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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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A tirinha do Garfield de hoje me fez lembrar de um antigo projeto. Lá se vão 7 anos. Éramos uma dúzia, largados (alocados) num freguês. Não largados como "recursos cocoon*", como dizia um colega. Pelo menos este projeto tinha um prazo. E esse foi, por um bom tempo, um de seus grandes problemas: o projeto tinha um prazo! hehe.. (Traduzindo: multa em caso de atraso). Pouca coragem é bobagem.

Participei da fase inicial do projeto. Depois me afastei. O cordão umbilical mal cortado obrigou um retorno. Na primeira crise. Ou, melhor dizendo, na primeira vez que percebemos que havia uma crise. Crise interna e crise no relacionamento com o freguês. Eu, até então um tipo de "garoto enxaqueca", fui obrigado a me converter num "garoto lexotan". Faz parte. E até que deu certo.

Deu certo porque o time era muito bom. Processo e tecnologia eram... hmm... sofríveis (para não usar um termo de baixo calão). Configuração ruim (1 x 2). As chances de sucesso são pequenas. Mas, como eu disse, o time era muito bom. E criou uma prática que, de certa forma, compensou a falta de um processo. A prática "heavyload".

De quatro a seis vezes por dia, o time ou parte dele se reunia na "área do café". Era distante apenas uns 20 metros da "área de trabalho". Mas, psicologicamente, criava uma distância saudável. O time estava trabalhando sob uma pressão incrível. Que vinha de todos os lados. Então 80% do papo que rolava era bullshitagem genérica. Kool-aid-bullshitagem. Acompanhada de grandes doses de "heavyload". Explicando: tinha lá no freguês uma jurássica máquina de café. Umas quatro alavancas, cada uma com um ingrediente diferente (café, chocolate, leite em pó e sei lá mais o q). O "heavyload" consistia em doses (de médias a colossais) de cada um dos ingredientes. Receitinha pra fazer sucesso em qq franstarbuck da Paulista. Ainda mais nesses dias gelados. Os olhos de alguns ficavam como aqueles do Jon e do Garfield, hehe..

Descompressão vitaminada com energético? Equilíbrio. Duas ou três seqüências de gargalhadas. Três ou quatro dicas culturais. Se a porção feminina (2 dos 12) do time estivesse ausente, pintavam comentários sobre a playboy do mês, por exemplo. Durava de 10 a 30 minutos, dependendo do dia. E pronto: o time voltava com outro espírito para a "área de trabalho".

E os 20% do papo? Bom, eram utilizados (espontaneamente) para resolver problemas com o projeto. Até táticas e estratégias pintavam, sem problemas. O papo só não fluía quando o freguês ou algum alienígena circulava por ali. Hoje tem muita teoria (acompanhada de muita prosa-ruim) sobre times auto-gerenciáveis. A gente aprendeu na prática. Sem querer.

Mas o "heavyload" não nos isentava das reuniões formais. Tinha pelo menos uma por semana (só do time). E outras duas ou mais com o freguês, também semanais.

Conclusões, Divagações e Créditos Finais

A prática "heavyload" existe em todo lugar. Já a repliquei com 'n' variações. Do "café carioquinha" (invenção quase tão sem noção quanto o café descafeinado) até o "heavyload" versão offner (mais gostoso e num local bem mais aconchegante). Tom Stewart, autor do livro "Capital Intelectual", já disse que os melhores equipamentos já criados para a gestão de conhecimentos são as máquinas de café e de refrigerantes. É verdade. E não tem sharepoint que dê jeito nisso. Ainda bem.

Um time bão compensa processos e tecnologias ruins. Não discuto. Mas tem gente usando isso de forma errada.

"Time auto-gerenciável" é uma forma de dizer que cada membro da equipe sabe o que fazer e ajuda (espontaneamente) aqueles que não sabem direito o que deve ser feito. Tem muita gente interpretando isso de forma errada.

Em momentos de crise, ainda não inventaram melhor remédio do que a franqueza. Quem "enche linguiça" no meio de uma crise só tá adiando o desastre.

Em tempos de crise, a única informação útil vem de quem está no centro da crise. Mas um retrato fiel só é possível se todos os envolvidos apresentam suas versões. Para quem? Oras, para todos os outros.

Fred Brooks** disse há mais de 30 anos que "jogar mais gente num projeto atrasado é a mesma coisa que tentar apagar incêndio com gasolina". No caso acima, em determinado momento, o time teve 14 integrantes. Aconteceu na mesma época em que eles estavam trabalhando 2 horas a mais por dia. A única coisa que conseguiram: aumentar a insatisfação e reduzir a produtividade e o nível de qualidade. No ápice da crise o time foi reduzido e as horas extras foram abolidas. Sem demagogia. Produtividade na nossa área, particularmente em desenvolvimento de sistemas, é bem diferente daquela estudada por Taylor e Ford.

.:.

Posso estar cometendo uma grave injustiça. Mas tenho quase certeza de que quem criou o termo "heavyload" foi o grande e sumido Carlos Caseli.

* "Recurso cocoon", tenho certeza, ouvi do grande e desaparecido Zé Antônio. Quem assistiu ao filme dos anos 80 vai entender a piadinha.

** A lei de Brooks apareceu pela primeira vez em "The Mythical Man-Month", de 1975.

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