Quem acompanha o Graffiti há algum tempo sabe que um dos meus exercícios prediletos é 'descer a mão' na revista InfoCorporate, da Editora Abril. Detonei particularmente os artigos sobre "Como Vender Projetos" e "SOA". Como se trata de uma das únicas publicações que tratam TI no mundo corporativo aqui de Pindorama, vc não pode simplesmente ignorá-la. Mas que surpresa agradável tive quando li a última edição.
A matéria de capa, "Como Extrair Mais Valor das Consultorias", escrita por Eduardo Vieira, é muito boa. Ouviu os dois lados da moeda, CIOs e Vendedores de Consultores, com isenção. E extraiu depoimentos e dicas muito valiosos pra todo mundo que vive de TI. [Agora o chato: bem que depois de um tempo nas bancas a revista podia abrir o conteúdo na web, né? - Fico sempre devendo um link. Mesquinharia boba...]
O artigo acaba traçando um retrato legal do nosso mercado, navegando pelos principais problemas que existem no relacionamento dos CIOs com as Consultorias. Listinha default: Preço; Continuidade dos Projetos; Gestão da Equipe Interna e da Consultoria; Cumprimento de Prazos; e Idoneidade da Empresa Contratada. Só tudo isso.
De cara uma verdade mal percebida: "Há uma incrível confusão de conceitos. A oferta de serviços de TI aumentou brutalmente, o que deturpa o conceito de consultoria". Não é o julgamento de um CIO e sim de Alfredo Pinheiro, que é country manager da Compass, consultoria inglesa. Ele arremata: "Estão procurando um sapato de cromo alemão no comércio popular do Largo Treze". Ufs...
Karman, CIO do ABN/Real, também não deixou barato: "Costumo dizer que, na maioria das vezes, a coisa mais cara que você pode ter é um consultor barato". E faz um mea culpa pouco comum: "Muitas vezes a maioria dos problemas está do nosso lado. Cabe ao pessoal de TI utilizar bem ou mal as consultorias. A maior parte de culpa nos erros é dos CIOs, que as usam como muletas". Vsh...
Letícia Costa, da Booz Allen Hamilton, dá a dica de onde pode estar a origem da maioria dos problemas: "Às vezes, por múltiplas pressões que as empresas sofrem, as consultorias embarcam numa situação difícil: o cliente quer tudo para amanhã e o provedor de serviços acaba aceitando coisas que ele não consegue dar conta de fazer". Quase na 'mosca'! Explico: i) É Quase Sempre - e não "às vezes"; e, ii) É para "Ontem" - e não "amanhã".
O trecho final do artigo, com um CIO descrevendo o "Consultor Ideal" e um Consultor traçando (ops!) o perfil (ah) do "Cliente Ideal" merece nota 10. O jogo ficou por conta de José Luiz Gonçalo da Johnson's e Sergio Lozinsky da IBM.
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Interpretação (pouco isenta) do retrato dos consultores traçados (de novo!) pela reportagem: com todo mundo oferecendo de tudo para todo mundo, aceitando tudo quanto é tipo de condição a qq preço... separar o joio do trigo ficou complicado. E, como no Brasileirão 2005, tá (quase) todo mundo nivelado: por baixo.
Agora, separar o "pão de forma" deveria ser mais fácil né?
Quadrado + Casca Dura + Miolo Mole... só não vê quem não quer.
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Um complemento legal para o artigo da InfoCorporate é esta entrevista que JP Rangaswami, CIO do Dresdner Kleinwort Wasserstein, deu para a Silicon.com. Indo direto para o melhor momento:
"I am concerned at one of the trends to say, 'I am not IT, I am the business'. We have reached a stage where people don't want to join IT as a discipline in universities in the west. If I walk around saying 'IT is not important', why should a kid join Imperial College to do a computer sciences degree?" he says.
Instead he says the industry needs to energise already tech-savvy youngsters from an early school age about the exciting challenges around open source, identity and information. And it is information that he says is the most important part of being CIO.
"The CIO of today has to have a real understanding of how information is an asset and how that asset is managed and grows, and the role of human capital in that. That means soft leadership skills are more important than pure data processing management," he says.
Trata-se de um CIO que cortou metade de sua organização (1000 lugares) logo que assumiu a cadeira. É sério! Mas ele fala que só cortou os consultores que "don't see any of my business anymore".
O Graffiti mudou!
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O pior é que tem gente que acha que joio e trigo é mesma coisa, já ouvi coisas como: "programação é o de menos, a tendência de um bom analista é se preocupar com o business", como se programação hoje fosse a coisa mais banal do mundo (é só move e goto mesmo...).
Anônimo
8/15/2005 7:16 PM
É a moda, né Gabriel? De repente tudo é biz. [T]ecnologia e [I]nformação são 'commodities', certo?
Vamos ver onde a coisa vai parar se a onda durar muito...
Paulo Vasconcellos
8/16/2005 9:01 AM