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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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Semana passada comentei aqui uma entrevista com Marco Bravo da IBM. Falando que Pindorama não tem condições de concorrer contra quem cobra US$ 1 por hora de programação, ele sugere outra estratégia: que nos transformemos em uma "boutique de tecnologia". Não sei se ele tem exata noção do impacto de sua sugestão. Afinal, a própria IBM investiu muito no modelo que chamei de "padoca de periferia".

Nada contra as "padocas". Muita coisa contra o "modelo". Apelei para o termo porque ele mostra com exatidão a distância que existe entre as duas estratégias.

Fotos de Carlos Emerson Jr e Annia316, respectivamente.

Wikinomia

O termo pode parecer uma 'bobeirinha', mas as tendências documentadas por Don Tapscott e Anthony Williams no livro "Wikinomics" (Nova Fronteira, R$ 50) não podem ser ignoradas por ninguém que queira criar ou manter um negócio no século XXI. Muito menos por quem pretende ser uma "boutique de tecnologia".

Quatro princípios, sempre em conjunto, norteiam as estratégias e táticas das empresas que se destacaram nos últimos tempos:
  • Abertura: processos e produtos são abertos. Código-fonte ou, no mínimo, API's (Interfaces Programáveis de Aplicações), são oferecidas sem praticamente nenhum tipo de entrave (técnico, comercial ou legal). Ao derrubar muros e grades que "protegem e escondem" seus jardins, as empresas enviam convites para a Colaboração.

    Numa "padoca de periferia" o raciocínio é diferente. Há obsessão por controle da "propriedade intelectual"; existem serevas punições contra ladrões e piratas. E, de certa maneira, a empresa é uma grande "caixa preta". Ninguém vê direito o que o padeiro está fazendo, nem como. O pão sai quentinho? Nem sempre na hora combinada. Nem sempre no peso acertado. Nem sempre na receita previamente aprovada. Quer dizer, quase nunca temos o nosso pão quentinho! (70% é o número chutado de projetos que falham).

  • Colaboração: o princípio é básico: sempre existirão mais mentes brilhantes fora do que dentro da empresa. Quando você os "convida" para trabalhar contigo, abrindo seus processos e produtos, pode ganhar um poder criativo inimaginável em qualquer outra forma de organização conhecida pelo homem. Qual a contra-partida? Depende. A Google acaba de liberar o Android, o sistema operacional baseado em Linux e Java* que deve equipar centenas de celulares já em 2008. As melhores colaborações repartirão um prêmio de US$ 10 milhões. Só há uma certeza: vai colaborar (voluntariamente) quem achar que também pode ganhar alguma coisa com seu produto ou processo. Aprendizado? Grana? Um produto melhor? Experiência? Uma nova oportunidade de negócio ou emprego? O limite é a criatividade. Lembre-se: Abertura. E Compartilhamento.

    Nossas "padocas de periferia" colaboram muito pouco, entre si e com a imensa comunidade de TI. Sem abertura não há possibilidade real de colaboração. A melhor provocação raramente é utilizada: "A melhor equipe nunca estará aqui, sempre estará lá fora". Será difícil para alguns empresários aceitarem esse fato, mas é a pura verdade. Conseqüência esperada: se você não ocupar os cérebros que estão lá fora com bons projetos abertos, sua concorrência o fará. Nossa lentidão gera efeitos piores: tem muita gente boa nossa trabalhando para "boutiques" de fora. Fora de Pindorama.

    * Não por acaso, o uso de padrões e sistemas abertos também caracteriza modernas boutiques.

  • Compartilhamento: Ao contrário de Don e Anthony, não vou destacar neste princípio as questões de propriedade intelectual (já abordadas no 1º princípio). Falemos então de compartilhamento de espaços e recursos, de técnicas e pessoas. Seth Godin abriu seu escritório para que idéias de campos diferentes também fluissem por lá. O Hub-SP deve reunir, num mesmo dia, gente de moda, design, TI, culinária, cinema e revistas.

    Nossas "padocas" são possessivas e ciumentas. Seus muros não travam só propriedade intelectual, mas qualquer tipo de propriedade. E o apego aos bens físicos é um tanto estranho em tempos de vida digital. Compartilhar poder computacional? Que eu saiba, nem por razões filantrópicas.

  • Agir Globalmente: lembre-se, este texto foi provocado pela necessidade (!) de Pindorama vender produtos e serviços de TI no exterior. Como Don e Anthony destacam em seu texto, não basta mais apenas "pensar globalmente". E ação global é muito mais do que abrir filial no exterior. Ainda mais se for apenas um "escritório comercial". Nossos processos precisam ser globais. Tratando de software especificamente, faz todo o sentido que "braços técnicos" existam ao redor do globo.

    A lógica das padocas, segundo uma edição da "B2B Magazine" (nº 40, mar/04) que se propôs a nos ensinar a exportar software, é "preço, preço, preço". É a lógica que está no núcleo, na raiz do erro apontado por Marco Bravo: de que conseguiríamos concorrer com Índia e China. No preço!?! Uma conseqüência é nosso baixo QI global - afinal, só abrimos "escritórios de vendas". Outros efeitos colaterais serão apontados no decorrer do artigo.
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Wikinomia Prática

A wikinomia na prática, ou seja, a realização de negócios nesse novo mundo, é um tanto diferente do padrão que caracterizou a economia do século XX. Uma "boutique de tecnologia" presta atenção na seguinte seqüência:
  • Relacionamento: se posicionar no mercado é estabelecer uma série de relações. Você acelera a construção de uma rede de relacionamentos quando é transparente, franco, livre - ou seja, Aberto. Só depois de estabelecer um relacionamento você tem condições de...
  • Conversar: trocar idéias, dores e "listas de desejos" com aqueles que participam de sua rede. Se você colabora e compartilha, é factível supor que boa parte de suas conversas serão sobre seus produtos e processos. Se há conversa, é sinal que boa parte de sua rede mostrou interesse no que você quer falar. É o primeiro (e verdadeiro) passo para que você possa realizar...
  • Transações: afinal, agora há uma relação de confiança. E seus produtos, idéias e serviços fazem sentido para uma "comunidade". O legal é que, quanto mais ela colabora contigo, mais gosta do seu produto ou serviço. Dependendo do tamanho da sua rede de relacionamentos, você estará Agindo Globalmente.
Que a simplicidade do "algoritmo" acima não o deprecie. A nova lógica dos negócios é assim, simples assim. O que não significa, de forma alguma, que seja fácil a sua implementação.

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Estranho, mas quando pensei neste artigo, a intenção era falar só (!) de equipes (formação de), processos de desenvolvimento e afins. Depois reparei que o papo não faria muito sentido se implantando com nosso atual "mind set" comercial. So...


Link direto para a 2ª parte.

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Curiosidades levemente acopladas:

João Sayad, secretário da Cultura de SP, esteve ontem (segunda, 03/dez) no Jornal da (TV) Cultura. Foi falar sobre uma tal "Indústria Criativa". E apresentou números estranhos e provocadores:

7,7% da população economicamente ativa de Sampa (metrópole) atua na "Indústria Criativa". A média tupiniquim é de 5,3%. Claro, nós de TI não estamos inseridos no meio. Merecemos?

Claro que não. Só quando virarmos, de fato, uma "Boutique de Tecnologia". Porque quando falamos de produtos com alto valor agregado, estamos nomeando e reservando a sua principal matéria-prima: Criatividade!

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