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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
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Jonathan Schwartz, da Sun, disse em Sampa (no Sun Tech Days 2006), que o próximo Google pode nascer em Pindorama! "Desde que os desenvolvedores reforcem seus compromissos com a inovação e com o potencial dos softwares abertos". Há tempos espero uma deixa parecida.


Inovação e Criatividade


Questão de ordem. Para muitos as duas palavrinhas (buzzwords?) acima são sinônimos. Para o mestre Domenico De Masi não. São irmãs, mas não exprimem a mesma coisa. Criatividade significaria um "rápido salto qualitativo", enquanto Inovação indica a ocorrência de "lentas transformações quantitativas e os progressivos ajustamentos". Creio eu que o Schwartz quis enaltecer nossa fama de 'criativos', não de inovadores. Não importa, por enquanto. Mas tal distinção parece ser muito importante na definição da estrutura e dos processos que irão caracterizar uma empresa Criativa e/ou Inovadora.

Mas de onde vem nossa fama de 'criativos'? Vou surrupiar um trecho de "Criatividade e Grupos Criativos", do De Masi:

..."é cada vez mais provável que cresça a contribuição do mundo subdesenvolvido à criatividade do planeta. É verdade que no setor científico e técnico a criatividade requer grandes investimentos e grandes laboratórios bem organizados, dos quais os países pobres são carentes; mas também é verdade que estes últimos estão dando à humanidade incalculáveis contribuições criativas nos campos artístico, literário e lúdico. Pense-se no Brasil, com os seus poucos diplomas científicos e com os seus tantos romancistas, poetas, músicos, com seus carnavais e as suas estruturas turísticas."

O livro é de 2003. Parece que há mais de um século é esta a imagem que vendemos lá fora. São os nossos produtos. E não serão o nosso astronauta, o mapeamento do DNA da bactéria que causa a praga do amarelinho (Xylella fastidiosa) ou as nossas urnas eletrônicas que mudarão nosso prospecto. Sigo aqui com o debate que registrei há poucos dias. Confesso que estou forçando um pouquinho a barra, jogando no mesmo balaio o 'Google tupiniquim' e nossa capacidade de exportar software e serviços. Acredito que ambos compartilham 90% do caminho. E enfrentam praticamente os mesmos obstáculos.

Questiono muito nossa fama de 'criativos'. Nada a ver com os fantásticos Chico Buarque, Gil, Guimarães Rosa, Gláuber Rocha, Oscar Niemeyer, Jorge Amado, Milton Nascimento, Luis Fernando Carvalho e tantos outros. Nossa "Criatividade Artística" é inquestionável, goste-se do produto final ou não. Podemos dizer o mesmo de nossa "Criatividade Científica"? Não, apesar de alguns heróis. Podemos dizer que nosso mercado de TI, ou mais precisamente, da nossa indústria de software? Não, apesar de alguns (pouquíssimos) heróis. É chato reconhecer isso, principalmente se atentarmos para o fato de que nossa indústria (software) não depende tanto assim dos grandes investimentos e dos grandes laboratórios bem organizados colocados pelo De Masi. O Google nasceu em um dormitório de Stanford, usando máquinas ociosas do laboratório. O primeiro aporte de capital foi de apenas US$ 100 mil.

Concluímos então que o brasileiro não é criativo? Não, muito pelo contrário. O indivíduo brasileiro é, sem dúvida, um dos mais criativos de todo o mundo. A explicação eu deixo para psicólogos, sociólogos e afins. Mas o fato é que o brasileiro se vira. É um empreendedor nato. Com ou sem jeitinho. Lançando mão ou não de gambiarras e afins. Para o bem ou para o mal, o brasileiro cria, inventa, inova.

Então qual a razão da falta de criatividade de nossos mercados de software e Internet? O que dificulta a invenção do 'Google tupiniquim'?


Grupos Criativos

Nos faltam Organizações Criativas. Empresas ou entidades desenhadas para estimular a criatividade e a inovação. Não se trata de contratar 'gurus' e suas palestras 'motivacionais, inspiradoras'. O problema não está nos indíviduos mas sim na estrutura que os abriga e nos processos que os 'obriga' (...sorry, não ia desperdiçar o trocadilho).

Não é um problema ou desafio exclusivamente nosso, da indústria de software. Hoje todo mundo fala em Criatividade, Inovação. Seriam as armas para enfrentar e se diferenciar de uma concorrência rápida e brutal. Talvez sejam as mais efetivas formas de se agradar os clientes, cada vez mais exigentes. A criatividade não se apresenta apenas na forma de produtos ou serviços. Os processos e a própria estrutura da organização podem ou devem exilar criatividade e inovação. "Aquilo que é criativo deve criar a si mesmo", dizia John Keats.

Está aqui a barreira que impede tanto o nascimento do 'Google tupiniquim' quanto uma maior participação no mercado mundial de software e serviços de TI. Mas vamos por partes e começando pelos últimos.

Correr atrás dos indianos, copiando seus modelos e obtendo as mesmas certificações (CMMI e afins), é de eficácia duvidosa. No máximo nos deixará em condições de 'brigar por preço'. Mas sempre com um poder de fogo consideravelmente menor. Eles formam muito mais engenheiros que nós. São melhores? Não creio. Mais criativos? Acho que não. Mas nossa posição geográfica, o fuso horário e o número de profissionais com certificação do PMI, definitivamente, não são vantagens competitivas que preocupem minimamente nossos concorrentes do lado de lá. Quando o fuso fizer diferença, por exemplo, basta que uma Tata da vida implante uma fabriqueta por aqui. Simples assim.

Como coloquei em um post anterior (e na discussão que está devidamente persistida no grupo CMM-Brasil), carecemos de uma Identidade. De um conjunto de características que nos identifique de maneira inequívoca, direta. Tanto quanto o futebol, que é uma invenção inglesa, mas é naturalmente vinculado ao Brasil (potencial hexacampeão mundial). Não se cria uma identidade da noite para o dia. Mas parece que vivemos esperando que ela 'caia do céu'. Acho que o melhor caminho, nossa melhor pista, é exatamente a Criatividade. Mas precisamos aprender a deslocá-la dos campos 'artísticos, literários e lúdicos'. Ou, colocando de outra forma, precisamos pegar carona com nossos 'romancistas, músicos e carnavais'.

90% de nossas ofertas 'chovem no molhado'. Estamos cheios de sistemas de gestão (ERPs), gerenciadores de conteúdo e outros badulaques-commodities que só se diferenciam (positivamente) dos equivalentes gringos porque sabem falar português. Mas também se difereciam (negativamente) quando não oferecem APIs, quando usam tecnologia proprietária e, não raro, mal sabem falar inglês ou espanhol.

Precisamos renovar urgentemente nosso portfólio de soluções. E, para tanto, não basta apenas descobrir/inventar um 'Google tupiniquim'. Precisamos de mais, muito mais. Mas como empresas e entidades autônomas e separadas (física e virtualmente) podem construir uma 'identidade'? Compartilhando alguns princípios e objetivos. Em um cenário ideal, compartilham também alguns recursos e esforços.


[Break: não era a minha intenção, mas este post tá virando um grande artigo (no sentido de extenso mesmo). Como ainda tenho muito a escrever (a melhor parte, hehe), farei dele uma pequena série. Porisso vou parar por aqui, e prosseguir semana que vem. Sorry.]



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