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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
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O Graffiti mudou!

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Semana passada eu comentei brevemente que as táticas utilizadas para combater a pirataria, particularmente aquelas da MS, são um tiro no 3º ou 4º olho (não sei exatamente quantos a MS tem). Ontem a Folha publicou um excelente artigo do Dr. Joaquim Falcão, mestre em direito pela Universidade de Harvard e doutor pela Universidade de Genebra. Hoje ele é diretor da escola de direito da FGV-RJ e membro do Conselho Nacional de Justiça. Ou seja, alguém muito mais gabaritado que eu para falar sobre "legalidade". Não posso colocar um link aqui pq o artigo é exclusivo para assinantes (né dona Folha mesquinha?). Mas posso surrupiar alguns trechos. Saca só:


"O COMPUTADOR ilegal está morrendo. Em 2004, o Brasil caminhava para ser o campeão mundial de computadores ilegais: 74% de máquinas vendidas sem impostos, com peças contrabandeadas ou softwares irregulares. Alcançávamos a China, então em primeiro lugar. Hoje, a situação mudou. Merece comemoração e reflexão. O que fez com que o Brasil começasse a sair da ilegalidade na informática?

"Terá sido a maior efetividade da lei penal? Justiça mais ágil e juízes mais rigorosos? Mais repressão policial e fiscal, diminuindo os atrativos da ilegalidade? Ou a conscientização dos consumidores, intimidados por campanhas antipirataria com que países desenvolvidos inundam o Brasil e o mundo? Acredito que não. Mesmo se verdadeiros, são fatores secundários.
A ilegalidade -pode parecer paradoxal- não é problema de implementação legal, como setores públicos e privados querem fazer crer. Qual é, então, o fator decisivo provocador da ilegalidade? A resposta é a que, diz a lenda, Clinton teria dado a um assessor que perguntara qual o fator decisivo nas eleições: 'A economia, idiota!'.

"Nos últimos anos, a indústria conseguiu produzir um computador legal mais barato. Custa em média R$ 1.999, contra R$ 1.719 do computador ilegal. Diferença de apenas 14%. Junte a isso a queda de juros para financiamento do computador legal (1,9% ao mês), a redução dos impostos e a assistência técnica assegurada, e tudo se explica, como informa a 'Veja'.

"Em outras palavras: a ilegalidade resultava da incapacidade de as empresas produzirem, dentro da política financeira e tributária, computadores compatíveis com o nível de renda do consumidor. Não vinha da incapacidade de policiais, fiscais ou juízes ou do "jeitinho" e da "antiética" do brasileiro. Era a alternativa econômica à falta de oferta legal dentro dos limites dos consumidores. O que não se resolve na polícia ou na Justiça.

"Vejam, por exemplo, o que ocorre hoje no Brasil no mercado de música. As grandes gravadoras estrangeiras querem um milagre econômico. Em nome da ilegalidade, querem nos forçar a comprar um CD pelo preço médio no mercado americano US$ 10 a US$ 15, ou seja, R$ 20 a R$ 30. Incompatível com a renda do brasileiro.

"Querem também impedir o surgimento de produção alternativa que vende CDs a R$ 5 (preço compatível com a renda dos brasileiros). O que está em jogo é simples: as gravadoras não são suficientemente eficientes e inovadoras para produzir para a demanda do nosso mercado consumidor. Não é problema legal. Mesmo com repressão ideal, o mercado consumidor real não seria compatível com o preço do CD. Trata-se de inadequação entre oferta e demanda. Não se corrige aquela reprimindo-se esta.

"As grandes gravadoras reduzem o Brasil e sua música. Produzem só para a elite do Brasil. Produção de exclusão. E reprimem novos modelos de negócios voltados para o Brasil popular.
Essas gravadoras, que pagam ínfimo direito autoral, levam o governo a operações policiais, fiscais e ações judiciais para garantir seus excessivos custos, protegidas por leis que deveriam ser alteradas. Ocorre verdadeira transferência de custos: o governo gasta recursos públicos para garantir a produção fonográfica privada e excludente. Aliás, por pressão da indústria e do escritório de comércio dos EUA (USTR), o Brasil criou, no âmbito do Ministério da Justiça, o Comitê Nacional de Combate à Pirataria (CNCP). Dinheiro público para cobrir ineficiência privada estrangeira. De repente, a defesa da legalidade mostra outra face: pretende impor modelo de negócio juridicamente insustentável, por ser mercadologicamente inviável.

"Em recente conferência na Universidade de Yale, ficou claro que, em vez de campanhas publicitárias milionárias, ações policiais e judiciais e da permanente intimidação moral do consumidor, as empresas deveriam investir para reduzir custos, aumentar eficiência e adaptar seus modelos de produção à realidade dos países emergentes."




Que fique bem claro que "adaptar seus modelos de produção à realidade dos países emergentes" não significa colocar umas travinhas no Windows e ofertá-lo como um 'starter edition' ou, como eu chamo, um windows de pobre!

Sorte nossa que o tal mercado pode até tardar, mas sempre condena as empresas praticantes d'um capitalismo covarde, mesquinho e burrinho.

Mas, antes de encerrar eu queria reforçar uma msg do texto acima, particularmente para todos que vivem reclamando da quantidade de impostos que paga e da má aplicação dos recursos pelos governos: vc sabia que parte do seu suado dinheirinho tá ajudando MS, Warner, Sony, Universal e outras bilionárias a impor um modelo de negócio economicamente inviável?


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