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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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Mas já? Pois é, com o epílogo (que será publicado na sequência) mostrará, a publicação integral da Trilogia Pré-Histórica é para ontem. Sem trocadilhos! Para quem perdeu a trilha da história:

Não foi por acaso que Domenico de Masi recuperou a história do Círculo Matemático de Palermo em um livro chamado "Criatividade e Grupos Criativos" (de 2002). Aquela associação, fundada em 1884, apresentava em seu núcleo um conjunto de características (ou Valores, como queiram), muito caro nos dias de hoje. Modernos empreendimentos, particularmente aqueles montados para a criação de software livre, apresentam muitas dessas características. Por isso este 3º e último tomo (volume) tratará especificamente delas.

Break-chororô: e duas curiosidades:
  • Guccia, o idealizador do Círculo, não aparece na Wikipedia, nem em sua versão italiana! Fui buscar sua biografia em um site inglês. Parece que ainda hoje os italianos renegam sua importância, como o fizeram na época da fundação do Círculo. Azar dos italianos...
  • Quando Scott Berkun começou a escrever "Mitos da Inovação" ele pediu, via blog, referências e dicas. Quando fui sugerir o livro do De Masi, descobri que ele não tem nenhum título publicado em inglês! Azar dos estadunidenses...
A inovação do Círculo, que De Masi chama de "genial", começa pela sua organização: é uma rede. Flexível e espalhada por todo o planeta - quase 100 anos antes d'algum milico sonhar a Internet. A tecnologia utilizada estava na gráfica (tipografia) que imprimia as Rendiconti e nos barcos, trens e cavalos que distribuiam a publicação nos quatro cantos do mundo. De Masi:
A modernidade inteiramente pós-industrial dessa rede encontrava-se não só na sua estrutura, estranha ao burocratismo e ao formalismo das academias daquela época, como na centralidade absoluta da sua dimensão científica, que era mais importante do que qualquer outra dimensão espúria, com frequência determinante em outras sociedades análogas.
São 5 as características que tornam o Círculo Matemático de Palermo uma organização única, visionária e, como diz De Masi, "pós-industrial":
  • Interdisciplinar: física, engenharia, arquitetura e matemática. O Círculo e, consequentemente, as suas Rendiconti, tratavam de tudo que girava em torno da matemática. Além disso, eram acolhidos "estudiosos das mais diversas inclinações".
  • Internacional: "O Círculo não faz e não fará nunca uma distinção de nacionalidade ou de raça entre os matemáticos". Isso numa época em que o mundo, particularmente a Europa, já fervilhava com suas pseudo-diferenças. Não se tratava apenas de publicar artigos de pessoas dos mais diversos lugares. As Rendiconti também eram distribuídas ao redor do globo.
  • Interclasses: professores universitários e de nível médio tinham direitos iguais. Lógico que se admirava os "matemáticos mais geniais do mundo" mas, no dia-a-dia do Círculo, todos compartilhavam os mesmos direitos (inclusive de voto). Mais: "os jovens eram encorajados e ajudados nos seus estudos". Tanto que muitos estudantes publicaram suas próprias pesquisas na Rendiconti.
  • Gosto Estético: Guccia "sempre privilegiou a qualidade das publicações, a velocidade da impressão, o nível cultural dos amigos e sócios. Em suma, o conteúdo. Mas isso não lhe impediu o culto da forma e da estética".
    Tanto que não poupou esforços para que a tipografia tivesse os melhores recursos da época. As Rendiconti eram belas, agradáveis. Mesmo que boa parte de seu público não se importasse muito com esse 'detalhe'.
  • Voluntariado: assim como no universo do software livre, grande parte do trabalho no Círculo, particularmente dos articulistas e revisores, era voluntário. Não remunerado. As receitas geradas com a venda das assinaturas (300 liras de "contribuição perpétua") eram todas revertidas para a manutenção da gráfica e publicação das Rendiconti.
De Masi conta a história de vários outros grupos que foram esquecidos quando o mundo se colocou de joelhos perante as idéias de Taylor, Ford e afins. As recupera rotulando todas com um mesmo adjetivo: são "pós-industriais". São modernas e mais humanas. Valorizam o indivíduo e não as "massas". Mas foi a história de Guccia e de seu Círculo Matemático que me pegou. E me influencia. E inspira. No epílogo falo mais sobre a inspiração e seus frutos.

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