Do Real para o Virtual (e vice-versa)
29 junho 2009Há poucos dias, em 2 artigos, Clóvis Rossi questionou e criticou uma "mania" moderna: o chororô virtual. Segundo o articulista da Folha, nos rebelamos contra safadezas e safados (Sarney, por exemplo) de maneira estéril. Nossa revolta registrada em blogs, twitters e afins não traria nenhum resultado prático. Disse que é só na rua que nos fazemos ouvir.
Aí veio aquilo que a penúltima Época chamou de "Irã 2.0": com a mídia tradicional impedida de trabalhar, iranianos revoltados contra o resultado da eleição mostraram tudo (ou quase tudo) que estava acontecendo por lá. Como? Utilizando exclusivamente recursos do mundo virtual.
Clóvis Rossi, um cara que admiro e sigo há tempos, deu o braço a torcer na última terça, 23/jun. Em "O Virtual e o Sangue (Real)" ele repara comentários anteriores. Encerra o artigo dizendo que
Hoje, pode-se até fechar fisicamente um país, mas virtualmente ele está aberto. Felizmente.
Na última sexta (26/jun), apesar da histeria "Michael Jackson", a mensagem que mais girou entre twitters tupiniquins foi um duro e simples "Fora Sarney". E tudo indica que o flashmob virtual ganhará um co-irmão real. Na próxima quarta (1º/jul), pelo menos 6 capitais verão manifestações pela saída do bigodudo. Na rua!
Não é só o Clóvis, mas toda a mídia tradicional ainda não assimilou bem o significado das redes sociais virtuais e suas estranhas ferramentas. A Globo e seus tentáculos (SporTV, Globo News etc), por exemplo, adoram se limitar ao pior produto do mundo virtual: vídeos imbecis que não falam quase nada para quase ninguém. Ah, o "bola murcha" é engraçadinho e bem sacado? Sim, mas, e daí?
A Abril adora blogs de "faz de conta" e de falar sobre maravilhas modernas: apenas como notícias, nunca como fonte perene. A exemplo do Estadão, só que menos desastrada, a Abril ama detonar o conteúdo que brota na rede. Nem cria a expectativa de colaboração nem dá espaço para tal. Acredita eliminar ferrugens quando estrutura e reestrutura os braços virtuais de suas revistas. Não repara que o buraco é mais em cima.
Até nosso presidente Lula terá um blog (também de mentirinha, pois não permitirá comentários e será parcialmente abastecido por jornalistas - não se sabe se diplomados ou não). Deve ser lançado em 30 dias.
Sexta (26/jun), no FISL em PoA, nosso comandante soltou a seguinte pérola quando foi comentar a importância dos blogs:
A imprensa não tem mais o poder que tinha. A informação já não é mais uma coisa seletiva, em que detentores podem dar golpe de estado.
Olha só, meu caro Clóvis! Será que agora nós podemos dar golpes de estado? Acho que sim. Se não agora, falta pouco. Muito pouco.
Calma... Não falo de golpes como aqueles do século passado (ou como o absurdo que acabam de cometer em Honduras). Falo apenas do mundo virtual viabilizando uma Democracia 2.0, tão necessária e urgente.
E por falar em Democracia 2.0. No último sábado nos deixou Goffredo da Silva Telles. Claro, nossa brilhante mídia não lhe concedeu nem 0,01% do espaço que gastaram com Michael Jackson. Goffredo não era "pop", mas foi o cara que deu o primeiro passo para nossa volta para a democracia. Em 1977 ele leu, no Largo do São Francisco, a "Carta aos Brasileiros".
Ele já antecipava a necessidade de uma Democracia 2.0 em seus trabalhos de 1959 e 1963, "Lineamentos de uma Constituição Realista" e "Lineamentos de uma Democracia Autêntica", respectivamente. Há tempos ele já clamava pela participação direta do povo no processo legislativo. Nos deixou no pior momento do poder legislativo desde que os militares largaram o osso. Tristeza...