por um grande time.

Não grande em tamanho, mas em capacidade criativa. Trata-se do exato oposto do que percebemos hoje em nossas 'padocas'. Ao estruturarem suas ofertas mirando o equivocado alvo do baixo custo, essas empresas se fizeram 'fábricas'. Apostam em um rígido processo que deve nortear o funcionamento de uma 'linha de montagem' de software. Isso será discutido no próximo tópico. O ponto aqui é outro: a aposta em profissionais de baixo custo [1].

Uma 'boutique de tecnologia' é muito diferente. Exige profissionais altamente qualificados, experientes e cheios de tesão. Gente que raramente é de baixo custo. Gente que muito dificilmente aceita contratos de trabalho fajutos e/ou draconianos. Gente rara em Pindorama, e por isso tão "cara".

Ao decidir pela conversão para o modelo 'boutique', mesmo que parcial e de pequeno porte, a organização deve questionar todos os seus princípios e práticas. A começar pelo processo de seleção e contratação. Em setembro de 2006 escrevi uma pequena série sobre a "Contratação de Gente Criativa". Não vou me repetir aqui. Só reforçar a mensagem de que o processo é consideravelmente diferente. Alguns tabus como a exigência de curso superior, por exemplo, devem ser seriamente questionados [2].

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'Boutiques' top de linha, como a Google, dão muita liberdade para seus profissionais. Eles podem, por exemplo, escolher seus projetos. E mudar de projeto sempre que desejarem. O que pode parecer um caos para um gerente 'tradicional' é, na realidade, um grande diferencial. Uma garantia de que o profissional sempre estará onde se sente melhor, onde se sente mais útil. Onde, consequentemente, ele será mais produtivo.

No caso da Google só há um instrumento que a empresa e seus gerentes podem utilizar para 'manipular' seus colaboradores: incentivos. Financeiros! Projetos estratégicos garantem para seus participantes uma bonificação diferenciada. Não promessas soltas, condicionadas ao sucesso da empreitada, mas grana de verdade no final do mês, no hollerith (ou seja, grana legal - nada de "por fora", ok?).

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O Maior Custo da Inovação

Uma 'padoca' é concebida para não errar. Equipamentos, receitas e ingredientes são destacados para o combate aos erros. Pessoas são penalizadas pelos erros. Prevalece a busca obsessiva pela 'qualidade total'. Cria-se assim uma cultura que é antagônica àquela que deve caracterizar uma 'boutique'. Antes de um acerto, uma 'boutique' erra muito. E esse é o seu maior custo.

A mais importante ferramenta do físico é sua cesta de lixo.
- Albert Einstein

As duas ferramentas mais importantes de um arquiteto são a borracha na sala de desenhos e a marreta na construção.
- Frank Lloyd Wright


Em 'boutiques' a la Intel ou Apple, os acertos carregam em seus preços todo o custo dos erros. Google e outras 'boutiques' de última geração têm uma estratégia um pouco diferente: uma 'vaca leiteira' (busca e publicidade, no caso da Google) banca todos os fracassos. Neste caso, faz-se necessária uma característica muito cara para o mind-set de 'padoca': o desapego, a noção exata da linha que separa persistência de teimosia. A Google não teve 'dó' de cancelar seu projeto "Answers", por exemplo. Ou seja, há um limite de tolerância para erros. E todo projeto bem definido conhece o seu.

Numa 'boutique' os erros raramente são penalizados. O pessoal nunca convive com o medo do fracasso. Isso é particularmente importante em fases iniciais de planejamento ou definição de um produto ou serviço. Idéias que parecem estúpidas em um primeiro momento podem se provar grandes, revolucionárias ou inovadoras. Aliás, na maioria das vezes, são as idéias que enfrentam maior resistência aquelas com maiores chances de sucesso [3].

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Processos

Uma 'padoca' vive da repetição infinita de processos pré-definidos. Uma 'boutique' não sobrevive se não apresentar uma nova coleção a cada estação.

A montagem de fábricas de software para o atendimento do mercado externo forçou uma corrida por coisas caras como as "certificações" CMMI [4] e afin$. Garantias que são oferecidas para os clientes mais ou menos assim: "Garanto executar meus projetos repetindo os acertos, limando os erros, e melhorando sempre". Não há nada de errado com a mensagem. O problema é que uma 'boutique de tecnologia' não depende de nada disso.

Uma 'boutique' é avaliada pela inovação ou criatividade [5] de seus produtos e serviços. Uma 'boutique' moderna:
  • É avaliada pela qualidade das conversas que ela mantém com seu mercado - lembre-se: suas transações comerciais só começam depois que a conversa é estabelecida e mantida (vide YouTube, Facebook, Boo-Box etc);

  • Consegue iniciar conversas porque antes estabeleceu relacionamentos. Vimos no artigo anterior que o compartilhamento de produtos e serviços abertos e relativamente livres é o melhor convite para a colaboração. E a colaboração de clientes e parceiros significa a criação de sólidos relacionamentos.
Se uma idéia não é inovadora, criativa ou sexy o suficiente, ela não atrairá muitos relacionamentos. E é neste ponto que aparece outra diferença fundamental entre as 'padocas' e as 'boutiques'.

A 'padoca' precisa de um processo forte, relativamente rígido. Claro que as fábricas jogaram suas fichas em padrões como CMMI, PMBoK e afins. Saca só: a palavra "Criatividade" não aparece em nenhum momento no documento CMMI for Development 1.2 (ago/2006); a palavra "Inovação" só aparece no nome de uma área do processo, "Organizational Innovation and Deployment" (OID - Nível 5). Ou seja, não tem nada a ver com a inovação que tratamos aqui; a palavra "Criatividade" aparece 3 vezes no PMBoK (Terceira Edição, 2004), mas também não tem nada a ver com a criatividade que buscamos aqui; "Inovação" não tem uma única ocorrência no PMBoK. É claro que Criatividade e Inovação não estavam no escopo dessas iniciativas.

Mas elas são tudo em uma 'boutique'. É por isso que as 'boutiques' precisam de um conjunto de ferramentas bastante diferente daquele adotado pelas 'padocas'. Pensou Ágil? Adjetivo ou substantivo? Brincadeirinha...

Como eu disse em outro lugar, existem muitas bullshitagenzinhas no mundo "Agile". Algumas das principais são o radicalismo e a impaciência de alguns proponentes. Nada muito sério. Mas, o fato é que estão lá (no mundo "Agile") algumas das práticas mais recomendadas para as 'boutiques'. Não há espaço para ser muito específico, então vamos para as principais:
  • Liberdade: a 'boutique' sabe escolher as ferramentas e práticas mais adequadas para determinado projeto. Scrum, OpenUP, FDD, salamemingüê? Não importa. Tanto que não há restrição alguma à adoção de algumas práticas estranhas ao mundo "agile". O importante é ter o melhor. E mais ágil (adjetivo).

  • Auto-gerenciamento: "Aquilo que é criativo deve criar a si mesmo", já dizia o poeta John Keats lá no século XIX. Uma equipe criativa gerencia a si mesma. O que não tem nada a ver com aquelas proposições de equipes de "iguais", de especialistas-generalistas ou vice-versa (sei lá, nunca entendo e a proposta sempre me soa um tanto "facista").

    Criatividade vem da diversidade. Uma equipe criativa é plural. É multi-disciplinar: recheada de Especialistas de verdade. Como o saudoso (e cada vez mais necessário) Peter Drucker falou [6], "Conhecimento, por definição, é especializado. Com efeito, as pessoas realmente detentoras de conhecimentos tendem ao excesso de especialização, qualquer que seja seu campo de atuação, exatamente porque sempre se deparam com muito mais a aprender".

    Drucker nos ajuda inclusive a entender outra grande diferença entre as 'padocas' e as 'boutiques': "A organização baseada em informações exige, em geral, muito mais especialistas do que as empresas tradicionais do tipo comando e controle".

    Alguém poderia dizer: "oras, mas as nossas 'fábricas' são organizações baseadas em informações". Sim, então tente explicar porque elas são "do tipo comando e controle". Incoerente, não? Mas este é outro assunto.

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Agora falta falar um pouco sobre os produtos e serviços de uma 'boutique'. Algo do tipo: "onde colocar minhas fichas?". Com certeza, sairá outro looongo papo. Então fica para a próxima. Inté!

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Notas:
  1. É relativamente comum que esse pessoal de "baixo custo" seja chamado de "macaquinho". Várias brincadeiras pintaram até então. Quero ver agora que descobriram (no Japão!) que os chimpanzés têm uma memória melhor que a nossa. Um passo para a metáfora perder sentido? hehe..
  2. Uma bela 'boutique' da Oceania (ThoughtWorks) acaba de 'roubar' um de nossos grandes caras, o Philip "Shoes" Calçado. Ele não tem diploma.
  3. Duvida (que são as idéias que mais sofrem resistência aquelas com maiores chances de sucesso)? Leia o excelente "How to be Creative" (paper gratuito - ChangeThis) de Hugh McLeod.
    Segue duvidando? Então mergulhe um pouco mais e leia "The Myths of Innovation" de Steve Berkun.
    Não se convenceu? Então pegue suas idéias que todo mundo aceita de boa e monte um boteco (de Boa). Ou uma padoca (de Zeca), sei lá. Só sei que não recebi jabá por essa.
  4. Coloquei "certificações" assim, entre aspas, pq entendo que CMMI não é só uma certificação. Reconheço sua utilidade para determinados tipos de organizações também. A única coisa que tentei enfatizar acima é que CMMI não tem nada a ver com uma 'boutique de tecnologia'. Assim como o PMBoK, ISO, CSM, PMP, sorvetecolorê e afins. Só isso.
  5. Apesar de sempre ver os termos "inovação" e "criatividade" serem utilizados de forma intercambiável, sigo com Domenico De Masi:
    Inovação significa pequenos incrementos em cima de uma idéia já conhecida - pequenos mas valiosos. Inovação é uma Evolução. Já um produto realmente criativo representa uma Revolução. A diferença é grande.
  6. Citação do Drucker foi surrupiada do artigo "O Advento da Nova Organização", publicado originalmente na Harvard Business Review em 1988.
  7. Ok, você não viu o número 7 no texto acima. Acontece que sou fanático por listas com 7 itens: "Os 7 hábitos dos enroladores de plantão"; "Os 7 hábitos dos jogadores-chinelinho"; "As 7 Maravilhas da Zona Verde de Bagdá" e por aí vai. Brincadeirinha...

    Acontece que o texto desta série foi MUITO inspirado em outros trabalhos que não foram citados explicitamente. Segue a listinha:

    • Confused of Calcutta, de JP Rangaswami. Todo o papo sobre Relacionamentos -> Conversas -> Transações.
    • Wikinomics, de Don Tapscott e Anthony Williams. De lá (e do livro) surrupiei "Abertura, Colaboração (peering), Compartilhamento e Ação Global".
    • CMM-BR e UML-BR, dois grupos de discussão. Nem vou citar nomes, mas vieram de lá várias idéias e contra-idéias (?) desta série.
      Contra-idéia?!? D'onde eu tirei isso? Sei lá, só sei que expressa exatamente o que eu queria dizer. Homenagem aos "do contra". Minha eterna fonte de inspiração.

A Boutique e a Padoca

04 dezembro 2007

Semana passada comentei aqui uma entrevista com Marco Bravo da IBM. Falando que Pindorama não tem condições de concorrer contra quem cobra US$ 1 por hora de programação, ele sugere outra estratégia: que nos transformemos em uma "boutique de tecnologia". Não sei se ele tem exata noção do impacto de sua sugestão. Afinal, a própria IBM investiu muito no modelo que chamei de "padoca de periferia".

Nada contra as "padocas". Muita coisa contra o "modelo". Apelei para o termo porque ele mostra com exatidão a distância que existe entre as duas estratégias.

Fotos de Carlos Emerson Jr e Annia316, respectivamente.

Wikinomia

O termo pode parecer uma 'bobeirinha', mas as tendências documentadas por Don Tapscott e Anthony Williams no livro "Wikinomics" (Nova Fronteira, R$ 50) não podem ser ignoradas por ninguém que queira criar ou manter um negócio no século XXI. Muito menos por quem pretende ser uma "boutique de tecnologia".

Quatro princípios, sempre em conjunto, norteiam as estratégias e táticas das empresas que se destacaram nos últimos tempos:
  • Abertura: processos e produtos são abertos. Código-fonte ou, no mínimo, API's (Interfaces Programáveis de Aplicações), são oferecidas sem praticamente nenhum tipo de entrave (técnico, comercial ou legal). Ao derrubar muros e grades que "protegem e escondem" seus jardins, as empresas enviam convites para a Colaboração.

    Numa "padoca de periferia" o raciocínio é diferente. Há obsessão por controle da "propriedade intelectual"; existem serevas punições contra ladrões e piratas. E, de certa maneira, a empresa é uma grande "caixa preta". Ninguém vê direito o que o padeiro está fazendo, nem como. O pão sai quentinho? Nem sempre na hora combinada. Nem sempre no peso acertado. Nem sempre na receita previamente aprovada. Quer dizer, quase nunca temos o nosso pão quentinho! (70% é o número chutado de projetos que falham).

  • Colaboração: o princípio é básico: sempre existirão mais mentes brilhantes fora do que dentro da empresa. Quando você os "convida" para trabalhar contigo, abrindo seus processos e produtos, pode ganhar um poder criativo inimaginável em qualquer outra forma de organização conhecida pelo homem. Qual a contra-partida? Depende. A Google acaba de liberar o Android, o sistema operacional baseado em Linux e Java* que deve equipar centenas de celulares já em 2008. As melhores colaborações repartirão um prêmio de US$ 10 milhões. Só há uma certeza: vai colaborar (voluntariamente) quem achar que também pode ganhar alguma coisa com seu produto ou processo. Aprendizado? Grana? Um produto melhor? Experiência? Uma nova oportunidade de negócio ou emprego? O limite é a criatividade. Lembre-se: Abertura. E Compartilhamento.

    Nossas "padocas de periferia" colaboram muito pouco, entre si e com a imensa comunidade de TI. Sem abertura não há possibilidade real de colaboração. A melhor provocação raramente é utilizada: "A melhor equipe nunca estará aqui, sempre estará lá fora". Será difícil para alguns empresários aceitarem esse fato, mas é a pura verdade. Conseqüência esperada: se você não ocupar os cérebros que estão lá fora com bons projetos abertos, sua concorrência o fará. Nossa lentidão gera efeitos piores: tem muita gente boa nossa trabalhando para "boutiques" de fora. Fora de Pindorama.

    * Não por acaso, o uso de padrões e sistemas abertos também caracteriza modernas boutiques.

  • Compartilhamento: Ao contrário de Don e Anthony, não vou destacar neste princípio as questões de propriedade intelectual (já abordadas no 1º princípio). Falemos então de compartilhamento de espaços e recursos, de técnicas e pessoas. Seth Godin abriu seu escritório para que idéias de campos diferentes também fluissem por lá. O Hub-SP deve reunir, num mesmo dia, gente de moda, design, TI, culinária, cinema e revistas.

    Nossas "padocas" são possessivas e ciumentas. Seus muros não travam só propriedade intelectual, mas qualquer tipo de propriedade. E o apego aos bens físicos é um tanto estranho em tempos de vida digital. Compartilhar poder computacional? Que eu saiba, nem por razões filantrópicas.

  • Agir Globalmente: lembre-se, este texto foi provocado pela necessidade (!) de Pindorama vender produtos e serviços de TI no exterior. Como Don e Anthony destacam em seu texto, não basta mais apenas "pensar globalmente". E ação global é muito mais do que abrir filial no exterior. Ainda mais se for apenas um "escritório comercial". Nossos processos precisam ser globais. Tratando de software especificamente, faz todo o sentido que "braços técnicos" existam ao redor do globo.

    A lógica das padocas, segundo uma edição da "B2B Magazine" (nº 40, mar/04) que se propôs a nos ensinar a exportar software, é "preço, preço, preço". É a lógica que está no núcleo, na raiz do erro apontado por Marco Bravo: de que conseguiríamos concorrer com Índia e China. No preço!?! Uma conseqüência é nosso baixo QI global - afinal, só abrimos "escritórios de vendas". Outros efeitos colaterais serão apontados no decorrer do artigo.
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Wikinomia Prática

A wikinomia na prática, ou seja, a realização de negócios nesse novo mundo, é um tanto diferente do padrão que caracterizou a economia do século XX. Uma "boutique de tecnologia" presta atenção na seguinte seqüência:
  • Relacionamento: se posicionar no mercado é estabelecer uma série de relações. Você acelera a construção de uma rede de relacionamentos quando é transparente, franco, livre - ou seja, Aberto. Só depois de estabelecer um relacionamento você tem condições de...
  • Conversar: trocar idéias, dores e "listas de desejos" com aqueles que participam de sua rede. Se você colabora e compartilha, é factível supor que boa parte de suas conversas serão sobre seus produtos e processos. Se há conversa, é sinal que boa parte de sua rede mostrou interesse no que você quer falar. É o primeiro (e verdadeiro) passo para que você possa realizar...
  • Transações: afinal, agora há uma relação de confiança. E seus produtos, idéias e serviços fazem sentido para uma "comunidade". O legal é que, quanto mais ela colabora contigo, mais gosta do seu produto ou serviço. Dependendo do tamanho da sua rede de relacionamentos, você estará Agindo Globalmente.
Que a simplicidade do "algoritmo" acima não o deprecie. A nova lógica dos negócios é assim, simples assim. O que não significa, de forma alguma, que seja fácil a sua implementação.

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Estranho, mas quando pensei neste artigo, a intenção era falar só (!) de equipes (formação de), processos de desenvolvimento e afins. Depois reparei que o papo não faria muito sentido se implantando com nosso atual "mind set" comercial. So...


Link direto para a 2ª parte.

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Curiosidades levemente acopladas:

João Sayad, secretário da Cultura de SP, esteve ontem (segunda, 03/dez) no Jornal da (TV) Cultura. Foi falar sobre uma tal "Indústria Criativa". E apresentou números estranhos e provocadores:

7,7% da população economicamente ativa de Sampa (metrópole) atua na "Indústria Criativa". A média tupiniquim é de 5,3%. Claro, nós de TI não estamos inseridos no meio. Merecemos?

Claro que não. Só quando virarmos, de fato, uma "Boutique de Tecnologia". Porque quando falamos de produtos com alto valor agregado, estamos nomeando e reservando a sua principal matéria-prima: Criatividade!



O projeto de laptop da Mandy, 8 anos. Conheça outras propostas.

Tem duas coisinhas erradas na carreira que desenvolvo há dois anos e pouco. Ambas estão explícitas na forma como me apresento: "Consultor" e "Independente". O problema com a primeira é conhecido: Consultores, assim como os gurus, têm uma fama ruim. Não raro ouvimos por aí que eles (nós) ganham (os) "muito dinheiro por nada". Que também costumam fazer "muito barulho por nada". E por aí vai. Nada mais mentiroso. Mas a maioria sempre paga pelos "extremos". Mas eu abri este post para falar do outro probleminha: minha falsa "independência".

Nunca na história da humanidade houve independência de verdade. Nem o Urtigão, em sua casinha no alto do morro, era totalmente independente. Quando anexei o adjetivo à minha proposição de função, imaginei passar a seguinte mensagem: "Não tenho rabo preso com ninguém. Ao sugerir ou te ajudar no desenvolvimento de uma solução, ninguém (a não ser você) influenciará no desenho da solução". É uma mensagem legal e gosto de reforçá-la. Comissões e afin$ não são receitas previstas no modelo do finito . Mas, caramba, como eu sou dependente.

Por exemplo, eu não conseguiria nunca organizar e promover sozinho minhas oficinas (workshops) e palestras. É muito trampo. E eu precisaria de uma rede de contatos muito maior que os 5k endereços eletrônicos que consigo acessar diretamente e indiretamente (via grupos de discussão e sites de relacionamento). Reforço: entendo que é muito trampo e muito 'conhecimento'. Mas a relação é um tanto injusta. Quando muito, seu trabalho e conteúdo valem de 25% a 30% do valor total do ingresso. Consolo: plantadores de mandioca no sertão baiano ganham menos dos atravessadores que levam seus produtos para os 'centros consumidores'.

Quero crer que seja só uma fase. Falta de concorrência e falta de infraestrutura e coisa e tal. Se demorar muito, talvez nossa solução seja parecida com aquela de alguns plantadores de mandioca: formar uma cooperativa e limar o atravessador do negócio. Ainda não vale a pena. Mas, se muitos 'pseudo-independentes' reclamarem da mesma dor, talvez seja realmente esse o remédio "menos pior".
[Uma fichinha tilintou: o Hub-SP, com suas salinhas de reunião para 20-30 pessoas, será uma local muito jóia para oficinas e palestras versão "pocket"].

Mas, a gota d'água que motivou este post não tem nada a ver com os eventos. Comecei a fase em que devo me preocupar com a comercialização do meu livro. Até aqui, dependi de mais de 200 pessoas e 200+ livros e 2k artigos para desenvolvê-lo. Participantes de minhas palestras e oficinas foram convidados para um grupo de discussão exclusivo, onde o tema é debatido e amadurecido. A gráfica e editora é de meus dois manos (de sangue), Cacá e Guz Vasconcellos. Então, de certa forma, a "independência" foi preservada. Mas a distribuição e comercialização do livro é outro papo.

Tenho alguns "requisitos fundamentais" dos quais não abrirei mão:

  • O livro será publicado com licença Creative Commons. Ou seja, sua cópia e distribuição (aka Pirataria) serão liberadas.
  • Texto e todos os artefatos "periféricos" serão publicados em diversas versões, em diferentes combinações de átomos e/ou bits. Cada público merecerá uma versão específica.
  • Não espero ganhar R$ 0,01 com o livro, mas ele deve se pagar.
Pois bem, eu preciso muito de um espaço digital para realizar parte de meus requisitos. Um local que seja flexível, que consiga comercializar tanto a versão 'átomo' (impressa e encadernada) quanto a versão 'bit' do rebento.

Por incrível que pareça, não consegui encontrar tal espaço aqui no Brasil. O mais próximo que achei segue a lógica dos atravessadores: remunera o autor em 40% do preço de capa. Ok, é bem melhor que a proposta das editoras tradicionais. Mas, ainda assim, uma injustiça. Por depreciarem tanto o conteúdo, não me surpreende que tenhamos tantos livros 'descuidados'* publicados por aqui.

Pois bem, para meu desgosto, se eu quiser manter meu prazo e meus requisitos, talvez eu tenha que gerar uma graninha para a terra do Tio Sam. Só lá encontrei um serviço bem legal para a divulgação, distribuição e comercialização do livro. O Lulu. Eles embolsam apenas 20% do que eu vender. Saca só: 1/3 do que o equivalente tupiniquim cobra. Mas não é só uma questão de valor. O serviço é muito flexível e ágil. O livro é impresso por demanda! Se o corajoso leitor pedir uma capa dura, por exemplo, "no problem". Politicamente correto, o Lulu promete até uma política especial de preços de frete para a América Latina.

A dependência é inevitável. Mas ela pode ser saudável. Resta-nos escolher bem onde amarramos nosso burrinho, certo?

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* Repare nas capas da maioria dos livros técnicos tupiniquins. Confira a qualidade da encadernação e da impressão. Se fosse um trabalho nota 10, talvez a remuneração fosse menos injusta.

A série Flashback foi criada para comemorar os 3 anos do Graffiti. No começo do mês vasculho meus arquivos atrás de algo que mereça ser relembrado. Acabo de voltar para dezembro/04 e me surpreendo: muitos temas que eu quero retomar aqui (de quando em vez bate uma vontade danada de parar de falar do meu grande amor, a MS). Os graffiares daquela época eram mais genéricos. Sei lá por que fase eu estava passando, mas saca só uma citação do Peter Drucker:

Poucos percebem o óbvio.

Parece óbvio? Sim, mas realmente poucos percebem. Pq? Talvez pq trabalhem demais. Né Millôr?

Quem se mata de trabalhar merece mesmo morrer.

Na mesma época eu estava mergulhado no trabalho e nas idéias do Nicholas Negroponte. Pré-OLPC. Fiz uma coletânea para comemorar os 10 anos de seu único livro, "A Vida Digital". Difícil destacar um único ponto de seu trabalho. Vou apelar para o óbvio:

Ainda estamos presos em um mind-set fundamentado em átomos. Um dia visitei uma empresa e a moça da recepção falou que precisava registrar a entrada do meu laptop. Perguntou o valor e eu disse, "uns US$ 2 milhões". Ela disse que não era possível. Viu que se tratava de um Powerbook e anotou na fichinha (de papel): US$ 2 mil. Ela não tinha idéia do que eu carregava gravado no disco rígido...

No meio de tanta inspiração legal, eu tinha que gerar algum conteúdo original, né? Blog que só cita é igual CD "best of". Só vale para preguiçosos. De preguiçosos para preguiçosos. Ancorei minha pseudo-originalidade em Chico Buarque (pecado mortal abaixo da linha do equador), e publiquei minha homenagem aos gurus:

O Meu Guru

Quando, seu moço, careço d'um alento
D'uma [declaração de] Visão prá enxergar
Já vou correndo atrás d'um homi
D'alguém que tenha um nome prá mostrar
Como vou comprando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua caretice ele um dia me disse
Que Enxergava lá
Olha aí
Olha aí, ai o meu Guru, olha aí
Olha aí, é o meu Guru
E ele chega

Chega com carro veloz e relusente
E traz sempre o presente pra me encabular
Tanta tendência de ouro, seu moço
Que haja bolso prá bancar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Note, palm, terço e patuá
Insenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me achar, olha aí
Olha aí, ai o meu Guru, olha aí
Olha aí, é o meu Guru


(Surrupiada de 'O Meu Guri', do grande Chico Buarque.)

Limpei a consciência citando T.S. Elliot:

Poetas imaturos imitam; poetas maduros roubam.

Hehe... Se meu mundo fosse só de átomos, eu ia precisar de muros bem grandes. E litros e mais litros de spray...

Finalmente, depois de muito chororô, parece que finalmente "ganharei" um escritório em Sampa! Endereço: Bela Cintra (!), 409! Saca só:



Tô falando do "The HUB São Paulo", que se apresenta como "ESPAÇOS PARA INOVADORES SOCIAIS TRABALHANDO PARA UM MUNDO RADICALMENTE MELHOR". Radical? A gente ainda não viu nada.

Saca só a listinha de requisitos da Letícia.

Como será o primeirão e inédito por um tempo, meu único temor é o tamanho da fila de espera... Mas que o Hub seja bem sucedido. E gere 'n' cópias Pindorama afora.

Antes de mais nada, muito obrigado pelas manifestações de apoio. Parte delas chegou ainda antes das 16h20, o que me fez ressuscitar e remixar a "frase" do Otto:

"Mineiro só é solidário no câncer e no rebaixamento."


Acidez que já estava comigo desde o despertar. Comentei com a mama: "Nunca fui rebaixado, mas tenho certeza de que essa sensação estranha significa que o Timão hoje danssa*".

Quando as falcatruas estouraram de vez, há alguns meses, eu já havia decidido que torceria pela queda: "Vamos lavar a alma com q'boa". Mas confesso que, de umas 4 rodadas para cá, tive uma recaída. Não por causa do time, mas pela torcida. Quando meu presente de aniversário foi aquele pênalti catado pelo Felipe, vi que poderia haver alguma razão para a permanência na primeirona. Bobagem...

O futebol, ao contrário do que muitos acreditam, é justo pra caramba. Raramente você paga à vista. Mas paga. Foi assim com Palmeiras, Botafogo, Atlético-MG, Bahia, Vitória, Sport, Náutico, Santa Cruz, Coritiba, Grêmio... Com exceção do Palmeiras, nenhum outro da listinha aí cometeu tantos pecados quanto o Corinthians. Diz a sabedoria popular: "Faz aqui, paga aqui". Demorou um tempinho, mas finalmente o Timão pagará pelos seus pecados, desmandos e gambiarras.

Como todos os "noticiários" desde a noite de ontem já mostraram, difícil mesmo será aguentar a exploração da mídia. Parece enterro de gente importante. Oras, eles estão falando com uma nação com mais de 30 milhões de habitantes. Fora os milhões de anti-timão. Sabem que o papo renderá bom ibope até dezembro de 2008. Difícil será aturá-los. Pô, até Caco Barcellos foi escalado com sua trupe de trainees... Estamos achados quando tudo o que desejamos é estar perdidos... esquecidos. Nem que seja por uma semana. Ou dois meses.



Também não faltarão as receitinhas para o renascimento. 30 milhões de gerentes e presidentes apresentarão as suas. Como detesto lugar comum, abro mão de apresentar a minha. Me limitarei ao grande alvo: no ano do nosso centenário, 2010, queremos a Libertadores e o Mundial.

Sim, papo de maluco: "Sou louco por ti Corinthians!"

Decadence Sans Elegance

28 novembro 2007

Diz aí, o que aconteceria com uma Intel "da vida" se ela lançasse, 5 anos depois, um processador com a metade da performance do anterior?

Vamos mais longe: o que aconteceria com a Ferrari (na F1), se seu modelo 2007 tivesse a metade da performance do modelo 2001?

Pois é: testes (fidedignos!) garantem: o Vista, mesmo com o SP1, tem menos de 50% da performance do XP com SP3. Haha..

Num dos testes, enquanto o 'Berrante' se arrastou por 80 segundos, o XP precisou de 35". Todos foram executados num Dell XPS M1710 com um Core Duo de 2Ghz e 1Gb de RAM.

Pq a decadência se dá sem um mínimo de elegância? Pq quando confrontado com os números de adoção do Vista pelo mundo corporativo (13% em um ano), um VP da MS (aka porta-foz do Ballmer) me saiu com essa: "O mundo não está pronto para o Vista". Hahaha 10x!!

Diz aí: essa coisa tá pronta?

Não posso citar nomes. Mas posso contar pequenas histórias que comprovam uma tese batida: o andar de baixo imita o comportamento e a ética do andar de cima. Mesmo quando sabe que está "jogando sujo". Os dois causos abaixo envolvem "representantes" de gigantes transnacionais.

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Julho de 93 (pois é, sou jurássico). Numa empresa de médio porte do Sul de Minas abri uma concorrência para a aquisição de um novo servidor. Finalmente podíamos comprar o supra-sumo da tecnologia - a reserva de mercado tinha acabado. Eu precisava trocar uma máquina Digirede (baseada em Motorola 65030, com uns 128kb de RAM) por algo mais moderno e robusto. Processador RISC, megas de RAM e disco respeitável. Duas empresas, ambas de BH, entraram na concorrência. O empresa A me pediu uns US$ 15k. A empresa B, US$ 14k. A documentação da concorrência dizia bem: preço não era o fator fundamental. Buscávamos uma plataforma nova, aberta e extensível.

A opção A, tecnicamente falando, era muito superior. Descobri tempos depois que foi uma das primeiras instalações do processador PowerPC no Brasil. Para ser mais exato, a 7ª máquina. As outras 6 foram instaladas na Petrobras. Pensa bem, uma cooperativa de leite, no Sul de Minas (não, não é aquela envolvida em "soda cáustica"), numa cidadezinha de 15 mil habitantes, com uma máquina tão... nova! Mas... desviei o assunto.

Fiz a opção técnica e a justifiquei para a diretoria, que aprovou minha sugestão. Comuniquei as duas empresas concorrentes. Na manhã seguinte, a empresa B envia um fax para nosso diretor administrativo oferecendo sua máquina por US$10k. Mineiro que não sabe lidar com mineiro: sua empresa foi proibida de participar de qualquer nova licitação da cooperativa.

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Entre 2001 e 2002 desenvolvemos uma boa parceria com um freguês do Paraná. Era a 3ª vez que eles compravam um upgrade de um projeto nosso. Projeto que foi destacado pelo presidente daquela empresa como estratégico. Apareceu até na EXAME, da Abril. No mercado de serviços é assim: freguês só é freguês de verdade quando realiza a segunda compra. Estávamos na terceira transação: relacionamento consolidado. Frágil sempre é, mas a confiança mútua é nítida. Por isso o freguês nos chamou para um novo projeto. Muito maior, mais complexo e tão estratégico quanto o primeiro.

O freguês, ao contrário de muitos, tinha uma visão bem clara de sua plataforma tecnológica. Dada a criticidade e relevância do projeto, achei por bem comunicar o fornecedor daquela plataforma tecnológica. Esperava seu envolvimento técnico e, claro, comercial. O fornecedor destacou um colaborador de sua filial naquele estado para o primeiro atendimento.

Uma semana depois o freguês me liga: "Não entendi. O cara chegou aqui, entendeu o projeto por cima e disse que tinha um parceiro para indicar". Apunhalada pelas costas que o fornecedor nunca sequer admitiu. Mesmo em reuniões em sua matriz, em Sampa, a desculpa era sempre a mesma: "Não temos nada registrado em nosso 'histórico'". Céus... decidi então que era a última vez que me relacionava com aquela empresa. Não dá pra confiar em quem não tem ética e tem um estoque de óleo de peroba maior que a mega-jazida de Tupi.

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Escolhi duas entre dezenas de histórias que mostram, entre outras coisas, o quanto nosso mercado é sujo. E que a sujeira, o mau comportamento, é herdado do andar de cima. Engraçado é que, com o tempo, você ganha fama de bobo. A sujeira é muito disseminada, e tem tempos que você acha sim que é bobo. Seguirei bobalhão. E colecionando amores.

Ontem falei do OLPC e da "ética" WinTel (leia-se MS + Intel). Me avisaram d'um absurdo que está prestes a ocorrer na Nigéria (outra esquina do terceiro mundo). Versão resumida do causo:

O governo daquele país africano queria comprar 17 mil máquinas para a estudantada. No primeiro dos desvios de difícil explicação, optou pelo Classmate da Intel (em detrimento do XO da OLPC). Ok. Como negociavam hardware e software em separado, abriram e fecharam acordo com a Mandriva. O Mandriva Linux seria o sistema operacional das maquininhas. Tecnicamente, uma escolha bem feita. Pronto, podia tudo ter terminado assim. Mas, sabe-se lá pq, o governo nigeriano torrará grana com software de novo! E trocará o Mandriva pelo Windows!?!?

François Bancilhon, da Mandriva, escreveu uma carta aberta para Steve Ballmer. Saca só um trechinho:


Wow! I’m impressed, Steve! What have you done to these guys to make them change their mind like this? It’s quite clear to me, and it will be to everyone. How do you call what you just did Steve? There is various names for it, I’m sure you know them.

Of course, I will keep fighting this one and the next one, and the next one. You have the money, the power, and maybe we have a different sense of ethics you and I, but I still believe that hard work, good technology and ethics can win too.


O que ocorreu entre a escolha do Mandriva e a decisão de trocá-lo pelo Windows? Temo muito que o afastamento do governo brasileiro do projeto OLPC sofra d'algo parecido. Aliás, temo muito pelo futuro desse tipo de iniciativa. Tem muita grana em jogo. Tem 1 bilhão de "brinquedinhos" em jogo. E tem gente que joga com regras muito esquisitas, quando não escondidas. Pergunto: quem fiscaliza isso?

Último detalhe: repare neste outro artigo da ZDNet que o Brasil deixa de ganhar um dinheirinho com a decisão do governo nigeriano. Apareceu algo sobre na nossa "prensa"? Não vi...

Quando estudamos criatividade e inovação, uma das primeiras lições é: nunca julgue as idéias de "bate-pronto", de imediato. Trata-se de uma das 4 regrinhas fundamentais que delimitam uma sessão de "toró de parpite" (também conhecida por Brainstorming). Mas a regra vale para todos os momentos.

Pois bem, em 10/out/05 pintou por aqui o graffiare #175, destacando o mais hilário vencedor do prêmio IgNobel daquele ano, o incrível CLOCKY:

O Clocky é um simpático despertador que tem uma característica inédita: ele sai correndo. Isso mesmo, quando desperta, nada de tecla "soneca". Além de disparar o barulhão, ele sai correndo pelo quarto e pela casa. Ou seja, deve ser super eficaz para arrancar roncadores da cama. Mas, lá em 05, mereceu um IgNobel e um graffiare.

Pois bem, qual não foi minha surpresa quando vi o bichinho na penúltima página do guia de Tecnologia (jabá-driven) publicado pela Veja no último final de semana. Gostou? US$ 50 é o preço do simpático (ou irritante) corredor.

ou Uma Padoca de Periferia?

Há mais ou menos 1 mês o "bicho tá pegando" em alguns grupos de discussão, particularmente no CMM-BR e no UML-BR. Assuntos intercalados, debates acalorados: Universidades x Mercado, USP+Unicamp+outras x resto do mundo, Brasil x Índia+China, Dunga x resto do Brasil... O Dunga é sapo (em todos os sentidos possíveis), o resto é papo sério. Muito sério.

A última thread (em ambos os grupos) foi motivada por este artigo da Bites. É uma entrevista com Marco Bravo, diretor de software da IBM.br. Saca só o graffiare:


Como vamos disputar com alguém que cobra US$ 1 por hora de trabalho? Deveríamos considerar outras opções.


Ele não é o primeiro a falar que a concorrência com a Índia e a China, nos moldes atuais, é um caso perdido. Mas, pelo jeito, é o primeiro a ser ouvido. Ou levado a sério. Porque, até então, a norma era o velho espírito de galvãobuenismo, também conhecido por "me engana que eu gosto": Gostamos de inventar metas de exportação de software de US$ 2 bi quando realizamos só uns US$ 4 mi.

Segundo Marco Bravo, nossa saída é virar uma "boutique de tecnologia". Como eu gosto de dizer, ambição pequena é bobagem [1]. Uai, não soou incoerente com o que acabei de criticar no parágrafo anterior? Leia a observação [1] abaixo. Não mudamos praticamente nada. Torramos uma graninha reinventando rodas (MPS.br) e patrocinando algumas excursões. Nenhum dos movimentos (subsidiados ou não) mirou seriamente o salto de US$ 4 mi para US$ 2 bi.

A ambição proposta pelo Bravo é diferente: alterar radicalmente o perfil de nossas ofertas. A briga por preço está perdida. A briga por capacidade de atendimento (escala) está perdida. A briga criativa, não! Inovação é o nome do jogo. Todo mundo sabe. O problema é saber por onde começar. Pior, o problema tupiniquim parece ser *começar*.

Quem tem a cabeça muito fechada nunca começa nada.
Quem tem a cabeça muito aberta nunca termina nada.

- Scott Berkun (em "The Myths of Innovation")


Não começamos nada. Não inovamos. E, nas raras vezes que iniciamos algo, somos mais lentos que um cágado manco. Para não ficar só na retórica chata, alguns exemplos:
  • O Ginga é uma plataforma aberta. Nossa. Equipará todas as nossas TV's. Mais de 100 milhões de TV's nos próximos 4 anos. É o sistema operacional da nossa nova TV Digital. Mas a TV digital que chegará nas casas dos paulistanos no próximo 2/dez não oferecerá um mínimo de interatividade. Ou seja, o grande salto da TV digital (alardeado em várias inserções de 30" em todos os canais abertos) não será experimentado tão cedo.
  • Quer comparar? O GPhone (o SO para mecanismos móveis da Google) terá centenas de aplicações logo que chegar ao mercado. Nem é necessário dizer que as melhores repartirão a bagatela de US$ 10 milhões. A motivação não é só o prêmio: é a expectativa de levar uma bela fatia de um mercado "novo". Aqui em Pindorama vemos algo parecido? Preciso citar as diversas aplicações que nascem para o Facebook diariamente?
  • O OLPC, assunto d'outro post de hoje, também é uma plataforma aberta. Alguém aí viu alguma iniciativa para oferecer aplicações ou serviços em torno dela? Não... e alguns tapados ainda acham que é coisa para "ONG's"...
  • Aliás, será que a Google saberia nos dizer quantas empresas brasileiras se interessaram pelo GPhone? Quantas baixaram o kit? Garanto que conto nos dedos da mão.
  • Aliás II, será que o BNDES nos diria quantas empresas entraram no PROSOFT? Quantos empregos o programa gerou? Mais importante: quais inovações gerou ou pretende gerar?
  • Aliás III, será que ninguém sério (haha) vai propor que o BNDES institua premiações como aquela da Google? Tipo: cara (empresa), cada produto ou processo inovador significa R$ X mil de desconto no valor do empréstimo. Se for para a Educação ou para o Ginga, multiplique o desconto por 2. Pô, incentivos fazem bem! Se Esporte e Cultura merecem tanto, pq não inovação em TI?
  • But... BNDES não é Google. É um começo. Mas nossas empresas também precisam ser reinventadas. E, se tem um modelo a ser copiado, esse modelo é a Google.
Voltando para a retórica chata: 90% do nosso mercado é RH disfarçado de TI. É 'body-shop' bobinho, que se descabela por preço. Em ambas as pontas. Agrega pouquíssimo valor. É culpa só das empresas? Claro que não. É de todos nós, vendedores e compradores, entregadores e enroladores.

Como sair d'um desenho tão ruim, de padoca de periferia, para virar uma "Boutique de Tecnologia"? Hmm... dá pra chamar os universitários? Hem, daquelas BAITAS universidades que ensinam COBOL e nada de OO?!?! Hmm...

Se der vontade volto ao tema. Para desespero das 10 1/2 dúzias de leitores fiéis...

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  1. Numa das threads, o sempre certeiro Adail Retamal falou sobre grandes ambições, ou grandes objetivos. Foi mais ou menos assim: quando a diferença entre onde vc está e onde quer chegar é pequena, você acredita que suas capacidades atuais serão suficientes para que o objetivo seja atendido. Quando você coloca grandes metas - aumentando o gap ("buraco") entre onde vc está e onde quer chegar - há (ou deveria haver) uma mudança de paradigma. Você sabe que precisará de mais "munição". Que as competências atuais não bastam.

Pois é, reforço a questão da ZDNet: por onde anda o Ozzie?



Vish.. perguntei errado para o Google. Tô falando do outro Ozzie (com "ie"), o substituto do Tio Bill. Cadê ele?



O Wally tá fácil. Perguntei do Ray Ozzie, cadê ele? Quem encontrá-lo na paisagem acima ganha uma cópia do Windows "Casas Bahia". Usada! haha..

10 segundos...

Achou? Parabéns! Vendendo "algodão doce", né? Oras, não deixa de ser um tipo de "cloud", kkk. Porque, para o desalento do sumidaço Ozzie, em 2 anos e meio de MS foi tudo o que ele conseguiu: uma barraquinha de algodão doce, também conhecido por Live.

Um laranja dele disse que o mundo não quer o Office "nas nuvens" (clouds). Ou seja, o laranja-lima disse que a Google tá redondamente enganada em sua estratégia "Documents". Quem não tem papa na língua nem rabo amarrado lê d'outra maneira: "puxa mano, tá um trampo danado esse papo de fazer o Office funcionar na Web. Não tem nuvem que güente um elefantão pesado daqueles..."

"Ah, então fala aí que ninguém precisa de Office nas nuvens e tudo bem. Daqui uns 5 anos a gente muda o discurso".

A questão é: A Google vai esperar? Você vai esperar? Espera sentado. Saboreando o belo e efêmero algodão doce do Ozzie.

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Quem sabe não espera. O Sabeer Bhatia, que embolsou US$ 400 milhas vendendo o Hotmail para a MS, sabe (ufs, ridículo - o trocadilho). Ele tá lançando um Office "nas nuvens", todinho baseado em... Flash!!

Corajoso o cara. Mas, pelo jeito, mais ágil e eficaz que o Ozzie. E mais falante também:

Estamos bem perto do fim do mercado dos sistemas empacotados. Em 2010, as pessoas não vão mais comprar software. Taí uma bela ameaça para uma bela fatia do faturamento da MS.