Não posso citar nomes. Mas posso contar pequenas histórias que comprovam uma tese batida: o andar de baixo imita o comportamento e a ética do andar de cima. Mesmo quando sabe que está "jogando sujo". Os dois causos abaixo envolvem "representantes" de gigantes transnacionais.
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Julho de 93 (pois é, sou jurássico). Numa empresa de médio porte do Sul de Minas abri uma concorrência para a aquisição de um novo servidor. Finalmente podíamos comprar o supra-sumo da tecnologia - a reserva de mercado tinha acabado. Eu precisava trocar uma máquina Digirede (baseada em Motorola 65030, com uns 128kb de RAM) por algo mais moderno e robusto. Processador RISC, megas de RAM e disco respeitável. Duas empresas, ambas de BH, entraram na concorrência. O empresa A me pediu uns US$ 15k. A empresa B, US$ 14k. A documentação da concorrência dizia bem: preço não era o fator fundamental. Buscávamos uma plataforma nova, aberta e extensível.
A opção A, tecnicamente falando, era muito superior. Descobri tempos depois que foi uma das primeiras instalações do processador PowerPC no Brasil. Para ser mais exato, a 7ª máquina. As outras 6 foram instaladas na Petrobras. Pensa bem, uma cooperativa de leite, no Sul de Minas (não, não é aquela envolvida em "soda cáustica"), numa cidadezinha de 15 mil habitantes, com uma máquina tão... nova! Mas... desviei o assunto.
Fiz a opção técnica e a justifiquei para a diretoria, que aprovou minha sugestão. Comuniquei as duas empresas concorrentes. Na manhã seguinte, a empresa B envia um fax para nosso diretor administrativo oferecendo sua máquina por US$10k. Mineiro que não sabe lidar com mineiro: sua empresa foi proibida de participar de qualquer nova licitação da cooperativa.
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Entre 2001 e 2002 desenvolvemos uma boa parceria com um freguês do Paraná. Era a 3ª vez que eles compravam um
upgrade de um projeto nosso. Projeto que foi destacado pelo presidente daquela empresa como estratégico. Apareceu até na EXAME, da Abril. No mercado de serviços é assim: freguês só é freguês de verdade quando realiza a segunda compra. Estávamos na terceira transação: relacionamento consolidado. Frágil sempre é, mas a confiança mútua é nítida. Por isso o freguês nos chamou para um novo projeto. Muito maior, mais complexo e tão estratégico quanto o primeiro.
O freguês, ao contrário de muitos, tinha uma visão bem clara de sua plataforma tecnológica. Dada a criticidade e relevância do projeto, achei por bem comunicar o fornecedor daquela plataforma tecnológica. Esperava seu envolvimento técnico e, claro, comercial. O fornecedor destacou um colaborador de sua filial naquele estado para o primeiro atendimento.
Uma semana depois o freguês me liga: "Não entendi. O cara chegou aqui, entendeu o projeto por cima e disse que tinha um parceiro para indicar". Apunhalada pelas costas que o fornecedor nunca sequer admitiu. Mesmo em reuniões em sua matriz, em Sampa, a desculpa era sempre a mesma: "Não temos nada registrado em nosso 'histórico'". Céus... decidi então que era a última vez que me relacionava com aquela empresa. Não dá pra confiar em quem não tem ética e tem um estoque de óleo de peroba maior que a mega-jazida de Tupi.
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Escolhi duas entre dezenas de histórias que mostram, entre outras coisas, o quanto nosso mercado é sujo. E que a sujeira, o mau comportamento, é herdado do andar de cima. Engraçado é que, com o tempo, você ganha fama de bobo. A sujeira é muito disseminada, e tem tempos que você acha sim que é bobo. Seguirei bobalhão. E colecionando amores.