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Graffiti \Graf*fi"ti\, s.m.
desenhos ou palavras feitos
em locais públicos. 
Aqui eles têm a intenção de 
provocar papos sobre TI e afins.

O Graffiti mudou!

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Fiquei sabendo no Buteco do Alessandro Almeida que os capítulos brasileiros do PMI acabaram de publicar o "Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos Brasil 2007" (opção Benchmarking GP - É gratuito mas requer registro). Vivo reclamando mais e melhores estudos deste tipo aqui em Pindorama. Vivo ignorando que o PMI.br, através de voluntários, elabora este desde 2003. Ele é muito genérico e a população amostral é muito pequena, mas é melhor do que nada.


184 empresas toparam participar deste tipo de 'biópsia'. São das mais diversas áreas e o estudo cobre projetos de qualquer natureza. O relatório, com dois anexos, merece mais tempo de análise. São mais de 300 páginas, centenas de gráficos. Mas eu busquei alguns pontos para ter uma noção geral de como estamos e para onde vamos quando o tema é o gerenciamento de projetos.

Sumário executivo: quando o retrato não é feio nem hilário, é deveras curioso. Se apenas o supra-sumo da gestão de projetos participou do estudo, não há dúvidas de que o buraco está milhas abaixo. Claro, há outra forma de ler os números. Muitos falarão: "estamos evoluindo!". Me apego ao lado negativo para mostrar que podemos avançar bem mais e mais rapidamente. Se começarmos do básico!

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No apanhado geral os números de sempre, bem próximos daqueles que pintam no Chaos Report (que trata só de projetos de software):
  • 78% dos projetos atrasam;
  • 64% estouram os orçamentos;
  • 44% apresentam problemas de qualidade; mas só (!?)
  • 39% dos clientes reclamam.
Entre os principais problemas apontados, os suspeitos de sempre:
  • 62% de mudanças no escopo;
  • 60% de escopo mal definido.
A estranheza começa quando comparamos os números acima com outros dados. Por exemplo, quando o estudo pergunta quais foram os benefícios obtidos com a implantação de práticas de gerenciamento de projetos:
  • 81% dos pesquisados diz ser um "maior comprometimento com os objetivos e resultados"; enquanto
  • 72% aponta uma melhoria na qualidade dos resultados.
Traduzindo: a coisa conseguia ser ainda mais feia? Pelo jeito, sim.

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Alinhamento estratégico é minha obsessão de cabeceira há algum tempo. Então mergulhei um pouco mais na porção "estratégica" do relatório. 18% das empresas pesquisadas dizem ter seus projetos "sempre alinhados ao planejamento estratégico da organização". Outras 48% juram que "quase sempre" se alinham - mas têm "genuína preocupação" com isso. Deu 66%, certo?

Pois bem, acontece que 55% das empresas falaram que "não há um processo estruturado para seleção de projetos". Pior, em 66% não há um "processo estruturado para a priorização de projetos". Traduzindo: tem 21% de respondentes que conseguem "genuinamente" buscar o alinhamento sem saber ao certo quais projetos são necessários e quando. Vão na base da sorte, do 'achômetro' ou da 'força política' de determinado diretor?

Finalizando a parte 'genérica', uma curiosidade: em 28% das empresas é a área de TI que mais utiliza o gerenciamento de projetos. Normal. 11% engenharia - pouco. Mas o que chama a atenção é a área de marketing: só 6%? Estranho porque quase tudo em marketing pode ser visto e administrado como projeto. Porque tamanha distância? Será falta de conhecimento ou resistência? Bem que alguém podia tentar descobrir.

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Um dos anexos do estudo mostra os resultados por setor. Claro, degustei um pouco os números específicos de TI e Telco. Das 184 empresas consultadas, 58 (32%) são de TI. Outras 7 (4%) de telecomunicações. Aqui alguns "indicadores" pioram consideravelmente:
  • 82% dos projetos de TI atrasam; em Telco é pior
  • 88% de "problemas com prazos";
  • 66% dos projetos de TI têm problemas com o orçamento;
  • 88% dos projetos de Telco estouram orçamentos.
  • 46% dos projetos de empresas de TI apresentam problemas com a qualidade, o que gera 41% de insatisfação dos clientes.
  • 75% dos projetos de empresas de telecomunicações falham na qualidade - 63% dos clientes reclamam.
Problemas com definição de escopo e mudanças também ganham números bem acima da média, algo entre 81% e 86%. A única diferença, bastante perceptível, é o aspecto "mudança de escopo" em telecomunicações: só 7%. O que, de certa forma, piora ainda mais os números acima - a percepção que temos deles.

Usando uma lupa (literalmente - a qualidade de alguns gráficos do estudo é muito ruim) podemos perceber algumas causas para os efeitos listados acima.

Só metade das empresas de TI utilizam uma metodologia "de fato". Tratamos aqui de metodologias para gerenciamento de projetos. Curioso, não? Em Telco é mais assustador: só 1/4 das empresas empregam uma "de fato".

Riscos? Em TI, só 33% dos pesquisados dizem possuir uma "metodologia formal". Minha tradução: daquela metade que diz ter uma "metodologia", em 17% a "metodologia" é cambeta. Como se gerencia projetos sem gerenciar riscos? Ufs... Uma justificativa torta aparece no mesmo relatório: para muitas empresas, gerenciar projetos é gerenciar escopo e prazos. Só!

Quando a pesquisa vai para o lado "pessoal", outras possíveis causas pulam como pipoca. Nas empresas de TI a qualidade mais valorizada em um gerente de projetos é a Liderança. Em Telco, a Atitude! 0%, ZERO empresas citaram "trabalho em equipe". Assusta que em ambos os setores problemas de comunicação apareçam em 86% das empresas? Claro que não.

Mas não se preocupem: 86% (TI) e 88% (Telco) da alta administração "percebe claramente os benefícios obtidos com o gerenciamento de projetos".

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O estudo é bom, necessário. Uma iniciativa louvável. O grande problema agora está com a qualidade das respostas. Há muita incoerência. Se uma parte é fruto direto de nossa falta de maturidade, outra não pode ser explicada de outra forma: teve gente "dourando a pílula", "puxando sardinha", dizendo não-verdades. Se em 0% das empresas de Telco há processos para seleção e priorização de projetos, como 12% delas podem ter um PMO com o nível 4 de maturidade?

É tanta coisa a ser feita que assusta. Não gosto de falar do PMI mas vai aqui uma dica / provocação: os números respingam aí. Que tal desviar um pouco os olhos do umbigo-certificação e começar a se preocupar com números tão ruins? Que tal colocar algumas metas, principalmente para aquelas entidades que valorizam tanto sua certificação? Uma última, bem legal: que tal, na próxima edição, nos mostrar os números das empresas que contam com profissionais certificados em separado? Assim fica mais fácil justificar sua existência, não?

Ao resto do mundo: valorizemos o básico. Esqueçamos, por enquanto, ferramentas, PMO's, OPM's, BSC's. Nada disso gera resultado sem uma forte cultura de projetos. E cultura nenhuma nasce com "nível 3 de maturidade". Vamos valorizar o básico. Vamos falar de escopo e mudanças, riscos, comunicação e trabalho em equipe. Depois a gente viaja. Agora é hora de pé no chão e trabalho sério.

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