Teoria: EXAME #960 (27/jan/2010)
Marcel Telles, um dos controladores da Inbev, lê "Dobre seus Lucros - 78 Maneiras de Reduzir Custos, Aumentar Vendas...", de Bob Fifer, a cada dois anos. A 'máxima' número 1 destacada no artigo é: "Corte primeiro e pergunte depois... Se você reduzir demais, sempre terá chances de corrigir o erro. Gaste muito e aquele dinheiro terá sido perdido para sempre".
Prática: EXAME #962 (24/fev/2010)
A Inbev é matéria de capa: "Estilo brasileiro na maior cervejaria do mundo". O artigo, de Tiago Lethbridge, tem 10 páginas! Como prometido na chamada de capa, mostra com detalhes "os bastidores da gestão dos brasileiros da InBev na Anheuser-Busch, um ícone dos americanos".
O tal estilo brasileiro, aplicado por Carlos Brito, é resumido num belo gráfico que ocupa as páginas 28 e 29. Principais destaques:
- Compra da Anheuser-Busch por US$ 52 bi.
A InBev teve que pegar US$ 45 bi emprestados. - Um mês depois da aquisição, em dezembro de 2008, 1400 funcionários são demitidos.
- Jan/2010: As vendas caem 12,2%.
- Aumento de 5% no preço das cervejas.
- Em nov/2009 os custos "cortados" já somavam US$ 875 milhões.
- Antes, no mesmo ano, vendeu subsidiária coreana e participação numa cervejaria chinesa. Conseguiu algo em torno de US$ 2,4 bi.
Uma das metas da alta direção é o corte de US$ 1 bilhão em custos. A recompensa a ser compartilhada por 40 executivos é paga na forma de ações. Alguns analistas acreditam que os executivos podem ganhar até US$ 2 bilhões. Isso mesmo, dois bilhões de dólares. Só Carlos Brito, o principal responsável pela operação, ficaria com US$ 200 milhões.
A InBev fez inimigos em toda a cidade e em todo o país. Destruiu ícones e costumes como se eles não fossem nada. Depreciou o patrimônio e se desfez de negócios em lugares (China!) tidos como estratégicos para quase todo mundo. E ainda pode pagar 2 dólares para cada dólar economizado. Eu sei, contabilmente são granas diferentes. A ação é, de certa forma, uma grana 'de mentirinha'. Mas que pode ser convertida em grana real em questão de milésimos de segundos, independente da contrapartida.
Eu só não entendi a conclusão do artigo:
A cultura de gestão dos brasileiros da ABInBev nasceu em Wall Street, deu a volta ao mundo e veio parar nos Estados Unidos - mas chegou num momento em que o sucesso está totalmente fora de moda.
Sucesso?!?
Resta torcer para que não seja este realmente o "estilo brasileiro de gestão" que estamos exportando. De brasileiro ele não tem nada. Essa maldade tão século XX tem outras origens, como as matérias citadas bem mostram. Aliás, o princípio #1 citado no início do artigo é equivocado: nem sempre é possível corrigir cortes mal feitos. Aliás, quase nunca é.
Essa notícia pra mim vem no mesmo balaio que a da Toyota. Não me importo em ver o sagrado "nome do brazil" nesse meio. Me desagrada ver tanto trabalho e potencial em torno de um trabalho que sintoniza com as novas (não tão novas assim) tendências.
Parece até que voltamos a acreditar que pessoas são números. Que bom que eu ainda não caí nessa. Continuarei fazendo a minha parte.
Agradeço a notícia e lição aprendida.
Fabricio Buzeto
3/01/2010 3:45 PM