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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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Quem diria que patentes e leões gerariam piadas? Há três meses rolou uma. Hoje pintou inspiração para outra. Como se eu não tivesse nada pra fazer. Mas, como dizia um velho VP, "SEXta é FODA"[1]. Vamos lá:

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Num futuro não muito distante, tá lá o molequinho na frente do micro. Para desgosto dos pais, ele passa dias e noites ali. Olhos vidrados, bebericando Purple Cow[2], levando seu avatar para passear nos maravilhosos cabarés romenos da Life 3.0. Há três meses tenta encontrar o avatar da Anya, uma garota de programas virtuais que é um remix de Angelina Jolie (boca), Jennifer Connelly (olhos e cérebro) e Camila Pitanga (todo o resto).

Purple Cow, que a massa gosta de chamar de "drink da vacaloca", é uma mistura de café ultraforte com pinga extralight, ambos de Varginha. É exportado para todo o mundo. Ambientalistas reclamam do nome e questionam a fórmula: dizem que tem algumas gotas de "tesão de vaca", um tipo de hormônio usado por veterinários para combater a mansidão bovina. O fato é que basta uma latinha de 250ml para o cara ficar 10 dias ligadão... sem um pingo de sono. Combinação perfeita para a agitada e insone Life 3.0.

João, o molequinho, tá perto de encontrar Anya. Recebeu uma dica valiosa de um cafetão virtual búlgaro: "siga o coelhinho branco". Cansado de escutar "Anya" (um instrumental do Deep Purple), nosso herói coloca uma versão remixada de "Future Days" (Can, 1973) para tocar. "Kraftwerk é para principiantes", ele dizia. Seu avatar, MC Selim [3], é ultracool. Um coelho branco. Seguir o coelho branco.

De repente, sua mãe entra em prantos em seu quarto. João detesta quando entram sem avisar, mas não teve tempo para reclamar. Sua mãe dizia, chorosa: "A polícia federal tá aí na porta, vieram te prender". Ela mal terminou a frase e João já estava devidamente imobilizado pela algema-gargantilha. Totalmente imobilizado, foi levado para o camburão por dois 'polícia'. Só no interior da Fiorino 98 um policial apertou um botãozinho da gargantilha que liberava a fala. João foi logo dizendo: "Pô mano, que foi que eu fiz?"

"Mano é o senhor seu irmão. Aliás, foi ele quem confirmou: o senhor é um usuário de Linux, certo?"

"Linux?!? Eu... não... eu adoro o..."

"Tudo o que você disser será usado contra tu memo, sacô? Seguinte: não sou preconceituoso, compreendo tua pobreza, mas... você tá ferrado mano. Usar o Linux sem o cupom é crime federal e global. Tu tá ferrado mermão". O guarda falou travando novamente a gargantilha. Queria uma viagem tranquila até o DP.

O delegado, no DP tragando um Derby, foi logo dizendo: "Prezado João, pois é, tu tá ferrado mermão. Olha, não sou preconceituoso, fico sensibilizado com sua lamentável situação financeira, mas... tu tá ferrado mano. Linux sem cupom?!? tsc, tsc..."

João: "Mas... cara. Veja bem, foi um deslize. Eu juro, nunca mais vou fazer isso. Se você me liberar agora eu juro que paro na primeira banca e compro uns cupons pré-pagos, de 2 horas... E prometo que vou fazer uma poupancinha pra comprar o Vistoso 4.0... eu quero tá dentro da lei e...". Pfiu... gargantilha travada novamente. João foi atirado numa cela com outros 57 violadores da lei global de patentes de software. No cantinho, ao lado do vaso sanitário, dois piratas jurássicos: usuários do eJumento que ainda baixavam músicas e filmes pela internet. No caso deles será pena de morte, todo mundo sabe. Mas e o João? Qual seria seu julgamento?

Três anos, dez meses e vinte e sete dias depois, João foi levado para a sala de tele-julgamento. Passara esse tempo todo numa prisão de segurança máxima, numa solitária. Sem suas doses regulares de Purple Cow, chegava a dormir por 46 dias sem parar. Olhos marcados por sono e choro, encara o tribunal naquela bela telona de 103 polegadas. Seu advogado, nomeado pelo juiz, tá lá também, ao lado do júri. Fazendo tchauzinho. João estremece e o juiz começa a falar:

"Olha João, tenho outros mil e cinquenta e nove casos para julgar ainda hoje de manhã. Então vou direto ao ponto, ok? Seguinte: não sou preconceituoso e vivo comovido pela lástima situação de vocês miseráveis. Mas Linux sem cupom é o fim da picada, né? O desrespeito pela lei global de patentes de software não tem desculpa não: pena de morte!"

João não pôde se manifestar - a gargantilha travava tudo. Menos o **, que deu aquela apertada. Seu advogado só deu outro tchauzinho, com cara de piedade. João foi imediatamente levado para a arena de execuções.

Maracanã lotado. O cartaz prometia mais de mil execuções naquela tarde, a maioria inspirada nas inspiradas obras do mestre Tarantino [4]. João era o último da fila. E assistia, quase conformado, aquele desfile de atrocidades que passava ao seu lado: pedaços de corpos, espadas ninja cheias de sangue e orelhas, muitas orelhas. Seu personal-carrasco tinha a instrução de ouvir um último pedido e liberou a gargantilha. Mal João começou a chorar e o carrasco disse:

"Olha João, num sô preconceituoso e, como tu, vivo na merda. Mas nem por isso eu vou usar Linux sem cupom, né mané? Tu tá fudido mermo". Encerrou a frase arrastando nosso combalido herói para o meio do campo. No caminho o carrasco tratou de explicar: "Seguinte, esgotamos todo o estoque de Tarantino. Fizemos uma enquete pela Internet e a maioria votou na opção ROMA. Acho que é porque tem que digitar menos. Ou então é sadismo mermo... sei lá... mas eu curto a ROMA porque não sobra muita coisa para limpar no campo..."

João: "ROMA?...". Carrasco: "Pois é... acho que é sardosismo do pessoal. Roma antiga, saca? Aquele lance de leão?"

João é levado para o meio do campo. O carrasco remove a gargantilha (ela deve ser reutilizada) e enterra João numa cova. Só o pescoço e a cabeça ficam para fora. João não sabe se grita ou chora, enquanto vê a multidão da arquibancada gritar: "lê leu... lê leu... usou linux sem cupom e se (pim)". Como o evento está sendo transmitido ao vivo, o sensor de palavrão é ativado no próprio estádio. Toda hora: "pim". Mas a multidão não tava nem aí. E urra de alegria quando vê, saindo do vestiário, um imenso leão.

O leão tem pressa porque este post tá ficando grande demais. E corre em direção da cabecinha do João, com a bocarra aberta. Ele saliva e não pisca. João vê toda a sua Life 3.0 passar em questão de segundos. Se lembra da Anya e deixa cair aquela que deve ser sua última lágrima.

Acontece que o gramado do Maraca já estava em estado deplorável por causa das outras 999 execuções e do show religioso que tinha acontecido na noite anterior. E quando o Leão tentou brecar, deu uma derrapada de um metro. Sua boca passou raspando pela cabecinha do João. Sua genitália ficou colada na boca do João. Nosso herói não pensou duas vezes: tascou-lhe uma mordida não imaginada nem mesmo pelo Tarantino. O leão uivou de dor. E a galera das arquibancadas e das numeradas não se segurou:

"Pô pirata filho da (piimm)... vê se joga limpo!!!"


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  1. Pensou que era sacanagem, né?
  2. Homenagem ao Seth Godin.
  3. Homenagem ao Miles Davis.
  4. Detesto Tarantino.

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