Prevendo 2008
21 dezembro 2007Mais do mesmo? Pois é, pela primeira vez (!) em muito tempo, estou um pouco pessimista. O hemisfério norte vai sofrer um bocado com a crise da economia estadunidense. Bush (finalmente!) será substituído. E é muito provável que ele ouça de um candidato democrata o mesmo que seu pai ouviu do Clinton: "É a economia, estúpido!". Agora é tarde. E os impactos de uma recessão batem quase que de imediato no mercado de TI (somos eternos supérfluos, apesar de tudo). Empresas com o caixa abarrotado sentirão menos. Google, Oracle e Apple passam bem pela fase ruim. O mesmo eu não digo de MS, Sun, AT&T, Yahoo e outras menos relevantes.
A notícia de uma possível recessão é particularmente péssima para a MS. A turma do "upgrade retardado" falava que aguardava os primeiros service packs do Vista e do Office. Agora vão falar que estão sem grana; que o XP e o Office 2003 "dão para o gasto". Como a MS é péssima de estratégia, deixou vazar que deve rolar um novo Office entre 2008 e 2009. Ou seja, acaba de dar outra justificativa para que o upgrade seja novamente adiado. Resumindo: sigo apostando que o Ballmer não passa desse ano fiscal (que se encerra em junho). Outra aposta requentada: a última reestruturação do Yahoo também falhará. Será a gota d'água, e finalmente veremos a fusão MS+Yahoo.
Situação oposta é da Google. 2008 é o ano da consolidação do Android - de sua estratégia para dispositivos móveis. Ao contrário das outras plataformas, ele é gratuito. Quer melhor justificativa para sua adoção? Ainda mais em tempos de crise?
As ações da Google não devem se sustentar no padrão atual, mas a queda não deve ser muito significativa. Na verdade, se continuar atraente, vai ter gente vendendo ações de outras companhias para colocar a grana em terreno fértil. E, há 10 anos, terreno fértil é a Google.
E a Apple. O iPhone 3G deve sair até o início do 2º semestre. Versões econômicas do brinquedinho devem estar no forno. Acho fácil supor que a Apple venda o dobro de iPhones do que vendeu em 2007, no mínimo. E deve ser mais agressiva na abertura de outros mercados. Inclusive Brasil? Não sei. Mas na Europa é batata. Mesmo que parte do modelo (exclusividade de operadora) seja alterado. Jobs não é burro.
Não tem muito tempo, falei de um dos melhores "campeonatos" do biênio 2007/2008. Estava falando da guerra envolvendo Java, Ajax, Flash e Silverlight (da MS, pra quem não sabe). A Apple corre do Flash como o demo foge da cruz. Mas desconfio que uma aproximação (ou fusão) com a Adobe esteja anotada num cantinho da agenda do Jobs. Motivo? A Google entrou pesado na seara, jogando com Ajax, Java e Linux. Outro motivo: se ela demorar, Bill Gates abocanha a Adobe. O Silverlight perdeu o jogo antes de entrar em campo. Outra varada n'água de Redmond. Sun e IBM desistiram dessa briga há 2 anos. E eu aposto que a Adobe não passa mais um ano como empresa independente. Apesar da crise. Ou exatamente por causa dela.
Na primeira vez que usei minha bola de cristal líquido eu previ uma consolidação no mercado de ferramentas de BI. Errei por um ano. E alguns nomes: BO foi para a SAP; Hyperion para a Oracle. Mas errei por pouco. E o movimento de consolidação seguirá. Agora é a vez de Microstrategy, Cognos e outras de menor porte.
[Atualização: O Garrido me informou via comentário que estou meio atrasado - a Cognos já é da IBM.]
Em 2008 a Oracle seguirá aumentando seu "desfocado" portfólio. A Bea não aguentará a pressão. Mas será justamente a falta de foco da Oracle que deixará a SAP tranquila.
Por fim (falando do estrangeiro), o mundo Linux. É mais "lista de desejos" do que previsão. Já reclamei ontem: uma redução no número de distribuições pode acelerar o processo de evolução do Linux. Está faltando um pouquinho de ousadia, de inovação. Não só no produto, mas também nas suas relações com o mercado. Dell, Lenovo, Acer e outras estão começando a gostar de brincar com o Linux em suas máquinas. Em 2008 veremos outros fabricantes entrando na ciranda. Talvez elas acelerem o processo de consolidação. Mas não bastará.
Para começar a falar em Pindorama, colo nas pegadas do Philip "Shoes" Calçado: talentos migrarão de grandes empresas (padocas) para pequenas e médias (boutiques). Trocarão "comando & controle" por "colaboração & criatividade". Aqui retorno para meu otimismo (de novo, é mais torcida do que previsão): "boutiques" vão pipocar nos próximos 2 anos. Apesar dos sérios pesares, começaremos a questionar de forma muito contundente nossa velha tradição "feijão com arroz". E o caminho é uma avenida repleta de boutiques. Mais 3 ou 4 sucessos como o do Boo-Box trarão a (pouca) grana necessária. Se aqueles "empreendedores" que só sabem falar sobre "empreendorismo" e não fazem nada sairem da frente, será melhor ainda.
Por outro lado, deve haver algum movimento de consolidação de "padocas". Trata-se de um modelo que depende de muita escala, muitos clientes. Como freguês que fala inglês anda difícil, a saída (imaginada por eles) é aumentar a carteira de fregueses tupiniquins. E eles sabem que o atalho é a aquisição de carteiras, não a conquista real. Um atalho que vem antes, a abertura de capital (que gera a grana necessária para bancar aquisições), será tomado. Por poucos. Exigências da CVM espantam muitas "padocas".
Milhões de novos micros foram vendidos em 2007. Trata-se de um mercado imenso. Que seguirá crescendo! É difícil supor que o modelo das "escolinhas de informática" e empresas de assistência técnica não vá sofrer um grande impacto. Não é só uma questão de número de estabelecimentos. Estou falando do modelo mesmo. Suporte remoto? Cursos a distância? Personal-trainers? Babás de micros? Sei lá, existem várias oportunidades.
Como é imensa a oportunidade para sistemas livres e gratuitos. Equação simples: com a grana curta, aumenta a opressão, o combate aos piratas. Num mercado em que a renda ainda é muito curta, faz muito sentido a adoção de soluções que não custam nada. Falta uma rede de suporte e treinamento. Os primeiros ganharão muito. Em 2008? Tomara que sim.
Por fim, o mais importante: Educação. Precisamos rever currículos. Precisamos redistribuir responsabilidades entre os cursos técnicos e os universitários. Precisamos também levar a informática para todos os outros, principalmente dos níveis fundamental e secundário. Levar informática não é instalar ou doar micrinhos. É levar conhecimento.
Que a turma que em 2007 gastou tempo e espaço com "Cansei", "Xô CPMF" e afins, em 2008 compre outra briga: "Educação acima de tudo!".