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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
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provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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Quanta ousadia... Em outros meios, outras épocas (?), esse tipo de coisa até que era chique. Mas acho que não combina com tempos de 'cada um por si e todos contra todos'. De qq maneira, o texto abaixo é sincero. E é realmente dirigido para o sucessor do Sr Emílio Umeoka, que no final do mês virará vice das operações da MS no sudeste asiático, cuidando d'uns 11 países.

O Sr. Umeoka, que antes de ser MS era da Compaq, não deixará saudades. Por um simples fato: esqueceu-se de um dos principais mandamentos do novo mundo globalizado: "Pense globalmente, aja localmente". Sob sua tutela a MS Brasil seguiu sendo só uma pálida cópia do quartel general em Redmond. Ele defendeu aqui, na realidade 'emergente' de Pindorama, uma filosofia que tem sido questionada até lá, na terra da exuberância irracional. Daí minha motivação para escrever esta mal lavrada carta (que tem tudo para ser ignorada) para o novo presidente, ainda não nomeado. Vamos lá:



Prezado(a) Sr(a) Futuro(a) Presidente da Microsoft Brasil,

O(a) Sr(a) vai assumir a presidência da subsidiária brasileira de uma das mais importantes empresas globais. Deve conviver, desde os seus primeiros dias no cargo, com uma forte pressão por vendas. Sabemos que algumas empresas igualmente globais cancelaram volumosos contratos de licenciamento nos últimos anos. A pressão será grande no sentido de reverter a tendência, mas entenda que o(a) Sr(a) não pode fazer quase nada. Não é um fenômeno específico de Pindorama, digo, Brasil. É só um reflexo de um conjunto de fatores: i) o longo prazo entre versões de seus produtos; ii) a maior penetração de produtos oriundos do universo do Software Livre; iii) o 'outsourcing selvagem'; etc. Trata-se de uma batalha que será disputada em outro front. Bem longe daqui. Resta-nos tomar um cafezinho, manter as aparências e os bons relacionamentos.

Mas existe aqui uma batalha que pode ser sua. Aliás, na minha humilde opinião, deveria ser sua. Redmond precisa entender que a realidade em um país 'emergente' é muito diferente da realidade de Seattle, Tokyo, Munique e Paris. Muito diferente. Vou dispensá-lo de ler aqui, pela enésima vez, dados e fatos econômicos e culturais que ilustram tamanha distância. Talvez caiba ressaltar apenas que a renda per capita nos EUA (US$ 43.555) é praticamente 10 (dez) vezes maior que a nossa (US$ 4.778).

Pois bem, na CompUSA, o Windows XP Home Edition (com SP2!) custa hoje US$199.99. O mesmíssimo produto, na Brasoftware, sai hoje por R$ 529,00 (ou US$ 242.10 - exatamente agora o dólar está cotado em R$ 2,185). O cidadão tupiniquim paga US$ 42,10 (ou R$ 92,01) a mais que o estadunidense! Vão falar de 'custo Brasil' (sic), impostos e outros nhenhenhéns. Não é esse o caso. O cidadão comum deveria poder comprar por uns R$ 49,99 (ou US$ 22,88) sua versão 'caseira' de Windows. É uma questão econômica, como magistralmente nos ensinou o Dr. Joaquim Falcão. A mesma lógica deveria ser aplicada no momento da precificação de outros produtos 'SOHO' (escritórios pequenos / caseiros), particularmente o Office e os produtos 'Small Business'. E, sinceramente, a versão para professores e estudantes deveria ser gratuita.

Caríssimo Sr(a) futuro presidente da MS Brasil, por favor, não me venha com o papo de que o tal 'Windows Starter Edition' (que neste espaço é chamado de 'Windows pra pobre') foi criado para atender essa 'lacuna'. Atrás dessa 'lacuna' tem gente. Gente que pode precisar abrir mais do que três janelinhas ao mesmo tempo. Gente que não é boba e vê no micro uma ferramenta maravilhosa para o estudo e para o trabalho. E para a diversão também, por que não? O 'Starter Edition' é uma afronta, um engano mais feio que o 'MS Bob'. O(a) Sr(a) bem que podia dizer isso em Redmond, não?

Mas não leve isso pra Redmond como um 'chororô' de pedinte. Venda o outro lado. Fale que se trata da melhor maneira de se combater a tal 'pirataria' em países emergentes. Mostre os dados sobre a escalada dos micros pessoais legais nos últimos 5 anos. Se o Sr William Gates III estiver por lá, fale pra ele que a doação de alguns sisteminhas para professores e estudantes é muito mais eficaz, no longo prazo, que boa parte das boas ações que ele patrocina.

Olhe para o lado pessoal também: o(a) Sr(a) pode ser o 'pai' de uma tendência. Garanto que se a MS mudar sua política de preços para países emergentes, imediatamente ela será seguida por IBM, SAP, Oracle, Symantec, Sony.

Afinal Sr(a) Presidente, leve uma voz Brasileira para Redmond. Mostre que nosso mercado é único em suas dificuldades e oportunidades. Aliás, por falar em oportunidades, aproveite a chance e traga algumas vagas de desenvolvimento para cá. IBM, Tata e várias outras grandes estão experimentando e gostando. Traga um pedacinho daquela generosa verba de P&D pra cá. Até incentivos fiscais pra isso existem! Será que estou pedindo demais? Acho que não. Toda relação 'nação x empresa' deveria ser assim. Repleta de trocas justas.

Sei que o(a) Sr(a) assumirá uma belíssima 'batata quente' tão logo entre naquele rápido elevador da torre norte como novo Presidente da MS Brasil. Se entrou é porque gosta e sabe lidar com desafios, não? Então jogue conosco que a gente torce pra ti. Troca justa!

Boa sorte.


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