Sobre

Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

Visite a nova versão em pfvasconcellos.net

ou Uma Padoca de Periferia?

Há mais ou menos 1 mês o "bicho tá pegando" em alguns grupos de discussão, particularmente no CMM-BR e no UML-BR. Assuntos intercalados, debates acalorados: Universidades x Mercado, USP+Unicamp+outras x resto do mundo, Brasil x Índia+China, Dunga x resto do Brasil... O Dunga é sapo (em todos os sentidos possíveis), o resto é papo sério. Muito sério.

A última thread (em ambos os grupos) foi motivada por este artigo da Bites. É uma entrevista com Marco Bravo, diretor de software da IBM.br. Saca só o graffiare:


Como vamos disputar com alguém que cobra US$ 1 por hora de trabalho? Deveríamos considerar outras opções.


Ele não é o primeiro a falar que a concorrência com a Índia e a China, nos moldes atuais, é um caso perdido. Mas, pelo jeito, é o primeiro a ser ouvido. Ou levado a sério. Porque, até então, a norma era o velho espírito de galvãobuenismo, também conhecido por "me engana que eu gosto": Gostamos de inventar metas de exportação de software de US$ 2 bi quando realizamos só uns US$ 4 mi.

Segundo Marco Bravo, nossa saída é virar uma "boutique de tecnologia". Como eu gosto de dizer, ambição pequena é bobagem [1]. Uai, não soou incoerente com o que acabei de criticar no parágrafo anterior? Leia a observação [1] abaixo. Não mudamos praticamente nada. Torramos uma graninha reinventando rodas (MPS.br) e patrocinando algumas excursões. Nenhum dos movimentos (subsidiados ou não) mirou seriamente o salto de US$ 4 mi para US$ 2 bi.

A ambição proposta pelo Bravo é diferente: alterar radicalmente o perfil de nossas ofertas. A briga por preço está perdida. A briga por capacidade de atendimento (escala) está perdida. A briga criativa, não! Inovação é o nome do jogo. Todo mundo sabe. O problema é saber por onde começar. Pior, o problema tupiniquim parece ser *começar*.

Quem tem a cabeça muito fechada nunca começa nada.
Quem tem a cabeça muito aberta nunca termina nada.

- Scott Berkun (em "The Myths of Innovation")


Não começamos nada. Não inovamos. E, nas raras vezes que iniciamos algo, somos mais lentos que um cágado manco. Para não ficar só na retórica chata, alguns exemplos:
  • O Ginga é uma plataforma aberta. Nossa. Equipará todas as nossas TV's. Mais de 100 milhões de TV's nos próximos 4 anos. É o sistema operacional da nossa nova TV Digital. Mas a TV digital que chegará nas casas dos paulistanos no próximo 2/dez não oferecerá um mínimo de interatividade. Ou seja, o grande salto da TV digital (alardeado em várias inserções de 30" em todos os canais abertos) não será experimentado tão cedo.
  • Quer comparar? O GPhone (o SO para mecanismos móveis da Google) terá centenas de aplicações logo que chegar ao mercado. Nem é necessário dizer que as melhores repartirão a bagatela de US$ 10 milhões. A motivação não é só o prêmio: é a expectativa de levar uma bela fatia de um mercado "novo". Aqui em Pindorama vemos algo parecido? Preciso citar as diversas aplicações que nascem para o Facebook diariamente?
  • O OLPC, assunto d'outro post de hoje, também é uma plataforma aberta. Alguém aí viu alguma iniciativa para oferecer aplicações ou serviços em torno dela? Não... e alguns tapados ainda acham que é coisa para "ONG's"...
  • Aliás, será que a Google saberia nos dizer quantas empresas brasileiras se interessaram pelo GPhone? Quantas baixaram o kit? Garanto que conto nos dedos da mão.
  • Aliás II, será que o BNDES nos diria quantas empresas entraram no PROSOFT? Quantos empregos o programa gerou? Mais importante: quais inovações gerou ou pretende gerar?
  • Aliás III, será que ninguém sério (haha) vai propor que o BNDES institua premiações como aquela da Google? Tipo: cara (empresa), cada produto ou processo inovador significa R$ X mil de desconto no valor do empréstimo. Se for para a Educação ou para o Ginga, multiplique o desconto por 2. Pô, incentivos fazem bem! Se Esporte e Cultura merecem tanto, pq não inovação em TI?
  • But... BNDES não é Google. É um começo. Mas nossas empresas também precisam ser reinventadas. E, se tem um modelo a ser copiado, esse modelo é a Google.
Voltando para a retórica chata: 90% do nosso mercado é RH disfarçado de TI. É 'body-shop' bobinho, que se descabela por preço. Em ambas as pontas. Agrega pouquíssimo valor. É culpa só das empresas? Claro que não. É de todos nós, vendedores e compradores, entregadores e enroladores.

Como sair d'um desenho tão ruim, de padoca de periferia, para virar uma "Boutique de Tecnologia"? Hmm... dá pra chamar os universitários? Hem, daquelas BAITAS universidades que ensinam COBOL e nada de OO?!?! Hmm...

Se der vontade volto ao tema. Para desespero das 10 1/2 dúzias de leitores fiéis...

.:.

  1. Numa das threads, o sempre certeiro Adail Retamal falou sobre grandes ambições, ou grandes objetivos. Foi mais ou menos assim: quando a diferença entre onde vc está e onde quer chegar é pequena, você acredita que suas capacidades atuais serão suficientes para que o objetivo seja atendido. Quando você coloca grandes metas - aumentando o gap ("buraco") entre onde vc está e onde quer chegar - há (ou deveria haver) uma mudança de paradigma. Você sabe que precisará de mais "munição". Que as competências atuais não bastam.

0 responses to "Pindorama: Uma Boutique de Tecnologia?"

Leave a Reply