A penúltima EXAME (11/mar), no artigo "A Crise não é igual para todos", confirma o que foi antecipado aqui no Graffiti: a Crise (assim mesmo, com "C" maiúsculo) pega mais pesado em TI. Foi o setor que mais encolheu no 4º trimestre de 2008, acachapantes 24,9% de retração. Pior é a sensação de que este ainda não é o fundo do poço.
Sei nada de economia. Aliás, sei nada de nada. Mas, como Rosa, mineiramente desconfio de muita coisa. Desconfio, por exemplo, que essa dinheirama gasta por governos do mundo todo surtirá pouco ou nenhum efeito. O buraco é mais embaixo. E o propalado "senso de urgência" engana pacas e vacas.
Não existe qualquer empresa responsável (ou família diligente) que se disponha a gastar dinheiro e recursos do modo como faz o governo quando diante de uma "emergência". O urgente não é uma desculpa. Na verdade, o urgente é geralmente um indiciamento - um sinal seguro de que as coisas importantes estão sendo adiadas até que a situação esteja fora de controle.
- Seth Godin, em "Existem duas maneiras de se pegar um avião" [1].
Falam sobre problemas de crédito. Oras, onde foi parar toda a grana gerada no tempo das vacas gordas? Falando especificamente de TI há uma certeza absoluta: houve e continua existindo muito desperdício. As estruturas de TI, apesar de continuarem atendendo muito mal o tal 'negócio', estão em sua grande maioria superdimensionadas. Encobrimos a deficiência de nossos algoritmos e sistemas com muita memória, disco e poder de processamento.
Mas não é só isso. Basta dar uma levantadinha nos tapetes que conhecemos como "fábricas de software" e terceirizações afin$ para vermos quanta coisa foi varrida para ali por pura incompetência. E preguiça.
Mas a Crise é muito maior e TI vai pagar pelo que fez e, principalmente, pelo que deixou de fazer.
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Falei ali em cima que "o buraco é mais embaixo". Onde? Seguirei com o não-economista Seth Godin:
As grandes empresas estão fundamentalmente falidas.
[...] O mercado de ações está falido há tanto tempo quanto as grandes empresas. O mercado de ações é um enorme engodo de psicologia de massa, dependente da ficção de que haverá sempre alguém mais estúpido do que você querendo comprar suas ações por mais do que você acabou de pagar.
[...] O fundo do poço que estamos vivendo é uma consequência direta do fato que essas duas questões estão se tornando cada vez mais claras precisamente no mesmo momento.
Quer saber porque as grandes empresas estão "fundamentalmente falidas"? Já assistiu "
The Corporation", documentário de Mark Achbar, Jannifer Abbott e Joel Bakan? Ele é "antigo", de 2004. Mas cada vez mais atual. Basta ver o escândalo dos bônus da AIG, debatido e combatido nas últimas semanas. Mas não espere respostas aqui. Só perguntas e provocações. Muitas provocações.
Nem o filme nem os trechos surrupiados do Seth tratam da crise atual. Mas explicam, sim, suas raízes. Engana-se quem pensa que a origem está nos bancos e seus mágicos e complexos derivativos. Isso aí foi só a gota d'água. A Crise é sistêmica. E é global.
Acontece que, preocupados com o "urgente", corremos o risco de perder a melhor (única?) oportunidade para debater as questões fundamentais. Hey, não pense que essa responsa é só para Obamas, Lulas e ministros da fazenda. Somos todos parte do problema. Podemos fazer parte da solução.
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- Trechos surrupiados do Seth não vieram de seu blog, e sim de "O Futuro não é Mais o Mesmo" (Small is the New Big), lançado por aqui pela Campus em 2007. Trata-se de uma coletânea de posts, artigos e e-books. Um jeito jóia de navegar por 6 anos de criação deste cara diferente.