Uma Ilha chamada Google
24 janeiro 2008Quando busquei uma imagem utilizando a combinação "google island" não esperava por algo tão literal. Não sei se os caras querem realmente uma ilha. Mas, valeu a coincidência (e a piada?). E a imagem. No entanto, "ilha" aqui é só uma metáfora.
Todo mundo começou a reparar que a crise na economia estadunidense é coisa séria. Até a Apple, no trimestre 'natalino', conseguiu mostrar números decepcionantes. E projeta um futuro próximo ainda mais desanimador (que combina com a decepção da MacWorld). Como nenhum dos diversos candidatos ao cargo máximo do mundo mostrou, até agora, um plano econômico fenomenal, não é difícil supor que os próximos 24 meses serão um tanto cinzentos na América do norte. Mas, numa pequena ilha, o céu deve permanecer azulão. O céu e os balanços da ilha Google.
Sim, as ações da Google não valem mais US$ 800. Despencaram para US$ 600, e devem cair um pouco mais até março. Sem romper a barreira (psicológica) dos US$ 500. A Google ensinará para seus compatriotas porque na China a palavra crise é traduzida como "problema+oportunidade" (wei-ji). Torcida? Não, só um pouco de lógica mesmo. (Obs: não tenho ações da Google. Quem dera!)
Em tempos bicudos, a publicidade ganha outro perfil. Campanhas institucionais em redes de TV perdem todo o sentido. As verbas dos diversos departamentos de marketing esmaecem e são mais fiscalizadas. Os "tiros" devem ser mais certeiros. E qual empresa está melhor posicionada para capturar essas escassas verbas?
Em 2008 a Google abrirá seu leque de opções para anunciantes. O Android deve estreiar em centenas de novos aparelhos celulares (aparelhos de baixo custo - o Android é gratuito). Aposto que ela lançará pacotes de anúncios especiais, com preços diferentes para cliques em páginas e acessos via dispositivos móveis. Pacotes que facilitarão a vida de agências e anunciantes. Tudo com um diferencial que faz todo sentido para os donos da grana: a possibilidade de rastrear cada centavo investido.
Cenário tão animador deve fazer a Google acelerar outras duas iniciativas: sua entrada definitiva no mundo das rádios e das redes de TV. A primeira é mais próxima e já foi testada em rádios da costa oeste. No mundo da televisão a coisa será um pouco mais lenta. Nada preocupante, dado o crescimento da audiência de uma de suas mais questionadas aquisições: o YouTube. Anunciantes tradicionais trocarão decadentes sitcoms e séries por um espacinho no YouTube. E ficarão muito satisfeitos.
Portanto, quando a MS estiver anunciando números decepcionantes ao término do ano fiscal de 2008 (em junho, se despedindo de Bill & Ballmer), a Google mostrará um considerável aumento de seu faturamento. Ações sobem, mais grana entra, mais investimento. Ciclo virtuoso em plena recessão. Em boa parte, por causa da recessão. Mas, principalmente por causa da estratégia que a empresa sustenta desde sua fundação, há pouco mais de uma década.
A Fortune acaba de anunciar que a Google é a melhor empresa para se trabalhar nos EUA. Funcionário satisfeito rende mais, certo? Resultado de outra política que a empresa sustenta praticamente desde a sua fundação. 99% dos seus 8 mil funcionários recebem bônus e opções de deixar muito CEO com água na boca. Fora os prêmios por criatividade. Fora o ambiente de trabalho que valoriza as pessoas. Sucesso não vem por acaso. Devemos estranhar é nossas empresas (tupiniquins) que, igualmente dependentes das pessoas, os tratam como PJ's e ainda querem ser felizes...
A Google tem 10% do número de funcionários da MS. Mas já tem metade do valor de mercado desta (que, por curiosidade, ficou em 86º lugar na lista da Fortune. Me surpreendi. Afinal, o quão bom deve ser trabalhar numa empresa que inventa o "fiscal de emoções"? Hehe.. assunto para outro post).
Na cultura estadunidense, quem não é um nítido "vencedor" gosta de ficar ao lado de vencedores - aparecer na foto. Como a Google será uma rara ilha, atrairá muitos aproveitadores. Alguns serão muito úteis, como grandes agências e veículos. Uma, que ontem apresentou números muito ruins, ganhará espaço especial no 'coraçãozinho' da Google: a Motorola. A outra decepção de ontem, a Apple, vai titubear. Mas não escapará de alguns passeios na ilha. Talvez, como prevê o Roberto X, passe a "alugar" parte da infra da ilha.
E o céu (e os balanços) da ilha ficarão ainda mais azuis...