Tem duas coisinhas erradas na carreira que desenvolvo há dois anos e pouco. Ambas estão explícitas na forma como me apresento: "Consultor" e "Independente". O problema com a primeira é conhecido: Consultores, assim como os gurus, têm uma fama ruim. Não raro ouvimos por aí que eles (nós) ganham (os) "muito dinheiro por nada". Que também costumam fazer "muito barulho por nada". E por aí vai. Nada mais mentiroso. Mas a maioria sempre paga pelos "extremos". Mas eu abri este post para falar do outro probleminha: minha falsa "independência".
Nunca na história da humanidade houve independência de verdade. Nem o Urtigão, em sua casinha no alto do morro, era totalmente independente. Quando anexei o adjetivo à minha proposição de função, imaginei passar a seguinte mensagem: "Não tenho rabo preso com ninguém. Ao sugerir ou te ajudar no desenvolvimento de uma solução, ninguém (a não ser você) influenciará no desenho da solução". É uma mensagem legal e gosto de reforçá-la. Comissões e afin$ não são receitas previstas no modelo do finito . Mas, caramba, como eu sou dependente.
Por exemplo, eu não conseguiria nunca organizar e promover sozinho minhas oficinas (workshops) e palestras. É muito trampo. E eu precisaria de uma rede de contatos muito maior que os 5k endereços eletrônicos que consigo acessar diretamente e indiretamente (via grupos de discussão e sites de relacionamento). Reforço: entendo que é muito trampo e muito 'conhecimento'. Mas a relação é um tanto injusta. Quando muito, seu trabalho e conteúdo valem de 25% a 30% do valor total do ingresso. Consolo: plantadores de mandioca no sertão baiano ganham menos dos atravessadores que levam seus produtos para os 'centros consumidores'.
Quero crer que seja só uma fase. Falta de concorrência e falta de infraestrutura e coisa e tal. Se demorar muito, talvez nossa solução seja parecida com aquela de alguns plantadores de mandioca: formar uma cooperativa e limar o atravessador do negócio. Ainda não vale a pena. Mas, se muitos 'pseudo-independentes' reclamarem da mesma dor, talvez seja realmente esse o remédio "menos pior".
[Uma fichinha tilintou: o Hub-SP, com suas salinhas de reunião para 20-30 pessoas, será uma local muito jóia para oficinas e palestras versão "pocket"].
Mas, a gota d'água que motivou este post não tem nada a ver com os eventos. Comecei a fase em que devo me preocupar com a comercialização do meu livro. Até aqui, dependi de mais de 200 pessoas e 200+ livros e 2k artigos para desenvolvê-lo. Participantes de minhas palestras e oficinas foram convidados para um grupo de discussão exclusivo, onde o tema é debatido e amadurecido. A gráfica e editora é de meus dois manos (de sangue), Cacá e Guz Vasconcellos. Então, de certa forma, a "independência" foi preservada. Mas a distribuição e comercialização do livro é outro papo.
Tenho alguns "requisitos fundamentais" dos quais não abrirei mão:
- O livro será publicado com licença Creative Commons. Ou seja, sua cópia e distribuição (aka Pirataria) serão liberadas.
- Texto e todos os artefatos "periféricos" serão publicados em diversas versões, em diferentes combinações de átomos e/ou bits. Cada público merecerá uma versão específica.
- Não espero ganhar R$ 0,01 com o livro, mas ele deve se pagar.
Por incrível que pareça, não consegui encontrar tal espaço aqui no Brasil. O mais próximo que achei segue a lógica dos atravessadores: remunera o autor em 40% do preço de capa. Ok, é bem melhor que a proposta das editoras tradicionais. Mas, ainda assim, uma injustiça. Por depreciarem tanto o conteúdo, não me surpreende que tenhamos tantos livros 'descuidados'* publicados por aqui.
Pois bem, para meu desgosto, se eu quiser manter meu prazo e meus requisitos, talvez eu tenha que gerar uma graninha para a terra do Tio Sam. Só lá encontrei um serviço bem legal para a divulgação, distribuição e comercialização do livro. O Lulu. Eles embolsam apenas 20% do que eu vender. Saca só: 1/3 do que o equivalente tupiniquim cobra. Mas não é só uma questão de valor. O serviço é muito flexível e ágil. O livro é impresso por demanda! Se o corajoso leitor pedir uma capa dura, por exemplo, "no problem". Politicamente correto, o Lulu promete até uma política especial de preços de frete para a América Latina.
A dependência é inevitável. Mas ela pode ser saudável. Resta-nos escolher bem onde amarramos nosso burrinho, certo?
* Repare nas capas da maioria dos livros técnicos tupiniquins. Confira a qualidade da encadernação e da impressão. Se fosse um trabalho nota 10, talvez a remuneração fosse menos injusta.
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