Antes, porém, uma necessária explicação sobre o nome. Rendiconti é um termo italiano* que significa "Prestação de Contas". O utilizo com frequência no finito, para prestar contas de todos os eventos abertos que realizo. A sacada do Guccia na escolha deste nome para sua revista é genial. Surrupio-a sem medo de ficar com a cara vermelha de vergonha.
Aprendemos com os outros, com experiências de outras pessoas. Em aulas, livros, bate-papos presenciais ou virtuais - não importa. Todo aprendizado é um evento social, por solitário que seja. "Social"? É, eu quis dizer que tudo que aprendemos vem de outras pessoas.
Quando invertemos este fluxo, tentando ensinar outras pessoas, de certa forma estamos fazendo uma "Prestação de Contas". É uma retribuição - mas sempre seremos avaliados pelo que agregamos àquele conhecimento adquirido. Por isso o periódico do Círculo Matemático de Palermo se chamava Rendiconti. O conceito é genial. A provocação, impagável!
Por isso não pensei duas vezes ao selecionar o nome desta nova empreitada. Aliás, depois de tantas idéias jogadas aqui, está aqui a primeira que pego para realizar. O título original daquele livro do Domenico de Masi, "Criatividade e Grupos Criativos", é "La Fantasia e la Concretezza". Sabe-se lá porque a Sextante, seguindo o (mau) exemplo das distribuidoras de filmes, não fez uma tradução literal do nome. Não importa. Para De Masi, o criativo não apenas fantasia. Ele também deve ser capaz de concretizar suas idéias. Antecipando a confissão de que não estou sendo nada criativo, topei o desafio.
Para quem pulou o prólogo, explico que tudo começou porque vou publicar meu primeiro livro. Ia fazê-lo da forma tradicional (que tem mais de 500 anos!). Imprimiria uns 1000 exemplares e ficaria aguardando que generosas almas os levassem para casa (ou escritório). Modelo pra lá de ultrapassado: Muita grana parada. Considerando que incentivo a cópia e a distribuição de versões digitais do texto; considerando que as centenas de pessoas que participaram de meus eventos já garantiram (sem custos adicionais) sua cópia digital; e considerando que hoje em dia se lê muito pouco, qual demanda eu teria? Quanto tempo levaria para esvaziar aquela pilha de 1000 volumes?
Mas a questão não é só essa, meramente comercial (ou financeira, como queiram. Aliás, já disse por aqui, não espero ganhar $ nenhum com a venda do livro). A principal questão é outra: trato o livro como se trata um software: ele é vivo - tem versões. A última versão pública é a 0.6. Em breve soltarei capítulos de uma versão que estou chamando de "release candidate". A versão comercial será, obviamente, a 'um ponto zero'. Mas morrerá ali? Duvido...
Agora mesmo trabalho com 3 ferramentas (técnicas) novas, de modelagem, que espero incorporar ao trabalho. Outras surgirão, motivando a publicação das versões 1.1, 1.5, 2.0 e assim por diante. Com tal processo de desenvolvimento, a impressão de grandes volumes (a única que se justifica financeiramente em gráficas tradicionais) seria um tiro no pé. Motivações mais do que suficientes para a criação de um novo negócio. Nasce assim a Rendiconti!
O Modelo do Negócio
Como eu disse, não é nada original. Surrupia sem dó nem medo partes dos modelos da lulu.com e do SafariU, do grupo O'Reilly. Trata-se de uma gráfica e editora do século XXI: só gasta papel e tinta quando o cliente confirma a aquisição de um livro (ou artigo, apostila, revista, etc). Existem dois processos principais:
- O autor publica uma obra.
Ele faz o upload de um arquivo com toda a obra. E tem a possibilidade de configurar diversos parâmetros como: preço, material, tipo de capa, opção de venda da versão digital, extensões da obra etc.
Quando aprovada pelo editor, a obra passa a integrar o portfólio da loja Rendiconti. Aparecerá na 'vitrine', de acordo com sua classificação.
Restrições: i) a Rendiconti trabalhará exclusivamente com livros técnicos das áreas de TI (Tecnologia da Informação) e Negócios; ii) a editora se reserva o direito de recusar obras que não atendam o padrão mínimo de qualidade esperado ou que fujam de seus temas principais (veja considerações abaixo).
- Um cliente adquire uma obra
A loja Rendiconti opera como uma loja virtual comum. Há o inevitável "carrinho de compras" e coisa e tal. Claro, brigaremos para criar metáforas mais interessantes e originais. Mas não há muito o que inventar aqui.
Ops, há sim! O cliente pode personalizar a obra adquirida: capa, tipo de papel, dedicatória, logo da empresa... sempre respeitando as restrições configuradas pelo autor.
A "contribuição" do SafariU: o cliente pode montar um livro ou apostila inédito, selecionando capítulos das diversas obras disponíveis na loja. Poderá inclusive fazer o upload de algum material seu para ser incorporado. Invenção pequena é bobagem. Personalização tímida é enganação!
Outra novidade, o processo: a obra só será impressa após a confirmação do pedido. Toda a operação estará baseada em Varginha, Minas. Mas o prazo médio de entrega dos pedidos girará em torno de 3 dias úteis - prazo equivalente ao das lojas tradicionais.
Imaginem, então, as diversas possibilidades (cenários):
- Um professor pode elaborar um material, mixá-lo ao conteúdo disponível na Rendiconti e gerar apostilas muito especiais para seus alunos;
- Uma empresa pode elaborar um material de treinamento e terceirizar sua confecção (e até a revisão!). Desta forma, pode configurar para que sua obra não seja pública - ou seja, não aparecerá na vitrine da Rendiconti;
- Claro, meu livro e seus 12 (?) capítulos estarão ali, exclusivamente ali na loja Rendiconti. Nas mais diversas versões: quer só a parte de modelagem de negócios, ou só o módulo de engenharia de requisitos? Tudo bem. Quer comprar apenas um capítulo? Só a versão digital? Só a apostila? Definitivamente: o cliente manda. E a gente tratará de entregar exatamente o que ele precisa.
É óbvio, espero que vários autores vejam na
Rendiconti uma oportunidade de prestar contas, de dar à luz as suas obras. Aliás, neste início de empreitada, é este o meu maior desafio: atrair autores. Claro, respeitarei
tudo o que caracterizou a Rendiconti original. Não importa se você é professor ou estudante, doutor ou iniciante. Não importa se você está em Quixeramobim, na Mutuca ou na Lagoa dos Patos. E não importa se você é desenvolvedor, coordenador de projetos, administrador, consultor, professor, estagiário ou estudante. Saca a
calda longa? Então, há mercado para tudo - há espaço para todo mundo.
Considerações semi-finais- "Não temes que lhe roubem o modelo de negócio?"
Tsc... que papo mais anos 2000, pré-bolha. Conheces o dito "ladrão que rouba ladrão"? Então, não disse que surrupiei e remixei idéias de duas empresas estadunidenses? Então pq eu deveria reclamar se alguém buscar inspiração aqui? - Aliás, espero que busquem bem mais. Como mostrarei com mais detalhes no próximo post, este é um projeto 100% aberto. Todo o código e demais artefatos gerados (inclusive o modelo do negócio) serão disponibilizados com licenças Creative Commons e GPLv3.
- Portanto, quem quiser copiar, poderá obter bem mais que uma simples idéia. Quer montar sua própria loja? Que tal uma especializada em livros "Boa Vida Boa" (culinária, viagens, esportes etc)? Que tal uma só com obras de cultura inútil? Que tal uma só para escritores renegados? Como eu disse (depois do Chris Anderson), há espaço e mercado para tudo. Já sugeriram até que eu escrevesse um livro só para contar essa história. Pode? Rss... até o próximo!