"A Vida Digital", de Nicholas Negroponte, tá fazendo 10 anos. Mais um trechinho especial:
O Fax da Vida
"Se, 25 anos atrás, a comunidade dos cientistas da computação houvesse tentado predizer a percentagem dos novos textos que o computador é hoje capaz de ler, eles a teriam estimado em 80% ou 90%. Até por volta de 1980, eles podiam estar certos. Entra em cena, então, a máquina de fax."
"O fax é uma mácula grave na paisagem da informação, um passo atrás cujas consequências serão sentidas por muito tempo. Tal acusação parece um tapa na cara de um veículo de telecomunicação que aparentemente revolucionou a maneira pela qual conduzimos nossos negócios e, cada vez mais, nossa vida pessoal. Mas as pessoas não entendem o custo disso a longo prazo, as falhas no curto prazo e as alternativas."
"O fax é uma herança japonesa. Não pelo fato de eles terem sido inteligentes o bastante para padronizá-lo e fabricá-lo melhor do que ninguém, como ocorreu com os videocassetes, mas porque sua cultura, sua língua e seus hábitos empresariais são fortemente marcados pela imagem."
"Há apenas 10 anos, os negócios japoneses não eram conduzidos à base de documentos, mas a viva voz e, em geral, face a face. Poucos eram os empresários que possuíam secretárias, e toda a correspondência era com frequência escrita à mão. O equivalente japonês de uma máquina de escrever parecia-se mais com uma fotocompositora, ostentando um braço eletromecânico posicionado sobre um denso gabarito de escolhas para produzir um único ideograma kanji, de um total de mais de 60 mil."
"A natureza pictográfica do kanji tornou o fax natural. Uma vez que, à época, muito pouca coisa em língua japonesa possuía já forma legível pelo computador, poucas eram as desvantagens. Por outro lado, para as línguas simbólicas como o inglês, o fax constituiu nada menos que um desastre, em se tratando da legibilidade pelo computador."
"Com as 26 letras do alfabeto latino, os dez dígitos e um punhado de caracteres especiais, é muito mais natural para nós pensar em termos dos caracteres ASCII de 8 bits. O fax, porém, nos fez ignorar isso. Hoje, a maioria das cartas comerciais, para citar um exemplo, são preparadas num editor de textos, impressas e enviadas por fax. Pense nisso. Preparamos os nossos documentos num formato inteiramente legível pelo computador, tão legível que não nos custa nada mandar um corretor ortográfico examiná-los."
"Bom, e o que fazemos então? Imprimimos os documentos em papel timbrado, e eles perdem todas as propriedades do seu ser digital".
"Depois, pegamos esse pedaço de papel e colocamos no fax, onde ele é (re)digitalizado para uma imagem, perdendo as poucas características que ainda houvesse no papel - o tato, a cor, o timbre. O fax é despachado para seu destino, talvez um cesto de arame perto das máquinas de xerox. Se você está entre os receptores menos afortunados, vai lê-lo num papel pegajoso e de aparência cancerosa, por vezes não cortado, uma reminiscência de rolos antigos. Ora, faça-me o favor! Isso faz tanto sentido quanto enviarmos folhas de chás uns aos outros."
(Págs. 162 e 163 da 1a edição)
Estamos em 2005 e TODO MUNDO ainda usa fax. O imediatismo cria 'desastres' assim. O e-mail sofre de mal semelhante. É (mal) utilizado em muita coisa. Serve de 'band-aid' pra sistemas mal concebidos. Pior que e-mail só as planilhas eletrônicas.
O Graffiti mudou!
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