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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
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O Bug 'Blatella Germânica'


A história se passa lá pelos idos de 86. A sede da empresa onde eu fazia um estágio ficava em frente à antiga estação ferroviária da cidade. Uma "boca do lixo" informal - esquecida e não reconhecida como tal. Era a única empresa de informática da cidade. Tinha algo de excêntrico naquele contraste.

A unidade que gerava e administrava a grana de verdade ficava três portas de metal para a esquerda. A área de informática ficava escondida atrás do mostruário de móveis para escritórios. A porta de ferro do lado direito, na esquina, dava acesso ao "Buteco". A empresa de informática já se foi. O "Buteco" tá lá até hoje.

Era uma tarde quente de veranico. Todo mundo da loja estava na rua, em atividades externas (em filas de bancos ou atrás de fregueses e/ou maus pagadores). Na loja só os dois "programadores" da empresa: Cláudio - o sênior, e eu - o estagiário. Ele numa máquina CP/M (Sisco?), eu num Apple II clonado pela CCE. Com placa Z80 (CP/M), obviamente. Um de costas para o outro, preservando o silêncio que só era quebrado por uma gargalhada ou outra que saía do "Buteco".

Entre nós dois, encostada numa divisória fajuta, estava uma velha impressora Elgin (100 CPS?). Ela não estava conectada em nenhum micro. Provalmente estava lá para 'manutenção preventiva'. Ou então era troco de algum 'upgrade' ("Impressora é Elebra, o resto é lixo", dizia o vendedor).

Provavelmente eu estava brigando com um algoritmo maluco que deveria dizer para um engenheiro agrônomo igualmente maluco quantos pés de eucalipto cabiam em determinada área. Meu chefe maluco sugeriu que o código fosse escrito em Assembly. "Do Motorola 6502 ou do Z80?", era a única dúvida do destemido estagiário. Concentração total quando, de repente, aquela velha Elgin começou a imprimir. Com sua esforçada velocidade de 100 caracteres por segundo!

Levamos um susto. Tava realmente tudo muito quieto até aquele momento. Cláudio me encarou acusando. Revidei com um olhar de destemido estagiário assustado. A impressora parou. Voltamos ao nosso trabalho. Dois minutos depois a Elgin começa de novo. Desta vez Cláudio solta a raiva da concentração interrompida: "Pô, não é hora de brincadeira!". Eu não estava brincando. Pelo jeito, ele também não.

Mas, assim como começou a impressora parou. Para recomeçar o 'auto-teste' dois minutos depois. Agora com ambos se fiscalizando. "Caramba, o que está acontecendo?". Lógico que naquele instante nos lembramos dos 'causos' de fantasmas que rondavam aquela região podre da cidade. Mas fantasmas aparecem em tardes quentes de veranico?

Três horas depois o nosso técnico-curinga operador de rádios piratas voltou na sua TT poluidora. Talvez estivesse na fila d'algum banco. A Elgin já estava desconectada da tomada. Meia hora de impressões assombradas fora suficiente para decisão tão drástica: desligar a energia de uma impressora que não servia para nada. Contamos a história para o Rogério, em tom dramático e assustado. Ele só dava gargalhadas, incrédulo. Resolveu ligar a impressora de novo. Ela não nos decepcionou e disparou outro 'auto-teste' que, como todos os outros, durou cerca de dois minutos. Agora o super-técnico estava assustado também.

Desconectou a Elgin da tomada, armou-se com uma chave de fenda, respirou fundo e resolveu fazer uma autópsia.

Laudo: uma "Blatella germânica", uma barata que gosta de ambientes quentes, estava passeando na barriga da Elgin. O circuito (trajeto) durava cerca de dois minutos. A cada volta ela 'pisava' no dispositivo que disparava o 'auto-teste'.

A Blatella foi devidamente exterminada por um jato de freon.


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Há tempos ensaio colocar uma seção de 'causos' aqui no Graffiti. O "A-Lô-Hi Tech" nasceu com a história do cachorro RFID. Agora "A-Lô-Hi Tech" virou série e tag no Del.icio.us. Quem tiver boas histórias de nossas ciências de baixas e altas tecnologias e quiser vê-las por aqui, é só mandar!


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